sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Gente que gosta de sofrer


Fui preencher um cadastro num lugar aí e a moça perguntou minha altura, idade e, em seguida, a profissão. "Jornalista", respondi. Ela me olhou durante um tempo e veio a pergunta: "É legal ser jornalista? Porque essa é uma das minhas opções no vestibular".
Em um milésimo de segundo fiz uma retrospectiva de meus primeiros 15 anos na profissão. Pensei nos mais de dez anos em que não jantei antes da meia-noite, nas tardes de sábado e domingo em plantões tomando café frio na redação e esperando uma desgraça acontecer, em todas as fotos de festas de família em que não apareço, nas viagens que não fiz, e respondi: "Olha, é uma profissão sofrida, viu?".
Ela virou e disse: "Mas é legal quando você pode mostrar suas ideias pra todo mundo, não é?". Eu respondi: "Sim, esse lado é legal, é gratificante. Mas, em geral, a gente é maltratado pelas pessoas e pode esquecer finais de semana, feriados, tudo isso aí".
Aí veio sua cartada final: "Ha, não é tão ruim assim, é?".
Não adianta. Ela está decidida. Jornalista é um bicho teimoso mesmo. E até um pouco sadomasoquista, desconfio. Boa sorte, moça.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Olhar amplificado

George Harrison, ex-guitarrista dos Beatles, morto em 2001

É incrível como já faz quase 12 anos que George Harrison morreu. Às vezes parece que foi menos e, algumas vezes, a impressão é de ter passado mais tempo, tal é o estado de calamidade da música de hoje em dia.
Lembro quando ele lançou Cloud Nine, em 1987, e eu li uma resenha sobre o disco na Folha de São Paulo (naquela época resenhas musicais não eram exclusividade da internet, ao contrário de hoje, aliás, nem existia internet). O autor dizia que George estava olhando para o passado com mais carinho, após alguns problemas que ocorreram nos anos finais dos Beatles. Pela primeira vez, na carreira solo, ele se referia diretamente aos seus anos de beatle, na canção When We Was Fab.
Hoje vejo que 26 anos se passaram desde que li aquela resenha, além dos quase 12 desde a morte de George. Caras como ele fazem falta no mundo. Quando Paul McCartney morrer, por exemplo, ficarei muito triste. Não só por ser um cara que me deu o prazer de vê-lo ao vivo três vezes, vindo ao Brasil para excursionar, e que seguiu fazendo música genial mesmo depois dos Beatles acabarem. Mas por conseguir olhar o mundo de um jeito diferente. Interpreta fatos simples do cotidiano como se nos emprestasse olhos de algum modo amplificados, para percebermos aquilo que não conseguimos enxergar.
O ex-companheiro de banda John Lennon também faz muita falta, e lá se vão 33 anos. Assim como fazem ou farão falta pessoas como Chico Buarque, Jimi Hendrix e Freddie Mercury, pra citar três que souberam traduzir sentimentos corriqueiros de maneira especial, tanto por meio de palavras quanto por notas musicais.



Soltando os cachorros

Tem gente que filosofa dizendo que as pessoas que gostam de cachorro são mais carentes e inseguras, pois precisam de toda aquela atenção que eles oferecem para sentirem-se seguras. E que os que gostam de gato são pessoas mais independentes e seguras, a exemplo da própria personalidade dos felinos. Sei lá. Em relação a isso, eu penso bem mais simples. Em minha opinião - que por ser minha não precisa necessariamente ser de mais ninguém - gato é chato e cachorro é legal. Não quero matar ou maltratar gatos. Posso conviver com os chatos. Inclusive acredito que muita gente acha que sou um deles e, mesmo assim, convive comigo. Mas sempre vou gostar mais de quem é legal.

Atualização: Fiz amizade com o gatinho Mimi e agora gosto de gatos também. São apenas mais "na deles", o que não é ruim. Em breve posto uma foto dele.

Na estrada


Saber dosar o desgaste. Quando tirar o pé. Sentir que não dá pra acelerar. Respeitar sinuosidades. Correr quando a reta permitir. Fazer uma pausa quando o cansaço pesar. Saber quando reabastecer. Dar preferência no momento oportuno. Redobrar o cuidado quando houver obstáculos. Não se desesperar na tempestade. Solicitar companhia nos trajetos árduos. Impor-se limites. Não prejudicar a fluência. Viver é igualzinho dirigir na estrada.