segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Proeza


Nesse mundo sombrio, ser feliz é uma proeza. Caminhar de cabeça erguida por entre os mortos-vivos é um ato de coragem. Um brinde a nós.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Caixa velha


Mexer em caixa velha é uma coisa mesmo, né? A gente volta a um mundo que existia antes das contas a pagar, do medo de ficar desempregado, da sensação de que a solidão sempre estará à espreita. Conforme vamos mexendo em papéis, cadernos e bugigangas em geral, diferentes fases da vida vão passando pela nossa mente. O cartão do amigo que não vemos há mais de uma década, a primeira música do show em que entramos com aquele pedaço de ingresso, a carteirinha de sócio do clube onde íamos encontrar uma pessoa especial, o canhoto da passagem de ônibus para uma cidade que não faz mais parte de nosso destino. Listas de afazeres já amareladas pela ação do tempo e pequenos tesouros dos quais não lembrávamos mais. Uma caixa velha é quase tão cheia de nostalgia quanto os últimos dias de dezembro.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Vinte e nove palmeiras

Uma das músicas mais bonitas da carreira solo de Robert Plant, 29 Palms foi composta e lindamente interpretada pelo ex-vocalista do Led Zeppelin para uma mulher por quem sentiu a mais forte paixão de sua vida, já na década de noventa: a cantora canadense Alannah Myles. Na época, ele queria que Alannah se mudasse para a Inglaterra para se casarem. No entanto, ela escolheu a carreira, ficou nos Estados Unidos, na cidade de Twentynine Palms, onde morava, e a distância acabou os separando. Mais tarde, em entrevistas publicadas na imprensa, não somente Alannah confirmaria a história como se diria arrependida pela escolha que fez. Foi um amor mal resolvido e prejudicado por contingências externas, que inspirou uma belíssima canção.


sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Todo meu amor

Quando o Led Zeppelin gravou o disco In Through the Outdoor, em 1979, muita dor já havia cruzado o caminho da banda. Assombrados por uma aura de morte e vício, eles foram para o estúdio praticamente por força da vontade de Robert Plant e John Paul Jones, que lideraram as gravações, ao contrário do que ocorria antes, quando Jimmy Page sempre esteve à frente dos trabalhos. Não por acaso, é o disco com participação mais efetiva de Jones e no qual Page cooperou quase burocraticamente, no piloto-automático, apesar de sua ausência valer mais que a presença da maioria dos outros guitarristas.
Durante a turnê norte-americana de 1977, faltando seis shows para o final da empreitada, o filho de Robert Plant, Karac, de seis anos, morreu de uma virose não identificada. Eles cancelaram o resto dos compromissos e Plant voltou para a Inglaterra arrasado e envergonhado com as vaidades de sua vida de rockstar. Começou a olhar em perspectiva as orgias, as drogas e os shows e percebeu que nada era mais importante que estar ao lado de sua esposa e das demais pessoas que amava. Pra piorar, o fato de Jimmy Page se aprofundar cada vez mais no ocultismo o fez começar a acreditar que um carma muito ruim acompanhava o sucesso do Led Zeppelin, como se algo estivesse cobrando a fatura de tantas realizações.
E a maneira como Page e o baterista John Bonham estavam mergulhados na heroína só tornava tudo mais difícil para todos. Segundo escreveu o jornalista Mick Wall, na biografia definitiva do Zeppelin, Quando os Gigantes Caminhavam Sobre a Terra, na turnê de 1977 Page não se alimentava, parecia um zumbi o tempo inteiro e chegou a desmaiar e tocar muito mal em alguns shows, devido à sua entrega à heroína. Na mesma turnê, John Bonham chegou a tocar algumas noites com um saco de cocaína entre as pernas, porque não conseguia ficar longe da droga nem no palco. Além disso, seu comportamento durante as turnês começou a ficar cada vez mais errático e chegou um momento em que simplesmente ninguém mais conseguia ficar perto dele. Diz Mick Wall que, no fundo, Bonham era um cara muito ligado à família, que amava sua esposa e sentia muita saudade de casa durante as turnês e, por isso, bebia tanto e dependia tanto das drogas, que o dominaram até o dia em que morreu de overdose de álcool, em 1980.
O fato é que, em 1977, o Led Zeppelin já havia conhecido fama, fortuna, filas de mulheres, adulação de todos, muitas drogas e muitas festas. Mas, quando Karac morreu, uma parte de Plant se perdeu para sempre. É por isso que, até hoje, ele se nega a fazer outra turnê completa com o Led Zeppelin, apesar da insistência de Jimmy Page e John Paul Jones, que queriam fazer uma série de apresentações pelo mundo com Jason Bonham na bateria. Apesar de se orgulhar da música que fizeram, Plant ainda associa o Zeppelin a uma fase de muito abuso e sofrimento em sua vida, principalmente pela morte do filho. Quando Plant gravou All My Love, nas sessões de In Through the Outdoor, música que escreveu para seu filho Zarac, havia lágrimas em seus olhos o tempo todo e isso transparece em sua voz, que durante alguns momentos chega a ficar embargada. É um momento único de uma banda inigualável.