A facilidade de se fazer amizades pode ser, ao mesmo tempo,
qualidade e defeito. É qualidade na medida em que dá oportunidade de se
(re)conhecer rapidamente almas afins, espíritos companheiros, inclusive alguns
que caminharão conosco durante toda nossa jornada. E é defeito quando se
descobre que alguns encontros faziam parte de um jogo de ilusão, um esquema de
máscaras, uma montagem de cena, que cai ao primeiro sopro. Mas, com o tempo,
aprendemos a valorizar os dois tipos de experiência. As doces nos fazem sentir
a viagem mais leve e as amargas foram colocadas à nossa frente para nos fazer
enxergar ainda com mais ternura aquilo que é real. A uns e a outros, a minha
gratidão.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
domingo, 5 de julho de 2015
Sonho x Realidade no mundo da música pop
“As pessoas afetivamente
mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop; e não sei se
foi a música pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo as
canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes”.
A frase do livro Alta
Fidelidade, do escritor inglês Nick Hornby, lançado em 1995 e adaptado para o
cinema cinco anos depois, joga um pouco de luz em uma zona obscura, assim como é obscura a vida
do personagem principal, Rob, que é dono de uma loja de discos e gosta de
passar o tempo fazendo listas. São listas de músicas, de empregos dos sonhos e
dos “foras” mais dolorosos que recebeu em sua vida.
Quando se dispõe a enumerar
as cinco mulheres que mais fizeram com que seu coração doesse após a separação,
sempre deixa de fora Laura, querendo provar a si mesmo que ela não foi uma das
paixões mais importantes de sua vida.
No entanto, a incoerência é
que Laura sempre acaba se mostrando protagonista das histórias de Rob, enquanto
ele tenta provar aos leitores e a si mesmo que sua vida está bem mais feliz
agora, longe da namorada que o abandonou por um vizinho do andar de cima do
apartamento onde moravam.
Dessa forma, o livro gira em
torno da dificuldade de Rob em encarar que Laura era a oportunidade que ele
tinha de começar a viver uma vida adulta, em oposição à sua rotina de lidar com
os adolescentes que frequentam sua loja, incluindo seus dois empregados, com
quem conversa sobre música o tempo inteiro.
Aos 30 e poucos anos,
triste, falido, sem namoradas e rodeado de músicas que remetem à vida a dois
que mantinha com Laura, o protagonista do livro começa a se sentir saudosista
em relação a uma vida que considerava o oposto daquilo que sempre teve como o
ápice da liberdade, já que ser dono de uma loja de discos era a quinta opção em
sua lista de empregos dos sonhos.
Ao longo do livro, as reflexões de Rob sobre
suas namoradas vão fazendo com que ele perceba que a vida de solteiro que tanto
tenta se convencer de que é a melhor que poderia viver não passa de uma
fantasia. E que o convívio com sua ex-namorada Laura, na verdade, foi o que
colocou um sorriso em seu rosto durante cinco anos de convivência.
Eventualmente, Rob e Laura acabam voltando e
a vida passa a se materializar para ele, como se tudo o que sempre sonhou não
fizesse o menor sentido longe da sua mulher. As músicas, a tristeza que permeia
grande parte da cultura pop e a vida sem limites e sem amarras que Rob sempre
sonhou passa, então, a fazer parte do passado. Da época em que ele era apenas
um ensaio, um rascunho. Uma sombra do homem feliz que se tornaria depois.
Ao final, Rob torna-se consciente de que não
é preciso viver a infelicidade para apreciar toda a obra deixada por artistas
que sofreram. Eles não sofreram para que seus admiradores sofressem da mesma
maneira e sim percebessem que viver a vida em lágrimas não vale a pena.
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Da vaidade ao pó
Com o passar dos anos, na mesma proporção em
que nossos corpos vão perdendo o viço da juventude, a cabeça vai trabalhando no
mesmo sentido, e vamos deixando para trás as vaidades tolas. A roupa cara, o carro do
ano, as atitudes exibicionistas e os lampejos de egocentrismo vão ficando pelo
caminho, como se fossem malas atiradas ao chão. Pouco a pouco, nos livramos da
bagagem pesada demais para suportar, que nos atrapalha a caminhada. Vai
ficando só o que é realmente importante. Até que sobre apenas a essência. No
final, todo o resto vira, literalmente, pó.
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