quarta-feira, 30 de abril de 2014

15 coisas que quase ninguém sabe (ou sabia, até agora)


1 - As pessoas tendem a duvidar disso, mas sempre fui extremamente tímido. Melhorou bastante, mas continuo sendo. Só que agora eu falo um monte de besteira pra todo mundo sem parar, pra disfarçar.

2 - Quando eu era moleque desenhava muito bem. Herdei esse talento do meu pai. Aos 12 ou 13 anos, olhava pra cara de um amigo do meu pai e desenhava seu rosto em cinco minutos, igualzinho. Eles diziam que eu tinha "memória fotográfica". Infelizmente parei de desenhar, mas queria voltar um dia.

3 - Quando meu pai morreu, tive que dirigir sozinho até o hospital para encontrar meus tios, que já tinham levado minha mãe pra lá. Foi o momento mais solitário da minha vida, ao lado do banho que eu tomei antes de ir.

4 - Depois que eu voltei do enterro do meu pai, sentei no sofá da sala, olhei pra minha mãe e comecei a chorar dizendo "quem vai ver jogos de futebol comigo agora?". Isso aconteceu há 15 anos e até hoje, quando começa um jogo na TV, esteja eu onde estiver, minha mãe vai até mim ou me liga perguntando se eu não quero assistir com ela. Pra mim, o nome disso é amor.

5 – Pode parecer bobo isso, mas um dos maiores sonhos da minha vida era ver a banda inglesa Saxon ao vivo. Matei a vontade em 2011.

6 - Fiquei seis anos e meio sem beber. Apesar de eu gostar de beber, foi uma experiência muito boa e pretendo repeti-la uma hora. Sou mais legal sem beber.

7 - O primeiro show gringo que vi na vida foi o do Motörhead, em 1989, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

8 - Em 1990, por aí, escrevi uma carta para a Folha de São Paulo, mais especificamente para o caderno Folhateen, dando os parabéns por eles terem feito uma matéria sobre o Rush, achando que não publicariam. Eles publicaram.

9 - Eu toco bateria desde os 15 anos e minha primeira banda se chamava Césio 137. Eu tocava ao lado de meu irmão Ricardo (guitarra), do Tatão (baixo) e do Marcote (vocal).

10 - Uma vez toquei numa festa no Diretório Acadêmico da Faculdade de Odontologia de Araraquara, em 1992, por aí, na banda Tribal Dance, ao lado de Talo (vocal), Adalba (guitarra) e Newman (baixo). Nunca vi uma festa no DA tão lotada.

11 - Quando tinha uns 10 anos, deitei de bruços num carrinho de rolimã e fui dar um rolê no corredor de casa. Mas estava faltando um taco no chão. O carrinho ficou e eu fui. Tenho uma cicatriz no queixo até hoje por conta disso.

12 - O primeiro cachorro da minha família, quando eu era bem molequinho, era um vira-lata chamado Bingo. Era bravo, mordia todos os estranhos e era muito sem-vergonha. Fugia, ficava uns cinco dias fora e depois voltava cansadão, sujo e feliz. 

13 - Em 2008 fiquei 20 dias na casa de meu amigo Tunão em Montreal, no Canadá. Nesse período de tempo, passamos três dias em Nova Iorque e eu fui um domingo sozinho para Toronto. Em Nova Iorque eu cheguei para um funcionário do edifício Dakota, onde John Lennon morava, e perguntei: “Does Yoko still lives here?” (Yoko ainda mora aqui?). Com um sorriso maroto no canto da boca, ele respondeu: “I'm not allowed to give that information” (Não posso dar essa informação).

14 - Uma de minhas camisetas de banda preferidas é uma do Black Sabbath com uma foto de Ozzy, Iommi, Butler e Ward, que já tem uns 8 anos. Em 2013 tive o privilégio de ver o Sabbath com Ozzy ao vivo. Fui com ela.

15 – Tenho muita dificuldade para mentir. Quando tento, geralmente passo vergonha.

terça-feira, 29 de abril de 2014

O sabotador deve morrer


Não existe nada mais perigoso no mundo do que o sabotador que mora dentro de nós. A vida exterior é cheia de armadilhas, mas o mal maior vem de dentro. Ele é o mais ardiloso inimigo que se pode imaginar, porque conhece todos os nossos pontos fracos como mais ninguém. Sabe bater exatamente onde dói mais, porque tem intimidade com cada uma das bagagens emocionais que carregamos. Tem prazer em nos lembrar daquilo que queremos esquecer. Consegue nos atingir com uma crueldade maior. Alguns o chamam de sombra, pois ele só existe porque existimos. É parte de nós e fica sempre à espreita, sem que percebamos, até que, nos momentos mais inoportunos, vem à tona. E suga tudo o que existe de bonito e forte em nosso peito. Faz com que fiquemos exaustos, combalidos, sem energia, e nos leva a acreditar que não merecemos uma vida de verdade. Convence-nos de que a a verdade só existe onde não pisamos. E que viver de mentiras é nossa sina. Rouba todos os nossos sonhos. Priva-nos de todas as mais belas ambições. O sabotador, ele deve morrer.

domingo, 27 de abril de 2014

Coração jovem


Ter um coração jovem é uma maldição. Eu queria que ele ficasse velho, desbotado, calado, cabisbaixo. Mas ele não para de pular, gritar e perambular por aí. Não consigo dominá-lo, de jeito nenhum. Ele manda em mim, me faz de refém, me deixa encabulado na frente dos outros. Sinceramente, não sei mais o que fazer com ele.

sábado, 26 de abril de 2014

A palavra morreu


Às vezes parece que a vida parou. Estagnou, estancou, parou de fluir. Aquele menino que escrevia redações ficou obsoleto, não tem mais valor. As palavras não significam mais nada. Escrever era prazeroso, mas agora dói. Hoje, escrever é um pouco como viver.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A verdade é volúvel


Nunca fui o dono da verdade. Nunca. No máximo, a tomei emprestado por dois ou três minutos. Mais ou menos o tempo limite em que ela fica de posse de alguém, até se cansar e ir parar em outra freguesia. De onde irá viajar novamente e assim por diante, infinitamente. Verdade seja dita, só a possui, mesmo que por alguns minutos, quem não faz questão de ser seu dono. Quem quiser tê-la só para si, automaticamente a perderá.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Jaulas invisíveis

As relações são cada vez mais superficiais, inconstantes e temerosas. O mundo se transformou em um imenso zoológico, cada um de nós andando por aí em jaulas invisíveis. Se aproximar das pessoas é correr o risco de ser mordido. No passado, algumas feridas nos fizeram sangrar quase até a morte. Por isso, nem tentamos. Seguimos nossos caminhos, acuados dentro de nossas próprias redomas.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Brick by Brick

O Brick by Brick, disco do Iggy Pop de 1990, é uma coisa de louco mesmo, né? A curiosidade é que nesse disco Iggy recebeu o tratamento que merece da gravadora, o que nem sempre acontece, mesmo com músicos de seu porte. O produtor foi o lendário Don Was, que havia trabalhado com artistas como Rolling Stones, Bob Dylan e Elton John. Além disso, Slash e Duff McKagan do Guns 'n' Roses tocaram e compuseram todas as músicas com Iggy e as gravações tiveram participação de Kenny Aronoff na batera e outros convidados, incluindo Kate Pierson, que divide os vocais com Iggy na belíssima Candy. 

"Nobody knows If she'll live or die
He wishes he was the cute one
But he's just the big one
He needs to rock and roll"

Baladonas do Hard Rock

Goste-se ou não do estilo, a história da música pesada já tem um capítulo à parte chamado "Baladonas do Hard Rock", dedicado a bandas como Scorpions, Whitesnake, Nazareth, Def Leppard, Queen, Led Zeppelin e Aerosmith, só pra citar algumas. Elas se especializaram nesse quesito, que dominavam desde a década de setenta. Lógico que os Beatles e os Stones fizeram muitas baladas maravilhosas nos anos 60 e os que vieram depois são seus herdeiros diretos. Mas a referência aqui é o hard rock dos anos 70 em diante. Sim, existem baladas medonhamente ruins, seja pela música ou pelas letras. Mas algumas das bandas que fazem parte da nata do rock and roll provam que não precisa ser assim.

"Rising with the morning sun
I turn to greet the dawn,
Knowing I must face another day
Sleepless night behind me,
Just a memory of pain,
My heart has always been a cross to bear

Lord I know the sunshine,
But, I feel the tears of rain
Falling down to wash my sins away
I'll try hard to remember
So I won't be fooled again,
Hey, ain't gonna cry no more today"

(Ain't Gonna Cry No More Today - Whitesnake)




Montanha-russa


A vida é uma montanha-russa. Se viajássemos sempre em velocidade cruzeiro e na mesma altura, não sentiríamos tanta graça quando a coisa fica emocionante de verdade. Os momentos de tensão e desespero são necessários, para que se valorize os trechos de calmaria. Nada do trajeto é desperdício. Tudo é parte importante da viagem.

Agora, um mundo sem poesia


É curioso como as lembranças que temos de alguns períodos de nossas vidas estão conectadas a uma música que ouvíamos ou a um livro que estávamos lendo. Quando ouvimos falar de um livro legal ou de uma canção que conhecemos em certa época, imediatamente todas as sensações que nos cercavam naquele contexto nos invadem. Recordamos as pessoas com quem nos relacionávamos, da fase da vida em que estávamos, do lugar onde morávamos e por aí vai.
Lembro-me perfeitamente da época em que li Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Eu morava em um prédio bem antigo no centro de Bauru, em 1996, onde só viviam estudantes. Era uma época relativamente conturbada da minha vida. Eu não tinha certeza se aquele era o curso que eu queria fazer, ao mesmo tempo em que me achava muito velho para abandoná-lo. Eu gostava muito de Bauru, mas sentia falta de meus amigos de Araraquara. Eu sentia saudade do que estava deixando, enquanto saudava o novo. Uma mistura de sentimentos que deixavam minha cabeça confusa.
Passei um dia em um sebo e comprei Cem Anos de Solidão. Quando mergulhei naquele livro, percebi que a saga cheia de dor, prazer, alegria e sofrimento da família Buendía na aldeia de Macondo era tudo o que precisava para me sentir melhor. Eu lia e lia e lia o livro antes de dormir e, quando me deitava, sonhava com seus personagens, que povoavam meu imaginário dia e noite. Eu acabava criando meus próprios capítulos durante o sono, como se minha mente se recusasse a vir à tona após aqueles mergulhos nas desventuras criadas por Gabo.
Nada mais natural que aqueles personagens reaparecessem durante a noite, pois com seu realismo fantástico, Gabriel García Márquez conta histórias que têm pessoas de carne e osso, mas que fazem coisas que só são possíveis em sonhos. Tudo é permitido em seu universo e daí vem grande parte da identificação e da paixão do leitor pelo livro. Gabo descreve o mundo ideal, para que possamos fugir de nossa realidade tão limitada. Os personagens podem tudo, apesar de sofrerem as dores que todos nós sofremos.
Uma das passagens mais impressionantes do livro, a qual nunca mais esqueci, e que me fez chorar quando li, na verdade, foi quando morre um dos personagens, José Arcadio Buendía, e, para descrever a dor que aquela perda causou e a ternura que sentiam todos que o amavam, Gabo termina o capítulo assim: "Pouco depois, quando o carpinteiro tomava as medidas para o ataúde, viram pela janela que estava caindo uma chuvinha de minúsculas flores amarelas. Caíram por toda a noite sobre o povoado, numa tempestade silenciosa, e cobriram os tetos e taparam as portas, e sufocaram os animais que dormiam ao relento. Tantas flores caíram do céu que as ruas amanheceram atapetadas por uma colcha compacta, e eles tiveram que abrir caminho com pás e ancinhos para que o enterro pudesse passar". É o que todos nós queremos que aconteça após a morte de uma pessoa querida.
Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1982, Gabriel García Márquez é descrito, principalmente por Cem Anos de Solidão, como um escritor que mudou vidas. Não é por acaso. Ele nos ensinou a ver a realidade como deveria ser. Com mais delicadeza e sensibilidade. Seus livros permanecem imortais, mas é inevitável o sentimento de que o mundo perde bastante de sua poesia sem que Gabo esteja entre nós. É como o sentimento de todos que terminam de ler Cem Anos de Solidão: tristeza porque a história acabou e vontade de relê-lo imediatamente.
Uma tempestade de minúsculas flores amarelas ainda seria muito pouco pra essa noite.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Essência

À primeira vista, tudo que tenho cabe em quatro ou cinco caixas e tudo que sou cabe em um cinzeiro. Mas não. Sou minhas vitórias e também minhas derrotas. E possuo sonhos que não são de mais ninguém. Muitos deles permanecerão, mesmo depois que o vento soprar as cinzas.

Tempo amigo


O tempo não perdoa ninguém. Mas o que fazemos com ele, a maneira como o tratamos, o modo como nos ocupamos dele, determina o quanto ele será ou não carrasco conosco. Ele pode nos retribuir com o mesmo carinho com que o tratamos ou nos punir com o mesmo desdém com o qual o encaramos.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Um homem melhor

Em "Melhor é Impossível", filme dirigido por James L. Brooks e lançado em 1997, o ator Jack Nicholson apresentava ao mundo talvez seu último grande personagem, de uma lista extensa, que vem desde os anos 60 com Easy Rider, passa pela década de 70 com O Iluminado e Um Estranho no Ninho, anos 80 com O Destino Bate à sua Porta e Laços de Ternura - também dirigido por Brooks - e termina neste filme.
Aqui ele interpreta um escritor novaiorquino com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que se isola do mundo, mas acaba se interessando pela garçonete Carol Connely, interpretada por Helen Hunt. Com esse filme, Nicholson ganhou seu segundo Oscar de melhor ator (já havia faturado por Um Estranho no Ninho).
Nesse trecho do filme, seu personagem Melvin Udall faz uma declaração de amor toda bizarra e atrapalhada para Carol. A genialidade de Nicholson ao entregar o texto acaba transformando o diálogo em uma das mais belas cenas de amor da história do cinema. 

Melvin - Eu tenho um elogio realmente bom pra te fazer. E é verdade.

Carol - Tenho medo que vá dizer algo horrível.

Melvin - Não seja pessimista, não é seu estilo. Ok, aí vou eu: Eu tenho essa doença e o médico ao qual eu ia me dizia o tempo que em 50 a 60% dos casos pílulas realmente resolvem. Eu odeio pílulas, são muito perigosas, as pílulas. Odeio. Eu estou usando a palavra ódio aqui, sobre as pílulas. Meu elogio é que, na noite em que você veio e disse que nunca... Bem, você estava lá e sabe o que disse. Bem, meu elogio para você é que, na manhã seguinte, eu comecei a tomar as pílulas.

Carol - Não entendo como isso pode ser um elogio para mim.

Melvin - Você me faz querer ser um homem melhor.


sábado, 5 de abril de 2014

Felicidade


Café feito na hora, fervendo, bem forte e bem preto, faltando dez minutos pras seis da tarde. E não é que a felicidade é mesmo uma costura desigual de momentos, incluindo pedacinhos como esse?

Todo cuidado é pouco


É bom não ter rabo preso com ninguém. Assim como não tinha o jornalista Vladimir Herzog, apesar de ter sido assassinado pelos coronéis da Ditadura, sob alegação de ser líder subversivo, simplesmente por ter amigos no Partido Comunista. No entanto, ele era um crítico incisivo do Partidão e tinha muitas discussões com os amigos, por ser radicalmente contra a luta armada, por exemplo. Era diretor da TV Cultura, dava aulas na USP, era casado, tinha dois filhos e não devia nada a ninguém. Tanto que se apresentou de livre e espontânea vontade para dar "esclarecimentos" aos seus algozes. Mas foi torturado até a morte, por causa de seus amigos.
Ao ler o livro Vlado, Retrato da Morte de um Homem e de uma Época, organizado por Paulo Markun, uma frase me chamou a atenção. Descrevendo Herzog, Markum diz: "Vlado não escolhia seus amigos pelo partido ao qual pertenciam".
E, justamente por não escolher amigos usando critérios políticos, foi covardemente assassinado. Não se envergonhava de ter amigos que pensavam de maneira diversa da sua ou da que os coronéis achavam correto. Eu penso da mesma forma. Meus critérios para escolher amigos não têm nada a ver com política. E minha atuação profissional não tem nada a ver com meus amigos. Quem pensa dessa forma, está compartilhando do mesmíssimo tipo de preconceito que tinham os assassinos de Vlado. Cuidemo-nos.

Se cuida, malandro


Estou de olho em mim. Na primeira vacilada, acerto as contas comigo.

Bilhete

Às vezes penso no bilhete suicida do poeta Torquato Neto, que em seu derradeiro poema, escreveu: "pra mim chega!". Mas, ao invés de mergulhar para a morte, eu escreveria este bilhete antes de pular para a vida...

Passado e futuro


Uma hora cansa ser ex-isso, ex-aquilo e ex-aquele outro. Aí a gente passa a querer ser atual isso, futuro aquilo e promissor aquele outro. É muito melhor.

sexta-feira, 4 de abril de 2014


A última que morre é a fé e não a esperança. Esperança, na verdade, serve pra pouca coisa. E pode até acabar nos enganando uma vez ou outra. Mas sem fé não fazemos nada. É ela que nos faz levantar da cama de manhã com a certeza de que dias melhores virão. Ela nos faz ir em busca daquilo que acreditamos. E cabe a cada um saber quais são seus valores mais importantes. Eu acredito nos meus amigos. No poder da amizade, no quanto faz bem se cercar de energias positivas, que nos impulsionam aos nossos objetivos, sejam eles comuns ou não.

Privilégio


O talento do guitarrista Tony Iommi é tão grande que eu vejo o Black Sabbath com duas formações clássicas, quase se dividindo em duas bandas distintas, tendo em comum seus riffs e solos maravilhosos, o peso cavalar do baixo de Geezer Butler e a capacidade de fazer músicas imortais.
Ao lado de Ozzy e Bill Ward, Iommy e Butler formaram a banda em Birmingham nos anos 60 e definiram tudo o que viria a ser feito no campo do som pesado desde então. Com Ronnie James Dio e Vinnie Appice, a segunda formação clássica da banda deu ao mundo discos como Heaven and Hell, Mob Rules e Dehumanizer.
Em 11 de outubro de 2013, vinte e um anos depois de tocar no Brasil pela primeira vez, com Dio nos vocais, finalmente a banda se apresentou em São Paulo, para uma plateia de 70 mil pessoas, com o madman Ozzy cantando as músicas que gravou e que se tornaram hinos de várias gerações, misturadas a novos sons com a assinatura de quem nunca perdeu a mágica.
Mais de 40 anos depois, ainda estão em pé, caindo na estrada e fazendo shows maravilhosos, revivendo clássico atrás de clássico no palco. Poucas vezes a palavra "privilégio" pôde ser usada com tanta propriedade como nessa passagem do Black Sabbath pelo Brasil.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Um cara barulhento


"Tocávamos no Midland Red Club, que ficava no Midland Red Blues Depot. Era um clube frequentado por todas as pessoas que trabalhavam naquela região. Havia uma banda toda semana. Costumávamos tocar a cada duas semanas e John Bonham geralmente estava na outra banda que tocava lá. Ele durou cerca de cinco minutos nessa banda, foi demitido porque tocava alto demais. Aí ele se metia em outra banda e, em pouco tempo, se livravam dele pelo mesmo motivo. Ele tinha um estojo de bateria com os nomes de todas as bandas nas quais havia tocado e todos eles estavam riscados. E os nomes ficavam cada vez menores para que ele pudesse escrever todos. Tudo isso aconteceu antes que as bandas tivessem sistemas de PA e que as baterias fossem amplificadas. Ele simplesmente tocava de forma acústica, mas batia tão forte naquelas peles, caramba, era incrível. Ele tocava tão alto!"

(Tony Iommi, guitarrista do Black Sabbath, em sua biografia "Iron Man")

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Tudo errado

Certa vez li uma entrevista com o escritor norte-americano Stephen King, em que ele contava sobre a época em que comprou uma rádio no estado do Maine (EUA), onde mora com sua família. Ele disse que, no início, fazia questão de acumular as funções de gerente e programador, já que é amante do bom e velho rock n' roll. Até que um dia resolveu contratar um programador profissional, pois estava "fazendo tudo errado". "Eu comecei a perceber que algumas coisas não se faz numa rádio, como tocar Ramones às sete da manhã, por exemplo", disse King.



It's all right

O baterista do Black Sabbath, Bill Ward, cantou apenas duas músicas como vocalista solo em toda a carreira da banda. Uma delas é It's all Right, do disco Technical Ecstasy (1976). Execução primorosa e histórica.

"Dê tudo e não espere retorno
E muito em breve você verá e começará a entender
Que está tudo bem, sim está tudo bem"


Stones em crise

No livro Sexo, Drogas e Rolling Stones, os autores José Emilio Rondeau e Nélio Rodrigues descrevem a maior crise dos Stones, ocorrida em 1978, e que simboliza tudo o que a banda tem de maldita e genial. 
Nessa época, os Stones estavam num impasse entre seguir adiante ou terminar, devido aos desafios impostos pelo punk rock e pela disco music, que surgiam na época e ameaçavam tornar a banda obsoleta para sempre. E também devido ao vício do casal Keith Richards e Anita Pallenberg em heroína.
Com sua vida resumida à busca pela próxima picada, Keith colocou a banda numa "sinuca de bico" em sua passagem por Toronto, no Canadá, onde a polícia montada fez uma batida em seu quarto de hotel e encontrou um saquinho com 28 gramas de heroína pura e mais seis gramas de cocaína, além de uma quantidade enorme de haxixe.
A banda estava no país para gravar um disco ao vivo. Na tarde que precedeu a gravação, Keith se apresentou ao tribunal e se declarou culpado, enquanto Bill Wyman e Ron Wood corriam para comprar heroína, já que o estoque de Keith havia sido apreendido e ele não conseguiria fazer o show sem a droga, devido aos vômitos, convulsões e dores generalizadas decorrentes da abstinência.
Resolvido, pelo menos momentaneamente, o impasse em relação a Keith, o melhor seria reservado para o show daquela noite, na casa El Mocambo, de apenas 300 lugares. Na primeira fila do show, em meio à seletíssima platéia, estava a esposa do primeiro-ministro canadense, Margareth Trudeau. Apesar de ter chegado ao show na limusine de Mick Jagger, o que se descobriu mais tarde é que a mulher do primeiro-ministro do Canadá estava tendo um caso, que seria brevíssimo mas bastante intenso, com o guitarrista Ron Wood. Foi o que bastou para a imprensa inglesa, sempre atenta para farejar sangue, estampar em suas primeiras páginas manchetes como "Mulher do Premiê envolvida em escândalo com os Stones" e "A primeira-dama que fez a cabeça com os Stones".
Escândalos à parte, a demonstração de genialidade viria meses mais tarde, quando a banda lançaria o disco Some Girls, gravado em meio a toda essa turbulência. Um clássico absoluto instantâneo, que trazia a música Miss You, versão stoniana para a dance music que dominava o mundo, e diversas faixas cruas e pesadas, mostrando aos garotos punks quem ainda mandava no rock n' roll da década de 70.
Para não perder o costume, a faixa-título do disco despertaria o furor das feministas do mundo todo e principalmente do reverendo norte-americano Jesse Jackson, com sua letra "caricaturalmente misógina", como descreve o jornalista José Emílio Rondeau. Basicamente falando sobre as preferências de cada tipo de mulher, Jagger e Richards cantam em suas versos que as francesas só querem Cartier, as italianas adoram carros, as inglesas reclamam demais e as negras gostam de ser "fodidas a noite inteira". It's only Rock and Roll, baby. But I like it.




Carta a mim mesmo, com metade de minha idade


Caro Roberto,

Estou escrevendo de 2014 pra te dar uns toques. Você tem 42 anos, está vivo e tem saúde. Lógico que às vezes seu joelho esquerdo dói, porque recentemente você passou por uma cirurgia e tirou um pedaço do menisco. Mas isso não o impede de tocar bateria. Sim, você ainda toca. Não para grandes plateias, ok? Não se empolgue muito. Mas ainda toca pra se divertir, com os amigos, como sempre foi.

Olha, no ano que vem você entrará em Rádio & TV na Unesp de Bauru. Quando se dirigir à secretaria da faculdade no final do primeiro ano, ansioso para mudar de Rádio & TV para Jornalismo, e seus amigos ficarem buzinando na sua orelha que você vai “abandonar os irmãos”, pode escutá-los novamente e continue no mesmo curso. Ele não vai servir para praticamente nada na sua vida profissional, pois, no final das contas, você será jornalista.

Porém, quando você fizer sua segunda graduação, em Jornalismo, conhecerá pessoas importantes, amigos que o ajudarão em sua caminhada profissional e pessoal. E as experiências pelas quais você passará do segundo ano em diante em Bauru com seus amigos de Rádio & TV darão sustento emocional a você pelo resto de sua vida.

Pra falar a verdade, não te aconselho a fazer grandes mudanças. A única coisa que posso fazer é te dar um alerta: haverá muitas decepções. Em alguns momentos, a vida simplesmente não caminhará como você planeja e as tentativas para que isso aconteça serão fracassadas. Você terá perdas e sentirá a dor da saudade algumas vezes. Mas, nessas horas, vai perceber que é muito mais forte do que imaginava. E que é mais teimoso do que a maioria das pessoas.

A felicidade que você tanto busca não virá de forma mágica. Aliás, pode esquecer esse conceito de que a felicidade é um estado em que todas as áreas da sua vida estarão em perfeita ordem ao mesmo tempo. Isso não vai acontecer nunca. Quanto mais cedo você perceber isso, melhor. Sua vida profissional estará satisfatória algumas vezes, enquanto a sentimental estará uma porcaria. Em outros momentos, tudo se inverterá. A vida é uma montanha russa. Aperte o cinto e aproveite.

Outro conselho: nunca diga que está velho demais para alguma coisa. Você tem só 22 anos, é um moleque. Quando tiver 42 anos, ainda não estará velho demais para um monte de coisas, quanto mais nessa sua idade aí.

Finalmente, saiba que o show do Rush que você tanto espera no Brasil não virá este ano e nem no próximo. Mas, no futuro, você finalmente verá a banda ao vivo. Quatro vezes! Demais, né?

Sorria sempre e continue sendo o mais inocente possível, por quanto tempo precisar. Isso é ruim no seu momento. Mas vai te ajudar a conhecer o tipo de pessoa com quem você realmente poderá contar no futuro.

Bom, é isso. Boa sorte e um abraço!

Roberto.

PS – Uma noite antes do show do Ozzy, em 2008, vá dormir cedo. Caso contrário, você perderá o busão da excursão, ok? Essa você fica me devendo.

A turma

Sou de uma turma de amigos que cresceu tomando sorvete de creme holandês no seu Luís e comemorando aniversário no laguinho da praça Pedro de Toledo. Sou de uma turma de amigos que, quando arruma namorada, vai levá-la pra ver o jogo da Ferroviária e lhe empresta seu livro, filme ou disco preferido. Por querer dar um pedacinho de si pra ela, emprestar um pouquinho daquilo que gosta, que considera bonito e muito seu. Sou de uma turma de amigos que se orgulha daquilo que é. Alguns são confusos, outro são mais confusos ainda e tem aqueles que se perderam, mas acabaram voltando. Ninguém julga ninguém por isso. Sou de uma turma boa. Ninguém nunca vai envelhecer. Desconfio até que ninguém morrerá.

Diferenças


As pessoas são diferentes entre si. Nem todas se dão bem quando se juntam. Mesmo quando têm muita coisa em comum, ainda assim são diferentes. Mesmo com muitos pontos convergentes, a convivência é uma construção permanente, uma batalha diária. Quando têm pouco em comum, então, fica difícil a proximidade. No entanto, e este é o cerne da questão, isso não significa necessariamente que uma seja boa e a outra ruim. Ou que ambas sejam intragáveis. Apenas são pessoas muito diferentes uma da outra. Fazer juízo de valor sobre personalidades alheias é cair em uma armadilha muito perigosa.

Cinema


A vida não é uma comédia romântica. Mas também não precisa ser um dramalhão mexicano. Muito menos um filme de terror.

Tudo que se quer

Tudo o que a gente quer na vida é encontrar alguém com quem fiquemos à vontade conversando. Não é?

Eu prometo




















Eu prometo não te prometer nada
Nem te amar pra sempre
Nem não te trair nunca
Nem não te deixar jamais

Estou aqui, te sinto agora
sem máscaras nem artifícios
e enquanto for bom para os dois que o outro fique

Nada a te oferecer senão eu mesmo
Nada a te pedir senão que sejas quem tu és
A verdade é o que de melhor temos para compartilhar

Tuas coisas continuam tuas
E as minhas, minhas.
Não nos mudaremos na loucura de tornar eterno
Esse breve instante que passa

Se crescermos como pessoas
Ainda que em direções opostas
Saberemos nos amar pelo que somos
Sem medo ou vergonha
De nos mostrarmos um ao outro por inteiro

Não te prendo e não permito que me prendas
Nenhuma corrente pode deter o curso da vida
Nenhuma promessa pode substituir o amor
Quero que sejas livre como eu próprio quero ser

Companheiros de uma viagem que está começando
Cada vez que nos encontramos novamente

(Geraldo Eustáquio de Souza)

Requisitos

Pra aprender, tem que ter duas qualidades: esperteza e humildade. Esperteza pra perceber que tem que ser humilde. E humildade pra aprender mesmo.

Olhar renovado


Um dos aspectos ruins de ir ficando mais velho é você ter que contar a uma pessoa que acabou de conhecer histórias que você já contou 2.472 vezes a outras pessoas. O bom disso é que você acaba se forçando a encontrar maneiras diferentes de contar a mesma história, para manter a força das palavras, que dá veracidade aos relatos. E esse esforço fica mais fácil quando se leva em consideração que aquela pessoa que está na sua frente nunca ouviu sua história antes e, por esse motivo, não tem nada a ver com o seu enfado. É como uma banda com 30, 40 anos de estrada tocando a mesma música turnê após turnê. Ela tem que se esforçar para tocar como se fosse a primeira vez, por mais forte que seja a tentação de ligar o piloto-automático.
Talvez a vida seja isso mesmo: uma sucessão de experiências que vão nos cansando e, ao mesmo tempo, nos estimulando a encontrar novas maneiras de caminhar. Sem esse espírito de renovação, caímos na inércia e acabamos seguindo caminhos que não escolhemos. A vida pode ser encarada de frente quando contemplamos o mundo, tanto interior quanto exterior, com olhar renovado, redescobrindo diariamente motivos para estarmos aqui e o que, afinal de contas, queremos dividir com as pessoas que estão ao nosso redor.

A Estrada da Cura


Pra quem não sabe, o baterista do Rush, Neil Peart, perdeu a filha única de 19 anos, Selena, em um acidente automobilístico e também a esposa Jacqueline, que morreu de câncer, em um período de menos de um ano, entre 1997 e 1998. Para mantersua sanidade, ele partiu em uma viagem de motocicleta atravessando os Estados Unidos como um anônimo, num trajeto de 88 mil quilômetros. No livro "Ghost Rider: Travels on the Healing Road", traduzido agora para o português, ele conta sua experiência de superação. Hoje Neil é casado novamente e tem uma filha de 4 anos.

http://whiplash.net/materias/news_817/199806-rush.html

Desejo, logo existo

O desejo é a mola propulsora da vida. Quem para de desejar, morre.

Diga sim


Aprender a dizer "não" é muito importante pra se viver. Mas aprender a dizer "sim" é tão importante quanto. Negar a vida, se esconder, fugir da felicidade, achar que não a merece e ficar encolhido debaixo da cama, causa tantos danos quanto fazer escolhas erradas.

O suíngue do moço

Não sei se minha opinião interessa pra alguém, mas eu amo música e toco bateria, então, vou opinar assim mesmo. Os três bateristas que eu mais gosto são Neil Peart (Rush), John Bonham (Led Zeppelin) e Ian Paice (Deep Puple), esse moço suingando forte aí abaixo.


O que nos resta

As noites estão cada vez mais curtas, assim como os dias e, consequentemente, a vida? Tá todo mundo com pressa de viver tudo antes que o sol se ponha de novo e mais uma noite nos leve em direção a um dia que logo mais será passado? Só nos resta sair e sermos nós mesmos.

Os 60 anos de Jeff Porcaro


Esse baterista, Jeff Porcaro, tinha um talento incrível. Faria 60 anos hoje. Morreu aos 38 anos, em 1992, de ataque cardíaco, após sofrer uma reação alérgica a um pesticida que estava usando em seu jardim. Às vezes a vida nos faz dar gargalhadas. De raiva. Esse é o cara responsável pela levada de Rosanna, do Toto, grupo com o qual ficou mais conhecido. Mas, como um dos músicos de estúdio mais respeitados e versáteis dos Estados Unidos, já emprestou seu talento a gravações de gente como George Benson, Michael Jackson, Larry Carlton, Elton John, Peter Frampton, Joe Cocker, Bee Gees, Paul McCartney e Stanley Clarke, só pra citar alguns. Uma pena que tenha morrido tão cedo.

(1º de abril de 2014)

Todos nós


Todos nós vamos morrer. Eu, você, todo mundo. Aquela pessoa que você tanto ama, e sem a qual não consegue viver, vai morrer. Aquele vizinho com quem você brigou porque reclamou do som alto no seu quarto, certamente um dia morrerá. A menina que você beijou na escada da agência dos correios não vai escapar da morte. O artista que compõe músicas maravilhosas e sempre te inspira nos momentos ruins? Más notícias: Sua hora chegará também. A moça de pele perfeita e sorriso inebriante das telas de cinema? Antes ou depois de perder o viço, também morrerá. A vovozinha que faz aquele bolo maravilhoso, que torna suas tardes de sábado mais felizes, hora ou outra também vai morrer. A paixão de quando era criança, o garoto com quem sempre brigava na saída da escola, a mulher que ainda nem conheceu e com quem se casará, a caixa da padaria que vendeu aquele pão de queijo hoje de manhã, o mulherão que lavava a calçada com um vestido curto na esquina da casa do seu tio na última quarta-feira, o sobrinho do seu amigo que passou no teste para jogar no juvenil do Santos, a mulher que começou a trabalhar na casa da sua prima, mas acabou indo embora antes de terminar o período de experiência, o fotógrafo que tirou sua foto 3x4 quando precisou de uma segunda via do RG, a instrutora de hidroginástica da sua tia, o baterista que te impressionou naquele show no SESC, o cara que tentou consertar seu computador, mas acabou fazendo uma tremenda besteira, a menina que pensava em você vez ou outra, mas você nunca soube, por inabilidade mútua, o funileiro que fez um desconto para deixar seu carro novinho porque conhece seu patrão, o marido da revisora da revista onde trabalhou por duas semanas e três dias. Pessoas intensas, que ainda tinham muito a dizer ou quem só vagava por aí, sem ninguém notar. Sinto muito. Não sobrará ninguém.

Tiro de misericórdia


Existe alguém que desiste completamente de um sonho, um plano, uma vontade? Ou sempre fica restando uma esperança, mesmo que anêmica, largada num cantinho escuro, sem água ou comida, mas ainda respirando, esperando por um tiro de misericórdia ou por um novo sopro de vida?

(Janeiro de 2014)

De olho no horizonte


Quando você caminha de cabeça erguida demais, pode acabar não enxergando os amigos. É perigoso até acabar pisando em um ou outro. Muito injusto. 
Por outro lado, quando você anda de cabeça baixa demais, fica vulnerável aos golpes de gente oportunista, que não perderá a oportunidade de aproveitar seu descuido para acertar sua cara. Perigoso demais. 
Na minha visão, o ideal é caminhar olhando para a linha do horizonte, com a expectativa do que virá pela frente. Mas, ao mesmo tempo, sem nunca perder o foco do que o cerca.

O inferno são os outros


Engraçado como são as coisas. Dependendo do tipo de matéria que se veicula, como por exemplo, aquela que desvenda planos sórdidos e corruptos de manutenção do poder pelo partido ao qual uma pessoa pertence, um veículo de comunicação pode ser rotulado por essa pessoa como participante do "PIG - Partido da Imprensa Golpista". 
Já quando o escândalo abordado se refere ao partido do outro - que nem sempre é o outro, já que muitas vezes este é aliado daquele, que se juntou aos demais e todos formam uma festiva ciranda para poucos - aí o veículo está "cumprindo seu papel social". Suas manchetes podem até mesmo ser utilizadas em época de campanha eleitoral, como forma de atacar os "inimigos sazonais". Nessas temporadas, a empresa chega a sair da lista do PIG, de forma bastante conveniente.
Esse negócio de "sou corrupto, mas ele é muito mais" pega muito mal, principalmente num País onde ainda tem gente morrendo em corredores de hospitais, esperando por atendimento médico, ou vivendo nas ruas, aguardando por qualquer tipo de alívio, que nunca virá.
Os "antigos" é que estavam certos, em seus ditados bastante simples, mas cheios de razão: quem não deve não teme.


(30 de outubro de 2012)

Ausência presente


Hoje a ausência mais presente da minha vida completa quinze anos. Período em que um vazio sempre me acompanha, lembrado-me do que não posso ter. Quinze anos depois, queria nem que fossem só quinze minutinhos de conversa. Rapidinho mesmo, só pra situar como estão as coisas. Dizer um pouco daquilo que aprendi nesse tempo. Contar que estamos lutando todo dia, mas seguimos bem. Papear um pouquinho sobre a Ferroviária, sobre Araraquara, sobre minha trajetória profissional, sobre tanta vida que nos sobreveio nessa década e meia. Pedir um ou outro conselho. Falar um pouquinho daquilo que às vezes tenho vontade de dizer e não sei bem pra quem, até que essa ausência me lembre novamente quem deveria me escutar. Extravasar um pouco tudo que calei, sempre que esse sentimento me pegou de surpresa. Queria dizer de novo que te amo, pai. Só mais uma vez.

(23 de junho de 2013)

Breaking Bad e o despertar da mortalidade


Há exatos dois meses (*), assinei o Netflix e passei a acompanhar a série norte-americana Breaking Bad, que foi filmada a partir de 2007 na cidade de Albuquerque, Novo México, e teve seu último episódio veiculado no canal AMC neste domingo. 
Considerada por muitos dos 7 milhões de espectadores que acompanharam os últimos dois episódios como o melhor seriado de TV de todos os tempos, ele reúne elementos que dão pistas do porquê de tanto sucesso.
Eu havia assistido um ou outro episódio na televisão e gostado da premissa da série, mas a comodidade de ver os episódios na ordem em que foram produzidos e no momento mais apropriado, me propiciou uma verdadeira experiência de imersão, até alcançar em tempo real os últimos capítulos das aventuras de Walter White, um pacato professor de química que, aos 50 anos, descobre um câncer de pulmão e passa a cozinhar meta-anfetamina com um ex-aluno, sob o pretexto inicial de deixar um “pé-de-meia” para a família.
À época em que comecei a assistir estava passando por quase os mesmos dilemas filosóficos de White, mas, desconfio que o segredo do sucesso desse seriado é que quase cada um dos telespectadores pode dizer o mesmo.
No caso de White, a angústia extrema vem porque se vê à beira da morte em uma idade em que quase nada será possível mudar em seu futuro e, ao olhar à sua volta, enxerga uma vida medíocre de classe média e um passado que o amargura com a ideia de que poderia ter aproveitado melhor seus talentos, para poder deixar sua família em condições financeiras mais favoráveis.
O que, para piorar o quadro, não aconteceu por muito pouco, já que o mal pago professor de química White vendeu anos atrás por míseros 10 mil dólares sua parte em uma empresa que mais tarde valeria muitos bilhões de dólares.
Ao ver a face da morte lhe sorrindo bem de perto, e a vida fazendo muito pouco sentido - além do fato de ter uma esposa, um filho adolescente deficiente físico e um novo bebê a caminho -White abre mão de qualquer senso de moralidade e escolhe aquilo que parece mais lógico no momento: utilizar seus talentos como químico para ganhar dinheiro produzindo e vendendo a melhor meta-anfetamina possível, associando-se ao ex-aluno Jesse Pinkman, já iniciado no mundo do crime.
Nos primeiros dois episódios, a maior parte da graça da série vem justamente da “química” entre os dois personagens, com o perdão do trocadilho infame, porém inevitável. O professor pacato e caretão de meia-idade ao lado do moleque fã de hip-hop, viciado no produto que fabrica e que só fala em forma de gíria, um fornecendo ao outro o tipo de conhecimento que lhe falta.
E que vai transformando os personagens, até o ponto em que o professor White, ou Heisenberg, como fica conhecido no submundo das drogas, descobre ser outra pessoa, como se seu verdadeiro talento estivesse o tempo todo escondido debaixo das vestes de pai de família anestesiado pela rotina da vida. Por sua vez, Pinkman vai mudando também ao longo das aventuras da dupla, ao ponto de perceber-se quase o oposto do bandido no qual seu parceiro se transformou.
Tudo isso adornado por atuações impecáveis, fotografia primorosa e trilha sonora sensacional.
Pelo menos para a maior parte dos telespectadores, não será necessário um mergulho no mundo do crime para que descubra seus talentos escondidos e promova uma guinada em direção a uma vida menos ordinária, antes de um dia realmente se dar conta de sua mortalidade. Mas a lição deixada pelo professor White, brilhantemente interpretado pelo ator Bryan Cranston e genialmente idealizado por Vince Gilligan, criador e roteirista da série, é muito clara: Viva livremente. Ou morra.


(*) Texto de 30 de setembro de 2013.

Donatão


Eu e o saudoso Donatão - como sempre - falando alguma merda e nos divertindo na redação do jornal O Imparcial. Em 2001, 2002, por aí.

Coração Safado

















Meu coração
Bobo demais
É um coração coitado
Meu coração
Besta demais
É um coração safado
Chora demais
Sofre demais
Vive atormentado
Gosta do amor
Tem medo do amor
É um coração pirado
Canta, coração
Chora, coração
Pobre coração
Como se perdeu
O amor é muito louco, doido
E eu te avisei

(Reginaldo Rossi - 1943-2013)