sábado, 28 de novembro de 2015

Verdade colorida

Toda história tem três lados: o meu, o seu e a verdade. Cada versão de um fato é contada de acordo com a vivência, o perfil psicológico e os valores do narrador. Geralmente, essas versões dos que protagonizaram a história é a que mais interessa. É mais apimentada, cheia de reviravoltas, nuances cativantes e aspectos nebulosos. A verdade, por si mesma, é monótona e pálida. Ela sempre precisa de nossa ajuda para ganhar um colorido todo especial.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Tudo ótimo

Quando virou a esquina, ainda próximo à sua casa, encontrou um conhecido, que ao lhe avistar abriu um sorriso e o cumprimentou: “olá, tudo bem?”.
Antes de responder, pensou consigo mesmo que não, não estava bem. Não havia conseguido dormir direito aquela noite, por causa de pensamentos obsessivos sobre tudo que lhe causava medo e angústia nos últimos tempos.
Refletindo melhor, percebeu que não estava bem desde a morte de seu pai e lá se iam quase 18 anos. Não falava muito sobre o assunto, não chorava e nem mesmo tinha sempre consciência do impacto que essa perda causou em sua vida. Mas ela, a falta, estava sempre ali, sempre presente.
Também não estava bem em sua vida profissional, que havia empacado, justo agora que estava na casa dos 40 anos e precisava de mais dinheiro para satisfazer algumas necessidades e tornar realidade um ou outro plano. Sentia-se traído por estar desperdiçando tempo e talento em atividades que já não lhe traziam prazer.
O prazer, aliás, vinha em conta-gotas e de forma torta, em risadas histéricas na madrugada, quando estava bêbado, ou comentários cada vez mais ácidos sobre qualquer pessoa ou fato que o cercasse.
Não se sentia compreendido, amado ou acolhido. E não se sentia capaz de acolher ou fazer felizes os amigos, os familiares, quem quer que fosse. Se a felicidade é feita de momentos, a impressão era que sua cota de sensações boas havia esgotado e, dali em diante, tudo seria apenas apatia.
Por algum motivo que não entendia bem, sentia-se sufocado e sufocador, vítima e algoz, perseguido e perseguidor. Nada parecia ser capaz de tirar esse gosto amargo de sua boca. Sabia que, se nada excepcional ocorresse, havia ainda muita vida pela frente. Mas não conseguia ter certeza se isso era totalmente bom.
“Tudo ótimo”, respondeu, retribuindo o sorriso.



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Rasantes

Deus me livre de viver no piloto automático. Quero fazer acrobacias e dar rasante em cima do quintal, pra ver as roupas voando do varal.