domingo, 17 de dezembro de 2017

Randy Rhoads: o impacto da morte de um gênio


O baixista Rudy Sarzo se juntou à banda de Ozzy Osbourne no início dos anos 80 por indicação de Randy Rhoads, jovem guitarrista com quem havia tocado no grupo norte-americano Quiet Riot, na década de 70. Mas uma estúpida queda de avião matou Randy Rhoads em 1982, aos 25 anos, no meio da turnê, abrindo uma lacuna irreparável na música, tal a dimensão do talento demonstrado por aquele guitarrista em tão pouco tempo de carreira.
Além disso, Ozzy Osbourne, que à época lidava com seus demônios, principalmente o vício pesado em drogas e álcool, perdeu um amigo tão importante naquele momento de sua vida, que nunca chegou a se recuperar totalmente.
Depois de sair da banda de Ozzy, o baixista Rudy Sarzo voltou ao Quiet Riot e, apenas com a esperança de retomar seu prazer pela música, gravou o disco Metal Health, lançado em 1983, que acabaria se transformando no maior sucesso comercial do grupo.
Sarzo trabalharia depois com diversas outras bandas importantes, incluindo Whitesnake e a banda de Ronnie James Dio, com quem tive a honra de vê-lo tocar em um show em São Paulo, em 2004.

“A única razão pela qual deixei a banda de Ozzy foi a morte trágica de Randy Rhoads durante a turnê. Todos nós perdemos o prazer de tocar. Nós apenas seguimos a turnê para manter Ozzy ocupado e evitar que ele fosse para casa para literalmente beber até morrer. A cada noite era como se tentássemos alcançar o impossível: subir no palco e entreter as pessoas. Ainda que fazer música seja uma alegria, a audiência não deveria saber o quanto eram difíceis as coisas nos bastidores, por seguirmos com a turnê sem Randy Rhoads. Era virtualmente impossível e, ainda assim, subimos ao palco todas as noites.”


(Rudy Sarzo)

sábado, 18 de novembro de 2017

Malcolm Young e a juventude que mora em nós


A morte do guitarrista e fundador do AC/DC, Malcolm Young, aos 64 anos, anunciada neste sábado (18), não somente reforça a certeza de que nossos heróis irão embora com o passar dos anos, mas escancara a constatação da passagem do tempo que nos atinge a todos. É o fim de uma era e mais um passo em direção a outra época, em que olharemos cada vez mais para o passado, em troca das expectativas de lançamentos dos artistas que construíram aquilo que entendemos por música.
Principal compositor e idealizador do conceito e do som rock and roll cru e poderoso do AC/DC, Malcolm e seu irmão Angus Young elevaram à enésima potência os riffs de seu ídolo Chuck Berry e adicionaram à fórmula toneladas de irreverência beirando a irresponsabilidade, forjada em litros e litros de cerveja, dentes quebrados em brigas de bar e porradas de pais e maridos enciumados. A simples menção ao nome AC/DC remete ao cheiro dos discos de vinil e à sensação de adrenalina correndo nas veias adolescentes no início das noites de sábado, com a antecipação de todo tipo de promessa que a vida poderia trazer.
Eles eram cinco maloqueiros que não tinham nada que os credenciasse ao sucesso, mas pela lógica do rock and roll, diferente de todas as outras, viraram exemplo para todos os candidatos a delinquentes do mundo. Eles eram a coisa real e faziam com que nós, moleques que iam beber cerveja e falar sobre discos no boteco da esquina, nos sentíssemos tão perigosos quanto eles, simplesmente por sermos seus fãs. 
Ouvir AC/DC é embarcar em uma máquina do tempo e sentir novamente a possibilidade de sermos tudo aquilo que não conseguimos ser, resgatar aquela sensação de que ainda há tempo para cometermos todas as loucuras que sua música nos impele a fazer.
Malcolm era a mola-propulsora desse sentimento. Ao lado de Angus Young, Bon Scott, Phil Rudd, Marc Evans, Cliff Williams e Brian Johnson, era o chefe de um bando que teve baixas ao longo do caminho, porque o caminho foi longo e trilhado sem economias. Malcolm dedicou a vida ao rock and roll e morreu. Aos 64 anos, quando a maioria das pessoas escolhe parar para viver.
Não importa o que Angus escolha fazer daqui pra frente, ou o que escolheu fazer desde 2014, quando Malcolm saiu da banda, devido à doença degenerativa que o vitimou neste sábado. Não se trata de julgar este ou aquele substituto, não se trata de preconceito com nomes ou estilos musicais. Trata-se de dignidade. De aceitação. De entender que o tempo passou e de agradecer todos os dias porque a música ficou. E com ela a possibilidade de resgatarmos por alguns momentos a juventude que mora em nós.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Jogo


A vida é basicamente um jogo de expectativa contra realidade. Sempre uma supera a outra, seja para o bem ou para o mal. Por mais experiência que tenhamos, nunca estaremos preparados o suficiente para o resultado dessa peleja. É preciso ter coração forte pra jogar, meus amigos.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Diferente


A pessoa realmente diferente das outras passa a vida desejando ser igual, pelo menos por um dia. Aquele que fica o tempo inteiro fazendo de tudo para mostrar que é diferente, geralmente, é o mais comum de todos.

domingo, 20 de agosto de 2017

Planos


Todos aqueles planos não concretizados não foram em vão. Em uma esfera muito superior, eles foram reais. Pois nos ajudaram a caminhar, nos fizeram chegar até aqui. São planos sagrados, não contaminados pela dureza da realidade. Os planos que parecem distantes são intocáveis e eternos.

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Maturidade


A tal da maturidade chega quando a gente finalmente aceita que não se pode ter tudo na vida. Para muito além do clichê "a vida é feita de escolhas", essa certeza vem da batalha diária em busca daquilo que é bom na vida e que, ao mesmo tempo, se adeque às nossas necessidades. É uma peleja dura, que pode seguir por anos a fio e inclusive deixar sequelas. Mas é preciso sentir na pele, para que a lição seja bem apreendida. 
Tudo começa no supermercado, quando você é criança e só pode escolher um doce, em vez de levar todos os que estão expostos. E a mesma frustração que sentimos naquele momento vai nos perseguindo por décadas. Até que, um belo dia, você descobre que, para ter paz de espírito, é fundamental aceitar que "o melhor dos dois mundos" não é possível na maioria das áreas da vida.
Nem sempre dá pra fazer o que gosta e ao mesmo tempo ganhar dinheiro, beber todas as noites com os amigos e ter saúde, conquistar espaço em seu segmento profissional sem trabalhar muito, ceder a todas as tentações do mundo sem magoar quem amamos e quem nos ama. 
Seja pelo caminho da dor ou do amor, um dia a vida ensina que é preciso escolher e aceitar todas as consequências de nossas escolhas. Isso é maturidade.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Quebradeira


Tem um exército marchando dentro da sua cabeça, munido de bastões de beisebol, pedaços de pau e tijolos, sedento pra começar a quebrar tudo que vê pela frente. O melhor a fazer é tentar relaxar, aguentar firme o tranco e deixar a quebradeira rolar, pra depois varrer os cacos e ficar apenas com aquilo que permaneceu inteiro.

Antídoto


Vivemos tempos sombrios, de intolerância, insensibilidade e violência. É preciso força e coragem, para não sucumbirmos em tristeza e desânimo. É preciso adotar cãezinhos, para nos humanizarmos. Ficar próximos de pessoas queridas, para nos abastecermos de amor. Visitar os amigos, para reafirmarmos nosso pertencimento. Relembrar sempre de onde viemos, pra não esquecermos para onde queremos ir. É preciso vestir nossa armadura de luz, para nos protegermos das trevas.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Chute


A bola que o menino chutou acertou o meu carro. Outro dia mesmo era eu aquele menino. Quase estacionei e fui lá pedir desculpa por não poder jogar com ele.

terça-feira, 30 de maio de 2017

Partida


O tempo nos proporciona um modo mágico de nos despedirmos desse mundo. Conforme as pessoas que amamos vão indo embora, vamos ficando meio que com um pé aqui e outro lá, desejando, mesmo que secretamente, estar no lugar onde estão. Assim, aos poucos, vamos nos desprendendo, até o dia em que a vida fica tão desinteressante que não resta outra alternativa senão partir.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Equilíbrio

Viver é andar na corda bamba sem rede de proteção. Quando a noite vem e o vento sopra forte, a música me faz seguir adiante. Sem olhar pra baixo.




terça-feira, 11 de abril de 2017

Oceano


A vida é um sopro e ninguém está preparado pra isso. Ninguém está preparado para a decadência física e mental, para ter consciência do que está ali adiante com o passar dos anos, para se olhar no espelho e não se reconhecer. Ninguém está preparado para abraçar uma pessoa e dizer que a ama, só para no dia seguinte, na hora seguinte ou no minuto vindouro ter que aceitar que nunca mais terá aquele abraço, aquela companhia, aquele olhar, aquela presença acalentadora. Há vinte e cinco anos tínhamos uma vida que não estávamos preparados para deixar, e ela se foi num piscar de olhos, sem que tivéssemos controle sobre as mudanças. Projetamos vinte e cinco anos à nossa frente e, dependendo da nossa idade, de nosso espírito, não sabemos se o panorama é positivo. A vida é cheia de vastas planícies e crepúsculos maravilhosos. Mas é também uma cela, que nos condena ao mesmo destino, tão certo como a beleza de tudo que experimentamos e que não queríamos que fosse embora. Tudo de lindo que há no mundo nos é concedido com uma mão e tirado com a outra. E temos que nos resignar, agradecidos pelo nosso tempo, porque não somos diferentes do outro que se foi cedo ou daquele que desfrutará das paisagens por mais tempo, mas verá a decadência mais de perto. Toda a beleza do mundo nos foi emprestada, pois teremos de ir embora da festa a qualquer momento. E ela vai continuar para sempre, com convidados entrando e saindo, fazendo dela um grande acontecimento, embora ninguém precise ficar para que o espetáculo siga em frente. A vida é um oceano de dores, amores, olhares e sonhos, navegado por milhares de marujos de primeira viagem, que partirão antes que aprendam o suficiente para dominar as marés. 

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Segredos


O tiozinho que vende doces na calçada, em frente ao posto de saúde, conta piadas para alegrar a fila de idosos e mães com crianças de colo que acordaram às quatro da manhã pra conseguir seu remédio, enquanto disfarça a dor de um divórcio recente. O senhorzinho mais assíduo e alegre do bar, que fica na última rua do bairro mais afastado do centro da cidade, sempre está disposto a fazer todos rirem, enquanto guarda no peito mágoas que o matam um pouquinho a cada dia. A senhorinha que faz café e serve aos empresários mais ricos, reunidos na sala anexa à do prefeito, sempre agrada a todos com seu sorriso simpático, antes de encerrar mais um dia de trabalho e se dirigir ao turno da noite, para cuidar com amor e paciência de seu filho com paralisia cerebral. Ninguém nunca soube. Jamais alguém saberá.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Pedra bruta


A sobrevivência tem um custo. Se você sobreviveu, significa que deixou alguns de seus pedaços no caminho. É impossível não ficar uma ou outra parte de nós para trás, em algum trecho mais complicado. Ao mesmo tempo, quando se permanece vivo, continua acesa a esperança de que um dia essa pedra bruta seja lapidada e chegue ao formato exato que lhe foi destinado.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Fim do mundo

A verdade é que as pessoas que amamos envelhecem e morrem. E o mundo vai acabando assim, bem diante de nossos olhos. O resto é ilusão.


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A uma cidade

As raízes que me prenderam à cidade foram bem mais persistentes que as asas que ansiavam pela partida. Hoje me deito sob o sol escaldante, que já secou a seiva e tirou a vontade de voar. Feliz 200 anos de solidão.


Carnaval

Gente muito efusiva me assusta. Não sei se dou pulinhos de alegria com a pessoa, se saio correndo ou se fico em posição fetal chorando e torcendo pra ela ir embora. E o carnaval é um festival de efusividade.


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Resumo


A vida se resume a pagar contas, tentar emagrecer e procurar com todas as forças não se tornar uma pessoa amarga. Porque pessoas amargas são chatas e se você tiver contas a pagar, estiver um pouco gordo e ainda por cima for chato, aí complica tudo.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Cumplicidade


Alguns dos livros de meu pai, de 30, 40 anos atrás, são mantidos cuidadosamente nas minhas estantes. Parte deles talvez nunca lerei. No entanto, apenas saber que meu pai os leu dá uma certa sensação de segurança, uma conexão a mais, uma energia positiva, uma cumplicidade, por levar adiante a missão de guardá-los aqui comigo, igual ele fazia.