terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Cinismo e fé

Uma das principais armadilhas do mundo, na qual quase todos caímos, é nos tornar cínicos. Com o passar dos anos, essa é a tendência, até para que possamos sobreviver nessa sociedade doente. Mas o nível de cinismo não pode se sobrepor ao que é essencial. Caso contrário, essa visão demasiadamente sombria do mundo nos faz ficar cegos para aquilo que nos fez sonhar por tanto tempo, porque um dia deixamos de esperar. Para que possamos notar os pequenos milagres, é preciso acreditar neles. A vida presenteia quem tem fé.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Humildade

Humildade é aceitar com serenidade quando o despertador toca de manhã, com a consciência de que qualquer grande alegria ou tragédia pode acontecer a partir do momento em que nos levantarmos.
Humildade é aceitar quando uma pessoa que amamos morre como um fato da vida que não nos torna mais desgraçados que ninguém, mas, pelo contrário, nos alinha aos outros humanos.
Humildade é aceitar que estamos ficando velhos, manejando as limitações que vêm com o passar dos anos com a mesma sabedoria com que um dia desfrutamos das vantagens da juventude.
Humildade é saber parar de chorar e saber quando não rir. É ter capacidade de ouvir por saber que, em alguns momentos, falar é menos importante que acolher as necessidades de um irmão, mesmo que elas batam de frente com aquilo que você mesmo precisa naquele momento.
Humildade é ter a capacidade de lidar com sentimentos que vêm de lugares escondidos de nossa alma, e que nos obrigam a tomar decisões que não se adequam a debates públicos, pois cabem única e exclusivamente a nós.
A humildade nos ampara na hora da alegria e na hora da tristeza. Nos ajuda a entender a dor e a vivenciar o prazer. Humildade nos ajuda a viver.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Malcolm

Quando John Lennon morreu eu tinha 10 anos. Senti sua morte, mas de forma diferente, pois não conhecia sua obra ainda. Pelo contrário: a morte de Lennon foi o que me fez gostar de música. Ao sentir a comoção mundial em torno de sua perda, fui correr atrás de saber quem eram os Beatles e isso fez com que começasse a gostar de rock. Atrás dos Beatles vieram AC/DC, Iron Maiden, Black Sabbath, Rush, Deep Purple, Led Zeppelin e todas as outras bandas que amo. Por causa da morte de Lennon eu enchi o saco do meu pai até ele comprar minha primeira bateria, quando tinha 15 anos. Foi a partir daquela perda que eu frequentei festivais, toquei, fiz amigos, bebi até ver o sol nascer, chorei e sorri ouvindo música e tenho certeza que morrerei surdo e feliz. Portanto, senti muito a morte dele, mas de uma maneira que mudou minha vida, me deu alegrias e não tristeza.
A outra morte de um artista do rock que me deu um baque grande foi a do vocalista Ronnie James Dio, em 2010. Essa foi a morte que me fez encarar que meus ídolos estão envelhecendo. Que eles são imortais em suas obras, mas que uma hora ou outra todos acabarão dando adeus a esse mundo doente, mas que se tornou muito mais habitável por causa de seus talentos.
O terceiro grande choque veio este ano, com a doença do guitarrista, fundador e principal compositor do AC/DC, Malcolm Young, que sofre de demência e está fora da banda. Quem vê seu irmão Angus Young no palco pode se enganar, mas foi Malcolm o mentor do grupo e ele é o autor dos riffs mais nervosos do rock and roll. Foi ele quem pensou "ei, meu irmão de 16 anos toca muito e é um louco performático, vamos colocá-lo na banda?". Ele é o cara por trás da maior entidade do hard rock em todos os tempos. Ele é o responsável por muita coisa, nas vidas de tanta gente.
O grupo vai lançar disco novo e sair em turnê, com o sobrinho Steve Young em seu lugar. Acho justo, tanto com o público quanto com o legado da banda. Alivia um pouco a tristeza. Dá esperança de ainda termos boa música pela frente, até que todos eles se vão. E nos lembra que, mesmo depois de suas mortes ou da minha morte, o som continuará. Eternamente. Enquanto existirem garotos de dez ou doze anos, cheios de hormônios e de adrenalina pra queimar, lá estará rolando AC/DC, Black Sabbath, Beatles ou qualquer outro som legal. Lá estarão Lennon, Dio, Malcolm e todos os outros. Let There Be Rock!




Se matasse...

Tenho poucos arrependimentos. Muito poucos, quase nenhum. Um deles é não ter visto o Ramones ao vivo quando tive oportunidade. Sim, sou superficial assim mesmo.

Beleza

Só pra lembrar que a atriz francesa Brigitte Bardot, que completou 80 anos no dia 28 de setembro de 2014, é uma das mulheres mais belas que já colocou seus pezinhos neste planeta.

Titularidade

Já entrei em campo e acabei com o jogo, fiz golaço, dei chapéu e tudo. Também já fiz muito gol contra. Mas, em todas as vezes, jogando como titular. Sentar no banco de reservas não é meu forte. Evidentemente, não estou falando de futebol.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Microscópio

A vida acontece na pegada do dia, da hora, do minuto, do segundo. No olhar, no arrepio do toque, no sorriso esboçado no canto da boca, no detalhe do cabelo jogado sobre a orelha esquerda, nos momentos que antecedem o beijo. Ela pode ser grande e até grandiosa, mas está apenas no segundo presente, que já foi embora. A vida não está no ontem e nem no amanhã. Por maior que seja, a vida só faz sentido no microscópio.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Futuro

Um belo dia o futuro chega. E já não dá mais pra esperar.

Kafka

Nem todo mundo que desperta de manhã após uma noite de sonhos agitados se vê transformado em uma barata.

Firula

Se eu fosse jogador de futebol, seria aquele atacante que sempre dá um toquinho a mais na bola ou faz uma firula extra antes de chutar e acaba perdendo o gol feito. Mas chega uma certa altura da carreira em que as deficiências acabam sendo corrigidas.

Liberdade

Um mundo tão cheio de gente com opiniões sobre tudo, repleto de especialistas nos mais diversos assuntos, demanda que nossa personalidade seja a cada dia mais afirmativa. E as redes sociais são a morada preferida dessa multidão de donos da verdade. Quem se apóia na opinião alheia para conduzir seus atos não vota em ninguém, não gosta de doce nem de salgado, não compra nenhum carro porque nenhum deles presta, não dá um passo, com medo de estar fazendo algo errado. Mil vivas ao caminho do livre arbítrio, do erro e do acerto, das tentativas frustradas e dos recomeços, da estrada mais pedregosa e das ações movidas pelo coração!

Perdas

Às vezes, algo se perde no meio do caminho. Mas isso nem sempre é ruim. O que se perdeu pode ser justamente aquilo que impedia uma caminhada mais leve. E o que sobrou é verdadeiro e nos ajudará a seguir em frente.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Mergulho

Seus olhos são rio caudaloso. De água límpida e tépida. Mergulho e me banho todos os dias. Sem medo de me afogar. Faço-me peixe pra não precisar mais voltar. Viver é não parar de nadar. Viver é mergulhar.

sábado, 30 de agosto de 2014

Esconderijo

Corto todas as conexões. Dou adeus às velhas e novas ilusões. Destruo cada pedaço de chão que me trouxe até aqui. Espalho a bagagem pelo caminho. Vendo meus olhos pra não saber voltar. Me escondo em você.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Intensidade

A tal da intensidade, do querer tudo e o mais rápido possível, de desejar com toda a força que se tem no peito, de querer abraçar o mundo e o fundo, de ir até onde ninguém chegou e voltar correndo só pra depois ter vontade de ir novamente. A tal da intensidade, transformando céu em inferno e inferno em céu, em questão de segundos.

Proteção

O que está guardado dentro do coração está bem cuidado. Está protegido. Longe dos estragos que a vida pode causar e a uma distância segura das sombras que nos atormentam. Porque é feito de luz e com ela ninguém pode.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Reconstrução

Acordar, trabalhar, amar, rir, chorar, encantar, decepcionar, ganhar, perder, espernear pra ser feliz nesse pedaço de terra e com essa gente que nos cerca e que tudo vê, tudo lê, tudo crê, tudo sente. Se despedaçar, se refazer, se reinventar, construir uma história e reelaborar o que está errado. Deixar os vícios ruins e ultrapassar os obstáculos. Largar pelo caminho aquilo que nos fere o espírito. Guardar aquilo de bom que o coração protege. Buscar a eternidade de um olhar manso e terno. Viver em plenitude. Viver tudo que há e alcançar aquilo que não houve. Sonhar, correr e depois voltar, só pra ter vontade de ir de novo e tentar novamente. E deixar pra trás o que não serve mais, buscando o recomeço de novo. Fazer diferente e ser diferente. Ser importante, oferecer o ombro, ter pessoas, ser uma pessoa. Aproveitar cada oportunidade de colocar uma nova peça nesse quebra-cabeça do qual somos feitos. Viver é se reconstruir.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O anos de ouro

Não sei se isso é motivo de hostilidade por parte de pessoas de inteligência mais elevada, mas considero o ofício de escrever letras de músicas quase uma forma de arte. Claro que, assim como na literatura, no cinema ou em qualquer outra área, tem muita porcaria. E mesmo o conceito de "porcaria" é vago. O fato é que gosto de muitos letristas de rock, como Neil Peart, Roger Waters, Neil Young, Bruce Springsteen, Bob Dylan, Paul McCartney, John Lennon e por aí vai. Mas, devo dizer que o Iron Maiden tem na música Wasted Years uma das letras mais incríveis já escritas, em minha opinião.

"Então, entenda
Não perca seu tempo sempre procurando por aqueles anos desperdiçados
Levante a cabeça, tome sua posição
E compreenda que você está vivendo os anos de ouro"

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Antes que o tempo nos engula


Olho pela janela e vejo um milhão de rostos flutuando, todos à espreita, esperando pela oportunidade de atacar. Olho para dentro e vejo uma multidão de armadilhas, prontas para disparar ao meu menor vacilo. Corro sem direção, sem olhar para trás, sentindo o som alto da respiração e os batimentos cardíacos cada vez mais desesperados, como se meu coração fosse um animal selvagem, prestes a explodir em fúria. Persigo o inalcançável, com o tempo bufando atrás de mim, implacável, insistente, perturbador. Tento alcançar a glória, antes que o tempo nos engula.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Um de cada vez

Deixa rolar o dia, um de cada vez. Só esse, só mais um e pronto. Se vier outro, ótimo. E se esse outro se somar a mais outro e lá na frente acabar formando uma semana, que venha outro e quem sabe depois ganharemos um mês, um ano, uma vida. Mas sempre um de cada vez.

sábado, 31 de maio de 2014

King e a sonzeira


O escritor norte-americano Stephen King gosta de abrir ou terminar os capítulos de seus livros com citações de letras de rock. Algumas de suas bandas preferidas são AC/DC, Rolling Stones, The Who e Ramones. E como em muitos casos a admiração é recíproca, algumas bandas gravaram músicas especialmente para ele, como é o caso do Ramones, com Pet Sematary, música tema do filme originado por seu livro, ou o AC/DC, que gravou Who Made Who para o filme Maximum Overdrive, primeira e última experiência de King como diretor de cinema. De vez em quando, ele tira do fundo do baú citações de clássicos da música Pop dos anos 50, 60 e 70, quando se fez o melhor som nesse estilo. Além de ser mestre em contar histórias de suspense e terror psicológico, exímio explorador dos medos coletivos e pessoais do homem moderno, Stephen King é amante e profundo conhecedor de música.

Para quem se interessou pelo assunto, vale a pena clicar nesse link, que lista algumas das músicas citadas em cada livro: http://stephenking.livejournal.com/607334.html


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Preguiça



Às vezes dá preguiça extrema. De sons, imagens, odores, toques, sabores, dissabores e humores. De pessoas, do mundo, do submundo e do intramundo. Do passado, do presente, do futuro e do além. Do que fui, do que sou, do que serei e do que não mais estarei. De caminhar, de rastejar, de correr, de morrer. De ir, de ficar, de estar. De sorrir, de chorar, de gritar, de lutar, de viver. Preguiça.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Retorno


Frequentemente eu me perco. Viro a esquina errada, escolho um atalho que parece convidativo, mas que leva a um beco sem saída, faço meia volta e, no meio do caminho, quando estou quase chegando, entro de novo numa viela suspeita e desperdiço mais meia hora. Depois ando quilômetros e quilômetros em linha reta, a toda velocidade, só pra descobrir que estou exatamente no sentido contrário ao que deveria estar. Volto, vou fazer a rotatória e entro na rua paralela à avenida certa, pergunto a direção pra alguém, mas cometo a proeza de virar no segundo semáforo em vez do terceiro e novamente vou parar a uma distância enorme do meu destino. Sempre me perco. Mas sempre consigo voltar.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Graça Sob Pressão


Sempre gostei bastante dessa imagem, que faz parte do trabalho de arte gráfica que o designer Hugh Syme executou para o disco "Grace Under Pressure", da banda canadense Rush, lançado em 1984. A própria expressão que dá nome ao disco tem um significado bastante forte e essa fotografia em particular a define muito bem.
"Grace Under Pressure" pode ser traduzido livremente como "Graça Sob Pressão", ou seja, a atitude serena que uma pessoa consegue manter mesmo diante de prazos apertados de entrega de um trabalho ou de pressões diversas e olhares desconfiados sobre qualquer tipo de atividade que esteja executando. É a capacidade de se manter frio e confiante, mesmo vivendo sob intensas atribulações.
É mais ou menos o cotidiano de todos nós no mundo de hoje, em que ondas crescentes de violência e demonstrações explícitas de ignorância nos cercam e tendem a nos deixar deprimidos, fazendo com que seja um desafio cada vez maior viver com esperança de que dias melhores nos aguardam. Cada esquina que dobramos se tornou um desafio perigoso nesses tempos sombrios e, mesmo assim, devemos encontrar forças para que nada disso contamine nossa alegria de viver, nossa capacidade de amar, de trabalhar, de sermos felizes. Haja graça sob tanta pressão.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Desapego


Não sei se já falei pra alguém, mas o fato é que nunca estive tão em paz na minha vida. A paz que vem do desapego de tudo, inclusive da própria vida. E isso não é ruim. O desapego te faz enxergar o mundo de outra perspectiva, prestando mais atenção no plano geral e não em pequenos detalhes que só nos poluem a visão. Não sei se é o passar dos anos ou o acúmulo de experiências - quase a mesma coisa, mas nem sempre -  mas uma hora o futuro passa a não ter tanta importância. E a gente aproveita de bom grado todos os presentes que a vida nos dá. O desapego tira a ansiedade. Nos faz aproveitar melhor o acaso, que é uma de nossas maiores dádivas. Como escreveu Paulo Leminski, "o que vier, eu assino". Assino também, inclusive embaixo do que ele escreveu. Sobre o passado, nada importa. Estou em paz em relação a ele também.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Paciência


Se um dia conheci uma pessoa sábia foi meu pai. Não porque era meu pai. Mas porque era sábio mesmo. Quem conheceu sabe. O que eu aprendi de mais importante com ele foi que, para se viver bem, é preciso basicamente ter muita paciência. Para um ansioso patológico é difícil absorver essa lição. Mas ela anda sempre comigo.

Tortos


Quando a gente nasce torto, o cuidado precisa ser redobrado. Tem que prestar atenção direitinho onde pisa, em qual esquina vira, pra quem pede informação, em quem confia, pra onde a trilha leva. Precisamos voltar pra casa direitinho, íntegros. Ou, pelo menos, com poucos arranhões. E de preferência que os arranhões sejam de paixão e não de ódio.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Gratidão



Se eu morrer hoje, está bom demais. Tive uma vida ótima. Fiz amigos, me diverti, ri bastante, assisti muitos shows, tive minha cota de amores e desamores, alegria, choro, tudo na medida correta. Mas isso não quer dizer que eu quero morrer. Pelo contrário, quero viver muito mais e buscar o dobro do que conquistei até aqui. Mas é que, vez ou outra, vejo notícias de moleque de 18 anos que teve um ataque do coração fatal na academia ou praticando esportes e penso: porra, o que eu estou fazendo vivo? Tem criança que morre de câncer e isso é muito triste. É aí que eu penso: se eu morrer hoje tive o privilégio de ver bastante coisa, muito mais do que essas pessoas que morreram tão cedo. Então, se eu morrer agora, está bom demais. Queria ter feito muito mais e provavelmente farei. Mas sou grato pelo que tenho.Não é vontade de morrer. É gratidão.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Dádiva


Será que o fato de nada na vida ser absolutamente garantido exceto a morte - e mesmo esta vir sem hora marcada - não é justamente o que faz essa nossa pequena aventura ter graça? Em vez de ficarmos ansiosos pela imprevisibilidade, não deveríamos justamente aproveitar o inesperado como uma grande dádiva?

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Doenças do coração


Paixonite aguda só faz mal quando se torna crônica. Neste caso, ela deixa de ser paixonite e passa a ser denominada como paixão. Por sua vez, a paixão só faz bem quando evolui e se torna amor, que é o último estágio da doença. O amor não prejudica ninguém. Quanto mais o paciente adoece, mais próximo da cura ele chega.

Ainda sobre o tempo


O tempo é, na mesma medida, nosso melhor amigo e nosso mais cruel inimigo. Ele dá com uma mão enquanto tira com a outra. Para o bem ou para o mal, o tempo é tudo o que temos.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

15 coisas que quase ninguém sabe (ou sabia, até agora)


1 - As pessoas tendem a duvidar disso, mas sempre fui extremamente tímido. Melhorou bastante, mas continuo sendo. Só que agora eu falo um monte de besteira pra todo mundo sem parar, pra disfarçar.

2 - Quando eu era moleque desenhava muito bem. Herdei esse talento do meu pai. Aos 12 ou 13 anos, olhava pra cara de um amigo do meu pai e desenhava seu rosto em cinco minutos, igualzinho. Eles diziam que eu tinha "memória fotográfica". Infelizmente parei de desenhar, mas queria voltar um dia.

3 - Quando meu pai morreu, tive que dirigir sozinho até o hospital para encontrar meus tios, que já tinham levado minha mãe pra lá. Foi o momento mais solitário da minha vida, ao lado do banho que eu tomei antes de ir.

4 - Depois que eu voltei do enterro do meu pai, sentei no sofá da sala, olhei pra minha mãe e comecei a chorar dizendo "quem vai ver jogos de futebol comigo agora?". Isso aconteceu há 15 anos e até hoje, quando começa um jogo na TV, esteja eu onde estiver, minha mãe vai até mim ou me liga perguntando se eu não quero assistir com ela. Pra mim, o nome disso é amor.

5 – Pode parecer bobo isso, mas um dos maiores sonhos da minha vida era ver a banda inglesa Saxon ao vivo. Matei a vontade em 2011.

6 - Fiquei seis anos e meio sem beber. Apesar de eu gostar de beber, foi uma experiência muito boa e pretendo repeti-la uma hora. Sou mais legal sem beber.

7 - O primeiro show gringo que vi na vida foi o do Motörhead, em 1989, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

8 - Em 1990, por aí, escrevi uma carta para a Folha de São Paulo, mais especificamente para o caderno Folhateen, dando os parabéns por eles terem feito uma matéria sobre o Rush, achando que não publicariam. Eles publicaram.

9 - Eu toco bateria desde os 15 anos e minha primeira banda se chamava Césio 137. Eu tocava ao lado de meu irmão Ricardo (guitarra), do Tatão (baixo) e do Marcote (vocal).

10 - Uma vez toquei numa festa no Diretório Acadêmico da Faculdade de Odontologia de Araraquara, em 1992, por aí, na banda Tribal Dance, ao lado de Talo (vocal), Adalba (guitarra) e Newman (baixo). Nunca vi uma festa no DA tão lotada.

11 - Quando tinha uns 10 anos, deitei de bruços num carrinho de rolimã e fui dar um rolê no corredor de casa. Mas estava faltando um taco no chão. O carrinho ficou e eu fui. Tenho uma cicatriz no queixo até hoje por conta disso.

12 - O primeiro cachorro da minha família, quando eu era bem molequinho, era um vira-lata chamado Bingo. Era bravo, mordia todos os estranhos e era muito sem-vergonha. Fugia, ficava uns cinco dias fora e depois voltava cansadão, sujo e feliz. 

13 - Em 2008 fiquei 20 dias na casa de meu amigo Tunão em Montreal, no Canadá. Nesse período de tempo, passamos três dias em Nova Iorque e eu fui um domingo sozinho para Toronto. Em Nova Iorque eu cheguei para um funcionário do edifício Dakota, onde John Lennon morava, e perguntei: “Does Yoko still lives here?” (Yoko ainda mora aqui?). Com um sorriso maroto no canto da boca, ele respondeu: “I'm not allowed to give that information” (Não posso dar essa informação).

14 - Uma de minhas camisetas de banda preferidas é uma do Black Sabbath com uma foto de Ozzy, Iommi, Butler e Ward, que já tem uns 8 anos. Em 2013 tive o privilégio de ver o Sabbath com Ozzy ao vivo. Fui com ela.

15 – Tenho muita dificuldade para mentir. Quando tento, geralmente passo vergonha.

terça-feira, 29 de abril de 2014

O sabotador deve morrer


Não existe nada mais perigoso no mundo do que o sabotador que mora dentro de nós. A vida exterior é cheia de armadilhas, mas o mal maior vem de dentro. Ele é o mais ardiloso inimigo que se pode imaginar, porque conhece todos os nossos pontos fracos como mais ninguém. Sabe bater exatamente onde dói mais, porque tem intimidade com cada uma das bagagens emocionais que carregamos. Tem prazer em nos lembrar daquilo que queremos esquecer. Consegue nos atingir com uma crueldade maior. Alguns o chamam de sombra, pois ele só existe porque existimos. É parte de nós e fica sempre à espreita, sem que percebamos, até que, nos momentos mais inoportunos, vem à tona. E suga tudo o que existe de bonito e forte em nosso peito. Faz com que fiquemos exaustos, combalidos, sem energia, e nos leva a acreditar que não merecemos uma vida de verdade. Convence-nos de que a a verdade só existe onde não pisamos. E que viver de mentiras é nossa sina. Rouba todos os nossos sonhos. Priva-nos de todas as mais belas ambições. O sabotador, ele deve morrer.

domingo, 27 de abril de 2014

Coração jovem


Ter um coração jovem é uma maldição. Eu queria que ele ficasse velho, desbotado, calado, cabisbaixo. Mas ele não para de pular, gritar e perambular por aí. Não consigo dominá-lo, de jeito nenhum. Ele manda em mim, me faz de refém, me deixa encabulado na frente dos outros. Sinceramente, não sei mais o que fazer com ele.

sábado, 26 de abril de 2014

A palavra morreu


Às vezes parece que a vida parou. Estagnou, estancou, parou de fluir. Aquele menino que escrevia redações ficou obsoleto, não tem mais valor. As palavras não significam mais nada. Escrever era prazeroso, mas agora dói. Hoje, escrever é um pouco como viver.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

A verdade é volúvel


Nunca fui o dono da verdade. Nunca. No máximo, a tomei emprestado por dois ou três minutos. Mais ou menos o tempo limite em que ela fica de posse de alguém, até se cansar e ir parar em outra freguesia. De onde irá viajar novamente e assim por diante, infinitamente. Verdade seja dita, só a possui, mesmo que por alguns minutos, quem não faz questão de ser seu dono. Quem quiser tê-la só para si, automaticamente a perderá.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Jaulas invisíveis

As relações são cada vez mais superficiais, inconstantes e temerosas. O mundo se transformou em um imenso zoológico, cada um de nós andando por aí em jaulas invisíveis. Se aproximar das pessoas é correr o risco de ser mordido. No passado, algumas feridas nos fizeram sangrar quase até a morte. Por isso, nem tentamos. Seguimos nossos caminhos, acuados dentro de nossas próprias redomas.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Brick by Brick

O Brick by Brick, disco do Iggy Pop de 1990, é uma coisa de louco mesmo, né? A curiosidade é que nesse disco Iggy recebeu o tratamento que merece da gravadora, o que nem sempre acontece, mesmo com músicos de seu porte. O produtor foi o lendário Don Was, que havia trabalhado com artistas como Rolling Stones, Bob Dylan e Elton John. Além disso, Slash e Duff McKagan do Guns 'n' Roses tocaram e compuseram todas as músicas com Iggy e as gravações tiveram participação de Kenny Aronoff na batera e outros convidados, incluindo Kate Pierson, que divide os vocais com Iggy na belíssima Candy. 

"Nobody knows If she'll live or die
He wishes he was the cute one
But he's just the big one
He needs to rock and roll"

Baladonas do Hard Rock

Goste-se ou não do estilo, a história da música pesada já tem um capítulo à parte chamado "Baladonas do Hard Rock", dedicado a bandas como Scorpions, Whitesnake, Nazareth, Def Leppard, Queen, Led Zeppelin e Aerosmith, só pra citar algumas. Elas se especializaram nesse quesito, que dominavam desde a década de setenta. Lógico que os Beatles e os Stones fizeram muitas baladas maravilhosas nos anos 60 e os que vieram depois são seus herdeiros diretos. Mas a referência aqui é o hard rock dos anos 70 em diante. Sim, existem baladas medonhamente ruins, seja pela música ou pelas letras. Mas algumas das bandas que fazem parte da nata do rock and roll provam que não precisa ser assim.

"Rising with the morning sun
I turn to greet the dawn,
Knowing I must face another day
Sleepless night behind me,
Just a memory of pain,
My heart has always been a cross to bear

Lord I know the sunshine,
But, I feel the tears of rain
Falling down to wash my sins away
I'll try hard to remember
So I won't be fooled again,
Hey, ain't gonna cry no more today"

(Ain't Gonna Cry No More Today - Whitesnake)




Montanha-russa


A vida é uma montanha-russa. Se viajássemos sempre em velocidade cruzeiro e na mesma altura, não sentiríamos tanta graça quando a coisa fica emocionante de verdade. Os momentos de tensão e desespero são necessários, para que se valorize os trechos de calmaria. Nada do trajeto é desperdício. Tudo é parte importante da viagem.

Agora, um mundo sem poesia


É curioso como as lembranças que temos de alguns períodos de nossas vidas estão conectadas a uma música que ouvíamos ou a um livro que estávamos lendo. Quando ouvimos falar de um livro legal ou de uma canção que conhecemos em certa época, imediatamente todas as sensações que nos cercavam naquele contexto nos invadem. Recordamos as pessoas com quem nos relacionávamos, da fase da vida em que estávamos, do lugar onde morávamos e por aí vai.
Lembro-me perfeitamente da época em que li Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Eu morava em um prédio bem antigo no centro de Bauru, em 1996, onde só viviam estudantes. Era uma época relativamente conturbada da minha vida. Eu não tinha certeza se aquele era o curso que eu queria fazer, ao mesmo tempo em que me achava muito velho para abandoná-lo. Eu gostava muito de Bauru, mas sentia falta de meus amigos de Araraquara. Eu sentia saudade do que estava deixando, enquanto saudava o novo. Uma mistura de sentimentos que deixavam minha cabeça confusa.
Passei um dia em um sebo e comprei Cem Anos de Solidão. Quando mergulhei naquele livro, percebi que a saga cheia de dor, prazer, alegria e sofrimento da família Buendía na aldeia de Macondo era tudo o que precisava para me sentir melhor. Eu lia e lia e lia o livro antes de dormir e, quando me deitava, sonhava com seus personagens, que povoavam meu imaginário dia e noite. Eu acabava criando meus próprios capítulos durante o sono, como se minha mente se recusasse a vir à tona após aqueles mergulhos nas desventuras criadas por Gabo.
Nada mais natural que aqueles personagens reaparecessem durante a noite, pois com seu realismo fantástico, Gabriel García Márquez conta histórias que têm pessoas de carne e osso, mas que fazem coisas que só são possíveis em sonhos. Tudo é permitido em seu universo e daí vem grande parte da identificação e da paixão do leitor pelo livro. Gabo descreve o mundo ideal, para que possamos fugir de nossa realidade tão limitada. Os personagens podem tudo, apesar de sofrerem as dores que todos nós sofremos.
Uma das passagens mais impressionantes do livro, a qual nunca mais esqueci, e que me fez chorar quando li, na verdade, foi quando morre um dos personagens, José Arcadio Buendía, e, para descrever a dor que aquela perda causou e a ternura que sentiam todos que o amavam, Gabo termina o capítulo assim: "Pouco depois, quando o carpinteiro tomava as medidas para o ataúde, viram pela janela que estava caindo uma chuvinha de minúsculas flores amarelas. Caíram por toda a noite sobre o povoado, numa tempestade silenciosa, e cobriram os tetos e taparam as portas, e sufocaram os animais que dormiam ao relento. Tantas flores caíram do céu que as ruas amanheceram atapetadas por uma colcha compacta, e eles tiveram que abrir caminho com pás e ancinhos para que o enterro pudesse passar". É o que todos nós queremos que aconteça após a morte de uma pessoa querida.
Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1982, Gabriel García Márquez é descrito, principalmente por Cem Anos de Solidão, como um escritor que mudou vidas. Não é por acaso. Ele nos ensinou a ver a realidade como deveria ser. Com mais delicadeza e sensibilidade. Seus livros permanecem imortais, mas é inevitável o sentimento de que o mundo perde bastante de sua poesia sem que Gabo esteja entre nós. É como o sentimento de todos que terminam de ler Cem Anos de Solidão: tristeza porque a história acabou e vontade de relê-lo imediatamente.
Uma tempestade de minúsculas flores amarelas ainda seria muito pouco pra essa noite.

terça-feira, 15 de abril de 2014

Essência

À primeira vista, tudo que tenho cabe em quatro ou cinco caixas e tudo que sou cabe em um cinzeiro. Mas não. Sou minhas vitórias e também minhas derrotas. E possuo sonhos que não são de mais ninguém. Muitos deles permanecerão, mesmo depois que o vento soprar as cinzas.

Tempo amigo


O tempo não perdoa ninguém. Mas o que fazemos com ele, a maneira como o tratamos, o modo como nos ocupamos dele, determina o quanto ele será ou não carrasco conosco. Ele pode nos retribuir com o mesmo carinho com que o tratamos ou nos punir com o mesmo desdém com o qual o encaramos.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Um homem melhor

Em "Melhor é Impossível", filme dirigido por James L. Brooks e lançado em 1997, o ator Jack Nicholson apresentava ao mundo talvez seu último grande personagem, de uma lista extensa, que vem desde os anos 60 com Easy Rider, passa pela década de 70 com O Iluminado e Um Estranho no Ninho, anos 80 com O Destino Bate à sua Porta e Laços de Ternura - também dirigido por Brooks - e termina neste filme.
Aqui ele interpreta um escritor novaiorquino com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que se isola do mundo, mas acaba se interessando pela garçonete Carol Connely, interpretada por Helen Hunt. Com esse filme, Nicholson ganhou seu segundo Oscar de melhor ator (já havia faturado por Um Estranho no Ninho).
Nesse trecho do filme, seu personagem Melvin Udall faz uma declaração de amor toda bizarra e atrapalhada para Carol. A genialidade de Nicholson ao entregar o texto acaba transformando o diálogo em uma das mais belas cenas de amor da história do cinema. 

Melvin - Eu tenho um elogio realmente bom pra te fazer. E é verdade.

Carol - Tenho medo que vá dizer algo horrível.

Melvin - Não seja pessimista, não é seu estilo. Ok, aí vou eu: Eu tenho essa doença e o médico ao qual eu ia me dizia o tempo que em 50 a 60% dos casos pílulas realmente resolvem. Eu odeio pílulas, são muito perigosas, as pílulas. Odeio. Eu estou usando a palavra ódio aqui, sobre as pílulas. Meu elogio é que, na noite em que você veio e disse que nunca... Bem, você estava lá e sabe o que disse. Bem, meu elogio para você é que, na manhã seguinte, eu comecei a tomar as pílulas.

Carol - Não entendo como isso pode ser um elogio para mim.

Melvin - Você me faz querer ser um homem melhor.


sábado, 5 de abril de 2014

Felicidade


Café feito na hora, fervendo, bem forte e bem preto, faltando dez minutos pras seis da tarde. E não é que a felicidade é mesmo uma costura desigual de momentos, incluindo pedacinhos como esse?

Todo cuidado é pouco


É bom não ter rabo preso com ninguém. Assim como não tinha o jornalista Vladimir Herzog, apesar de ter sido assassinado pelos coronéis da Ditadura, sob alegação de ser líder subversivo, simplesmente por ter amigos no Partido Comunista. No entanto, ele era um crítico incisivo do Partidão e tinha muitas discussões com os amigos, por ser radicalmente contra a luta armada, por exemplo. Era diretor da TV Cultura, dava aulas na USP, era casado, tinha dois filhos e não devia nada a ninguém. Tanto que se apresentou de livre e espontânea vontade para dar "esclarecimentos" aos seus algozes. Mas foi torturado até a morte, por causa de seus amigos.
Ao ler o livro Vlado, Retrato da Morte de um Homem e de uma Época, organizado por Paulo Markun, uma frase me chamou a atenção. Descrevendo Herzog, Markum diz: "Vlado não escolhia seus amigos pelo partido ao qual pertenciam".
E, justamente por não escolher amigos usando critérios políticos, foi covardemente assassinado. Não se envergonhava de ter amigos que pensavam de maneira diversa da sua ou da que os coronéis achavam correto. Eu penso da mesma forma. Meus critérios para escolher amigos não têm nada a ver com política. E minha atuação profissional não tem nada a ver com meus amigos. Quem pensa dessa forma, está compartilhando do mesmíssimo tipo de preconceito que tinham os assassinos de Vlado. Cuidemo-nos.

Se cuida, malandro


Estou de olho em mim. Na primeira vacilada, acerto as contas comigo.

Bilhete

Às vezes penso no bilhete suicida do poeta Torquato Neto, que em seu derradeiro poema, escreveu: "pra mim chega!". Mas, ao invés de mergulhar para a morte, eu escreveria este bilhete antes de pular para a vida...

Passado e futuro


Uma hora cansa ser ex-isso, ex-aquilo e ex-aquele outro. Aí a gente passa a querer ser atual isso, futuro aquilo e promissor aquele outro. É muito melhor.

sexta-feira, 4 de abril de 2014


A última que morre é a fé e não a esperança. Esperança, na verdade, serve pra pouca coisa. E pode até acabar nos enganando uma vez ou outra. Mas sem fé não fazemos nada. É ela que nos faz levantar da cama de manhã com a certeza de que dias melhores virão. Ela nos faz ir em busca daquilo que acreditamos. E cabe a cada um saber quais são seus valores mais importantes. Eu acredito nos meus amigos. No poder da amizade, no quanto faz bem se cercar de energias positivas, que nos impulsionam aos nossos objetivos, sejam eles comuns ou não.

Privilégio


O talento do guitarrista Tony Iommi é tão grande que eu vejo o Black Sabbath com duas formações clássicas, quase se dividindo em duas bandas distintas, tendo em comum seus riffs e solos maravilhosos, o peso cavalar do baixo de Geezer Butler e a capacidade de fazer músicas imortais.
Ao lado de Ozzy e Bill Ward, Iommy e Butler formaram a banda em Birmingham nos anos 60 e definiram tudo o que viria a ser feito no campo do som pesado desde então. Com Ronnie James Dio e Vinnie Appice, a segunda formação clássica da banda deu ao mundo discos como Heaven and Hell, Mob Rules e Dehumanizer.
Em 11 de outubro de 2013, vinte e um anos depois de tocar no Brasil pela primeira vez, com Dio nos vocais, finalmente a banda se apresentou em São Paulo, para uma plateia de 70 mil pessoas, com o madman Ozzy cantando as músicas que gravou e que se tornaram hinos de várias gerações, misturadas a novos sons com a assinatura de quem nunca perdeu a mágica.
Mais de 40 anos depois, ainda estão em pé, caindo na estrada e fazendo shows maravilhosos, revivendo clássico atrás de clássico no palco. Poucas vezes a palavra "privilégio" pôde ser usada com tanta propriedade como nessa passagem do Black Sabbath pelo Brasil.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Um cara barulhento


"Tocávamos no Midland Red Club, que ficava no Midland Red Blues Depot. Era um clube frequentado por todas as pessoas que trabalhavam naquela região. Havia uma banda toda semana. Costumávamos tocar a cada duas semanas e John Bonham geralmente estava na outra banda que tocava lá. Ele durou cerca de cinco minutos nessa banda, foi demitido porque tocava alto demais. Aí ele se metia em outra banda e, em pouco tempo, se livravam dele pelo mesmo motivo. Ele tinha um estojo de bateria com os nomes de todas as bandas nas quais havia tocado e todos eles estavam riscados. E os nomes ficavam cada vez menores para que ele pudesse escrever todos. Tudo isso aconteceu antes que as bandas tivessem sistemas de PA e que as baterias fossem amplificadas. Ele simplesmente tocava de forma acústica, mas batia tão forte naquelas peles, caramba, era incrível. Ele tocava tão alto!"

(Tony Iommi, guitarrista do Black Sabbath, em sua biografia "Iron Man")

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Tudo errado

Certa vez li uma entrevista com o escritor norte-americano Stephen King, em que ele contava sobre a época em que comprou uma rádio no estado do Maine (EUA), onde mora com sua família. Ele disse que, no início, fazia questão de acumular as funções de gerente e programador, já que é amante do bom e velho rock n' roll. Até que um dia resolveu contratar um programador profissional, pois estava "fazendo tudo errado". "Eu comecei a perceber que algumas coisas não se faz numa rádio, como tocar Ramones às sete da manhã, por exemplo", disse King.



It's all right

O baterista do Black Sabbath, Bill Ward, cantou apenas duas músicas como vocalista solo em toda a carreira da banda. Uma delas é It's all Right, do disco Technical Ecstasy (1976). Execução primorosa e histórica.

"Dê tudo e não espere retorno
E muito em breve você verá e começará a entender
Que está tudo bem, sim está tudo bem"


Stones em crise

No livro Sexo, Drogas e Rolling Stones, os autores José Emilio Rondeau e Nélio Rodrigues descrevem a maior crise dos Stones, ocorrida em 1978, e que simboliza tudo o que a banda tem de maldita e genial. 
Nessa época, os Stones estavam num impasse entre seguir adiante ou terminar, devido aos desafios impostos pelo punk rock e pela disco music, que surgiam na época e ameaçavam tornar a banda obsoleta para sempre. E também devido ao vício do casal Keith Richards e Anita Pallenberg em heroína.
Com sua vida resumida à busca pela próxima picada, Keith colocou a banda numa "sinuca de bico" em sua passagem por Toronto, no Canadá, onde a polícia montada fez uma batida em seu quarto de hotel e encontrou um saquinho com 28 gramas de heroína pura e mais seis gramas de cocaína, além de uma quantidade enorme de haxixe.
A banda estava no país para gravar um disco ao vivo. Na tarde que precedeu a gravação, Keith se apresentou ao tribunal e se declarou culpado, enquanto Bill Wyman e Ron Wood corriam para comprar heroína, já que o estoque de Keith havia sido apreendido e ele não conseguiria fazer o show sem a droga, devido aos vômitos, convulsões e dores generalizadas decorrentes da abstinência.
Resolvido, pelo menos momentaneamente, o impasse em relação a Keith, o melhor seria reservado para o show daquela noite, na casa El Mocambo, de apenas 300 lugares. Na primeira fila do show, em meio à seletíssima platéia, estava a esposa do primeiro-ministro canadense, Margareth Trudeau. Apesar de ter chegado ao show na limusine de Mick Jagger, o que se descobriu mais tarde é que a mulher do primeiro-ministro do Canadá estava tendo um caso, que seria brevíssimo mas bastante intenso, com o guitarrista Ron Wood. Foi o que bastou para a imprensa inglesa, sempre atenta para farejar sangue, estampar em suas primeiras páginas manchetes como "Mulher do Premiê envolvida em escândalo com os Stones" e "A primeira-dama que fez a cabeça com os Stones".
Escândalos à parte, a demonstração de genialidade viria meses mais tarde, quando a banda lançaria o disco Some Girls, gravado em meio a toda essa turbulência. Um clássico absoluto instantâneo, que trazia a música Miss You, versão stoniana para a dance music que dominava o mundo, e diversas faixas cruas e pesadas, mostrando aos garotos punks quem ainda mandava no rock n' roll da década de 70.
Para não perder o costume, a faixa-título do disco despertaria o furor das feministas do mundo todo e principalmente do reverendo norte-americano Jesse Jackson, com sua letra "caricaturalmente misógina", como descreve o jornalista José Emílio Rondeau. Basicamente falando sobre as preferências de cada tipo de mulher, Jagger e Richards cantam em suas versos que as francesas só querem Cartier, as italianas adoram carros, as inglesas reclamam demais e as negras gostam de ser "fodidas a noite inteira". It's only Rock and Roll, baby. But I like it.




Carta a mim mesmo, com metade de minha idade


Caro Roberto,

Estou escrevendo de 2014 pra te dar uns toques. Você tem 42 anos, está vivo e tem saúde. Lógico que às vezes seu joelho esquerdo dói, porque recentemente você passou por uma cirurgia e tirou um pedaço do menisco. Mas isso não o impede de tocar bateria. Sim, você ainda toca. Não para grandes plateias, ok? Não se empolgue muito. Mas ainda toca pra se divertir, com os amigos, como sempre foi.

Olha, no ano que vem você entrará em Rádio & TV na Unesp de Bauru. Quando se dirigir à secretaria da faculdade no final do primeiro ano, ansioso para mudar de Rádio & TV para Jornalismo, e seus amigos ficarem buzinando na sua orelha que você vai “abandonar os irmãos”, pode escutá-los novamente e continue no mesmo curso. Ele não vai servir para praticamente nada na sua vida profissional, pois, no final das contas, você será jornalista.

Porém, quando você fizer sua segunda graduação, em Jornalismo, conhecerá pessoas importantes, amigos que o ajudarão em sua caminhada profissional e pessoal. E as experiências pelas quais você passará do segundo ano em diante em Bauru com seus amigos de Rádio & TV darão sustento emocional a você pelo resto de sua vida.

Pra falar a verdade, não te aconselho a fazer grandes mudanças. A única coisa que posso fazer é te dar um alerta: haverá muitas decepções. Em alguns momentos, a vida simplesmente não caminhará como você planeja e as tentativas para que isso aconteça serão fracassadas. Você terá perdas e sentirá a dor da saudade algumas vezes. Mas, nessas horas, vai perceber que é muito mais forte do que imaginava. E que é mais teimoso do que a maioria das pessoas.

A felicidade que você tanto busca não virá de forma mágica. Aliás, pode esquecer esse conceito de que a felicidade é um estado em que todas as áreas da sua vida estarão em perfeita ordem ao mesmo tempo. Isso não vai acontecer nunca. Quanto mais cedo você perceber isso, melhor. Sua vida profissional estará satisfatória algumas vezes, enquanto a sentimental estará uma porcaria. Em outros momentos, tudo se inverterá. A vida é uma montanha russa. Aperte o cinto e aproveite.

Outro conselho: nunca diga que está velho demais para alguma coisa. Você tem só 22 anos, é um moleque. Quando tiver 42 anos, ainda não estará velho demais para um monte de coisas, quanto mais nessa sua idade aí.

Finalmente, saiba que o show do Rush que você tanto espera no Brasil não virá este ano e nem no próximo. Mas, no futuro, você finalmente verá a banda ao vivo. Quatro vezes! Demais, né?

Sorria sempre e continue sendo o mais inocente possível, por quanto tempo precisar. Isso é ruim no seu momento. Mas vai te ajudar a conhecer o tipo de pessoa com quem você realmente poderá contar no futuro.

Bom, é isso. Boa sorte e um abraço!

Roberto.

PS – Uma noite antes do show do Ozzy, em 2008, vá dormir cedo. Caso contrário, você perderá o busão da excursão, ok? Essa você fica me devendo.

A turma

Sou de uma turma de amigos que cresceu tomando sorvete de creme holandês no seu Luís e comemorando aniversário no laguinho da praça Pedro de Toledo. Sou de uma turma de amigos que, quando arruma namorada, vai levá-la pra ver o jogo da Ferroviária e lhe empresta seu livro, filme ou disco preferido. Por querer dar um pedacinho de si pra ela, emprestar um pouquinho daquilo que gosta, que considera bonito e muito seu. Sou de uma turma de amigos que se orgulha daquilo que é. Alguns são confusos, outro são mais confusos ainda e tem aqueles que se perderam, mas acabaram voltando. Ninguém julga ninguém por isso. Sou de uma turma boa. Ninguém nunca vai envelhecer. Desconfio até que ninguém morrerá.