quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Rush: o presente que vai durar para sempre


Acompanhei nos últimos meses as notícias sobre a mais recente turnê do trio canadense Rush na internet com uma mistura de choro engasgado na garganta e alegria.
A cada cidade em que tocavam nos Estados Unidos e no Canadá, únicos países onde eles tocaram dessa vez, os relatos sobre as apresentações me deixavam feliz e orgulhoso por saber que minha banda de rock preferida seguia destruindo sobre os palcos.
Mas, ao mesmo tempo, a proximidade do final da rodada de shows, que terminou no dia 1º de agosto, em Los Angeles, tornava mais forte o sentimento de vazio, justificado por todas as entrevistas em que Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart afirmaram que essa seria a “última grande turnê” do Rush.
Diferentes motivos levaram a essa decisão, o mais óbvio, e talvez o que origine todos os outros, é a idade em que os integrantes da banda estão. O baterista Neil Peart vai fazer 64 anos em setembro, o guitarrista Alex Lifeson tem 61 anos e Geddy Lee recentemente completou 62 anos.
Quem conhece a intensidade de um show do Rush sabe que não é possível que eles cheguem à longevidade de um Rolling Stones. São músicos extremamente técnicos e executam, noite após noite, durante três horas, épicos difíceis de tocar até para um garoto. E, durante essas execuções, não trafegam por atalhos, não dão um jeitinho aqui e outro ali para facilitar seu trabalho. Pelo contrário: ao vivo, as músicas são acrescidas de solos de bateria, algumas vezes de baixo e de um ou outro improviso de deixar qualquer um de queixo caído.
E é de queixo caído que o mundo vem ficando há mais de 40 anos, a cada lançamento de disco e a cada série de shows do Rush, em casas lotadas de espectadores incrédulos. Eu peguei carona nessa jornada em 1986, quando tinha 15 anos e pela primeira vez ouvi uma coletânea do Rush em fita cassete, com músicas do primeiro disco ao vivo, All The World’s a Stage e mais algumas de discos como 2112 (1976), Permanent Waves (1980) e Moving Pictures (1981).
As sessões que eu e alguns amigos fazíamos para assistir ao vídeo Exit... Stage Left também fizeram parte da minha primeira de minha doutrinação. A história é a mesma da maioria dos fãs do Rush. Não conseguia acreditar que podia existir uma banda com tanta musicalidade e técnica ao mesmo tempo. E que tinha um baterista que, além de ser monstro em seu instrumento, de tocar de forma diferente, ao mesmo tempo com técnica de jazzista e pegada dos roqueiros mais nervosos, era capaz de escrever letras diferentes de todas as que eu já tinha escutado no rock.
A voz de Geddy Lee, que tanto estranhamento causa em tanta gente, pelo seu timbre muito agudo, entrou em meus ouvidos e foi diretamente para minhas veias, passando a correr lá dentro com meu sangue, tal foi a paixão que tomou conta de mim quando a ouvi.
E, por cima daquela cozinha furiosa, formada por uma bateria que não dava um segundo de trégua e por um baixo que pulsava furioso e voava livre como a imaginação do músico primoroso que o tocava, a guitarra de Alex Lifeson soava como um manto feito de diversos tipos de materiais, indo da distorção mais suja ao dedilhado mais limpo, completando a alquimia sonora de um trio que mais soava como uma orquestra.
Com 15 anos, em 1986, época em que não havia acesso a todos os discos que queríamos ouvir no Brasil, comecei a garimpar e logo completei minha coleção do Rush. Naquela época, quando eu guardava dinheiro para comprar discos, adquirir as bolachas do Rush que eu ainda não tinha tornou-se prioridade número um. Para isso, eu pegava um ônibus com um amigo em Araraquara e descia em Ribeirão Preto, onde havia uma loja com mais opções de rock. Em uma oportunidade, voltei de lá com quatro discos do Rush, de uma só vez. E assim fui comprando até que, em 1987, comprei pela primeira vez um disco novo do Rush: Hold Your Fire.
Chegar em casa e colocar um disco novo do Rush na aparelhagem de som, ao mesmo tempo em que lia as letras no encarte, com um dicionário inglês-português ao meu lado, foi um ritual que se repetiu até 2012, quando comprei o álbum mais recente, Clockwork Angels. Foram 25 anos de ansiedade lendo notícias sobre quando entrariam em estúdio, depois sobre a sessão de gravação de cada disco, depois pescando uma notícia aqui e outra ali sobre a data de lançamento e finalmente comprando o disco.
Isso serviu para todos os discos ao vivo e todas as fitas de vídeo e, posteriormente, DVDs lançados. Nessas duas décadas e meia, acompanhei a banda por meio de revistas especializadas e depois pela internet, quando esta se popularizou. Aprendi muito bem o inglês traduzindo as letras, na época em que não havia as facilidades tecnológicas de hoje. Eu tinha um caderno de letras do Rush traduzidas por mim, desde o primeiro disco até o Roll the Bones. Ainda tenho esse caderno em algum lugar. As traduções, sempre com o dicionário ao lado, começavam assim que eu começava a ouvir cada novo disco.
Em 1989 eu fiquei sócio de um fã-clube inglês do Rush e passei a receber os fanzines em casa. Acompanhei as notícias sobre a turnê do disco Presto e sobre um grupo de fãs ingleses que viajaria aos Estados Unidos para ver alguns shows do Rush e ficaria hospedado na casa de amigos da banda Dream Theater. “Depois do ensaio, fomos todos ver o show do Rush”, diz um dos relatos, que lembrei anos depois, quando eles ficaram famosos. Na época, eram apenas fãs do Rush que tinha uma banda.
Com o passar dos anos, a vontade de ver um show do Rush ao vivo foi crescendo e, em 1992, escrevi uma carta para o escritório da Anthem Entertainment, o quartel-general da banda em Toronto, no Canadá, pedindo para que considerassem uma vinda ao Brasil, porque tinham muitos fãs aqui. Como resposta, recebi um “Tour Book” maravilhoso da turnê do disco Roll the Bones (1992). Mas nada de shows no Brasil ainda.
Foi mais ou menos naquela época também que comecei a ler entrevistas de Neil Peart dizendo que estava cansado de fazer turnês, que gostava de ficar em casa e que a rotina de viajar e se hospedar de hotel em hotel, longe da família, estava cada vez mais estressante. Mas ele tinha pouco mais de 40 anos e sempre foi rapidamente convencido pelos companheiros a seguir adiante. Até 1997, quando Selena, filha única de Peart, morreu aos 19 anos de acidente de carro e, um ano depois, após um câncer fulminante, sua esposa Jacqueline também morreu. A tragédia interrompeu as atividades do Rush até 2001, quando Peart decidiu que não queria jogar fora tudo que havia conquistado na música, e voltou a ensaiar com seus companheiros, o que resultou no disco Vapor Trails (2002).
Acompanhei tudo isso “de perto”, sentado em meu computador lendo todas as notícias na internet, seguindo todas as discussões em fóruns especializados na banda e comprando todas as publicações sobre música com alguma matéria do trio. E mal acreditei quando fiquei sabendo que finalmente, em 2002, o Rush, aquela banda que despertou meu amor pela sua música em 1987, viria fazer shows no Brasil.
Assisti a dois shows do Rush em 2002, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, este último gravado e lançado no DVD Rush in Rio, que traz também um documentário sobre a viagem ao País. Em 2010, assisti outros dois shows, também um em São Paulo e outro no Rio, da turnê Time Machine, em que tocaram o disco Moving Pictures na íntegra.
Fiquei torcendo para que voltassem nos anos seguintes, mas só pude acompanhar trechos e relatos de shows pela internet, inclusive alguns dessa última turnê, que terminou no dia 1º de agosto em Los Angeles, com um repertório espetacular e performances impecáveis. O show de Los Angeles foi prestigiado pelos bateristas Doane Perry (Jethro Tull), Stewart Copeland (The Police), Taylor Hawkins (Foo Fighters), Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) e Danny Carey (Tool), todos querendo ver mais uma vez o professor Neil Peart.
Após o fim da turnê, e mesmo enquanto ainda estavam na estrada, as declarações dos integrantes da banda têm sido meio que conflitantes. O guitarrista Alex Lifeson diz que sofre há anos de artrite nas mãos, o que exige ainda mais atenção ao que está fazendo durante os shows e Neil Peart sofre de tendinite nos dois ombros, o que o faz sofrer com dores desde o início dos ensaios até o último show da temporada. Além disso, reconstruiu sua vida pessoal casando-se novamente e hoje tem uma filha de cinco anos, o que o faz sentir ainda mais o tempo longe de casa. O baterista chegou a dizer recentemente que, pelo menos em parte, concordou em fazer as duas últimas turnês por um sentimento de gratidão e de dever para com os dois amigos, pelo tempo em que ficaram esperando sua recuperação após a tragédia que atingiu sua vida.
Já Geddy Lee diz que sente o peso dos anos como todo mundo de sua idade, mas que tem muita saúde e adora viajar e tocar. Comprou recentemente um arsenal de novos baixos e reformou seu estúdio caseiro, louco de vontade de voltar a compor. Mesmo o guitarrista Alex Lifeson já disse que seus problemas de saúde não impedem que dê um pulinho na casa de Lee para comporem juntos, pois ele tem “toneladas” de riffs guardados.
O fato é que o Rush não existe sem um dos integrantes e todos têm perspectivas diferentes do passar dos anos. E o tempo não para, apesar dos apelos da banda na música Time Stand Still, do disco Hold Your Fire, mais uma letra grandiosa de Peart. Os três sempre terão muita música dentro de suas cabeças, mas encarar a estrada, pelo menos para alguns deles, se tornou uma tarefa cada vez mais penosa.
O Rush é uma banda que, durante sua carreira, venceu todas as barreiras, inclusive do preconceito de parte importante da imprensa musical, que não entendia o tipo de música que faziam e transformava essa ignorância em críticas ácidas e maldosas sobre seus discos. Eles são uma banda que construiu sua base de fãs com muito trabalho, caindo na estrada e tocando, não se entregando nunca a modismos passageiros ou a conselhos de produtores e diretores de gravadora, ao mesmo tempo em que absorviam influências de novos estilos musicais ao longo das décadas, sempre mantendo intacta sua assinatura.
Eu, como fã, não tenho do que reclamar. Eles fizeram todos os discos que eu queria ouvir, continuaram tocando cada vez melhor e colocaram cada música obscura que os fãs pediram em seus repertórios de shows. Vieram ao Brasil, gravaram um DVD ao vivo no País e fizeram juras de amor ao público, do qual faço parte. Entraram até mesmo para o ultra exclusivo e comercial Rock and Roll Hall of Fame, com direito a discurso irônico de Alex Lifeson, após a banda ser apresentada pelos fãs Dave Ghrol e Taylor Hawkins, do Foo Fighters, e com direito a uma performance no palco para exorcizar todos os anos em que foram esnobados pelos clubinhos de “entendidos de rock”.
Li entrevistas de Geddy Lee e Alex Lifeson em que falam em fazer temporadas esporádicas de shows no Madison Square Garden, em Nova Iorque, coisa de dez noites seguidas, para que todos os fãs tenham oportunidade de viajar até lá para vê-los ao vivo mais uma vez, sem que os integrantes da banda e sua equipe tenham que passar por longas viagens e períodos fora de casa. E eles dizem ainda que certamente seguirão lançando discos.
O Rush tem direito de fazer o que quiser. Os fãs, como eu, podem até soltar uma hora esse choro engasgado na garganta, pela sensação de que a saga dos três reis magos está chegando ao final. Podemos espernear e exigir mais shows no Brasil, na Europa, seja onde for. Mas, no final das contas, não temos esse direito. Porque, no fim das contas, o mais importante é que a música com a qual eles nos presentearam vai durar para sempre. 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Wheels

Se eu dissesse que sou fanático pelo Foo Fighters, estaria mentindo. Mas a considero a última grande banda realmente legal. Quando foi lançado o disco There is Nothing Left to Lose, eu o ouvi repetidas vezes durante um ano. Achei, e ainda acho, um trabalho primoroso. Aí baixei um monte de músicas e fiz uma coletânea monstro, depois comprei o Foo Fighters, o The Color and the Shape, o One by One e o In Your Honor. Mas nunca mais ouvi nenhum deles tanto assim.
O Foo Fighters logo já ganhou minha simpatia pelo fato de ter o cara que era baterista do Nirvana e saiu da parte de trás do palco para compor, tocar e cantar em sua própria banda, conseguindo fazer história de novo. Merece respeito. E tem os vídeos engraçados, o fato de Dave Grohl e Taylor Hawkins serem fãs do Rush (dessa sou fã também), etc...
Enfim, um dia eles lançaram uma coletânea com a faixa inédita, Wheels, que na época até foi considerada fraca por um resenhista que escreve em algum site especializado em música. O fato é que alguns fãs podem até achar que estou louco, mas, pra mim, essa é uma das melhores músicas da banda.
"And everyone I've loved before
Flashed before my eyes
And nothing mattered anymore
I looked into the sky
Well I wanted something better man
I wished for something new
And I wanted something beautiful
And wish for something true
Been looking for a reason man
Something to lose"


Bowie

David Bowie flertou com diversos estilos de música ao longo de sua carreira, incluindo Soul Music, Disco Music e Música Eletrônica. Em 1988, aos 41 anos, ele decidiu que queria formar uma banda de rock e montou a Thin Machine, que durou até 1992. Músico fantástico, artista completo e referência fundamental na história da música contemporânea. Não existem adjetivos suficientes para Bowie.