quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Perdas

Tem o Fulano que perdeu a paixão de sua vida para encontrar o amor. Tem o Sicrano que perdeu todos os cabelos e só depois disso conseguiu encontrar a autoestima. E tem o Beltrano que perdeu uma perna para depois acabar virando atleta. A vida engana.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Transformação

O valentão que deixou três desacordados no bar dez anos atrás ouve todos os impropérios e apenas sorri com o canto da boca, enquanto aperta mais forte seu filho contra o peito. A mocinha que sempre se entregou às paixões com sede de moribundo no deserto, hoje escuta os mais inventivos elogios e seu coração não acelera o passo como naqueles tempos. A senhorinha, que na juventude só vestia roupas das grifes mais caras, não se preocupa mais com aparências, porque sabe que o tempo deve ser ocupado com o que realmente importa. A vida nos quebra em mil pedaços e depois junta tudo de novo. No final do processo, saímos transformados em outra pessoa.

sábado, 28 de novembro de 2015

Verdade colorida

Toda história tem três lados: o meu, o seu e a verdade. Cada versão de um fato é contada de acordo com a vivência, o perfil psicológico e os valores do narrador. Geralmente, essas versões dos que protagonizaram a história é a que mais interessa. É mais apimentada, cheia de reviravoltas, nuances cativantes e aspectos nebulosos. A verdade, por si mesma, é monótona e pálida. Ela sempre precisa de nossa ajuda para ganhar um colorido todo especial.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Tudo ótimo

Quando virou a esquina, ainda próximo à sua casa, encontrou um conhecido, que ao lhe avistar abriu um sorriso e o cumprimentou: “olá, tudo bem?”.
Antes de responder, pensou consigo mesmo que não, não estava bem. Não havia conseguido dormir direito aquela noite, por causa de pensamentos obsessivos sobre tudo que lhe causava medo e angústia nos últimos tempos.
Refletindo melhor, percebeu que não estava bem desde a morte de seu pai e lá se iam quase 18 anos. Não falava muito sobre o assunto, não chorava e nem mesmo tinha sempre consciência do impacto que essa perda causou em sua vida. Mas ela, a falta, estava sempre ali, sempre presente.
Também não estava bem em sua vida profissional, que havia empacado, justo agora que estava na casa dos 40 anos e precisava de mais dinheiro para satisfazer algumas necessidades e tornar realidade um ou outro plano. Sentia-se traído por estar desperdiçando tempo e talento em atividades que já não lhe traziam prazer.
O prazer, aliás, vinha em conta-gotas e de forma torta, em risadas histéricas na madrugada, quando estava bêbado, ou comentários cada vez mais ácidos sobre qualquer pessoa ou fato que o cercasse.
Não se sentia compreendido, amado ou acolhido. E não se sentia capaz de acolher ou fazer felizes os amigos, os familiares, quem quer que fosse. Se a felicidade é feita de momentos, a impressão era que sua cota de sensações boas havia esgotado e, dali em diante, tudo seria apenas apatia.
Por algum motivo que não entendia bem, sentia-se sufocado e sufocador, vítima e algoz, perseguido e perseguidor. Nada parecia ser capaz de tirar esse gosto amargo de sua boca. Sabia que, se nada excepcional ocorresse, havia ainda muita vida pela frente. Mas não conseguia ter certeza se isso era totalmente bom.
“Tudo ótimo”, respondeu, retribuindo o sorriso.



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Rasantes

Deus me livre de viver no piloto automático. Quero fazer acrobacias e dar rasante em cima do quintal, pra ver as roupas voando do varal.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Caminhada

Não há atalho na vida. Você só percorre o caminho proporcional ao que precisa aprender. Sejam quais forem suas lições mais urgentes, o leque é quase infinito: amor, humildade, tolerância, perseverança, obstinação, resiliência e muito mais. Não existe tempo perdido. Existem longas caminhadas e são essas que levam para mais longe.

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Calendário

Quantos dias tem esse mês?
Quantos meses tem esse ano?
Quantos anos tem essa vida?
Quanta vida tem nesses anos?


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Inquisição

Em um mundo de analfabetos, os que sabem ler e escrever são os primeiros a ir para a fogueira.


Permanência

Tenho 44 anos. Já superei em onze anos a idade de Cristo e em dezessete anos a idade de Kurt Cobain. Ainda estou vivo, apesar de ter me sentido crucificado por uma dúzia de vezes e mastigado e cuspido como o caroço de uma cereja outras tantas. Já emprestei o ombro pra gente que se valeu desse conforto para chorar e uma semana depois me esfaqueou bem no meio das costas. Já me alimentei da noite e bebi do dia por tantas e tantas vezes, até achar que estava cansado, só pra me levantar na manhã seguinte e fazer tudo de novo. Já entendi que nada permanece, a não ser o presente segundo, que durará enquanto houver vida, e esta é tão passageira. Mas, de todos os entendimentos e sentimentos, o maior de todos é a gratidão pelos amigos que passaram pela minha vida e, principalmente, pelos que permaneceram. Cada um sabe exatamente seu papel nessa história, pois nunca fui e nunca serei bom em esconder sentimentos.

Fingimento

Admiro quem finge bem. Eu mal consigo sair de casa sem que me vejam.

Carpideiras

No final, sobrarão somente os amigos. Ou as carpideiras, que não deixam de ser amigas, desde que façam direito o trabalho pelo qual foram pagas.


Seis semanas

Fui pai por seis semanas. Na verdade, ele nem nasceu, ficou esse tempo na barriga da mãe, apenas uma sementinha com um coraçãozinho minúsculo, batendo bem forte. Mas me senti pai nesse período. Toda minha gratidão por isso. Tudo na vida tem a hora e o período de tempo certo para acontecer. Ou para não acontecer. Sinto-me muito feliz. Sigo o fluxo e não questiono mais nada, apesar de seguir tentando derrubar as grades da gaiola que nos prende nesse roteiro pré-determinado.


Raio

Tive privilégios demais na vida. Quando ando na rua em dias chuvosos, acho que um raio vai cair na minha cabeça. Fico pensando no quanto uma pessoa pode receber de dádivas até que sua cota acabe. Às vezes acho que minha parte já acabou faz tempo e, a qualquer momento, alguém vai me descobrir ainda perambulando aqui embaixo e acabar com tudo de repente.

Ferramenta

A internet não inventou a mentira, a ignorância ou a maldade. Elas já estavam dentro das pessoas, apenas esperando que fosse criada uma ferramenta que propagasse tudo isso da maneira mais eficiente, e consequentemente mais covarde, possível.

Desigualdade

Os homens são todos iguais. E as mulheres são todas desiguais.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Picadeiro

Dar mil piruetas, continuar em pé e seguir em frente, como se nada tivesse acontecido. A vida é mesmo um circo.

Os donos do mundo

Não se engane. Os idiotas, desonestos, maldosos e hipócritas são os donos do mundo. Desfilam soberanos, sob aplausos fervorosos. Enquanto isso, o resto de nós luta para vencer uma ou outra batalha dessa guerra já perdida.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Rush: o presente que vai durar para sempre


Acompanhei nos últimos meses as notícias sobre a mais recente turnê do trio canadense Rush na internet com uma mistura de choro engasgado na garganta e alegria.
A cada cidade em que tocavam nos Estados Unidos e no Canadá, únicos países onde eles tocaram dessa vez, os relatos sobre as apresentações me deixavam feliz e orgulhoso por saber que minha banda de rock preferida seguia destruindo sobre os palcos.
Mas, ao mesmo tempo, a proximidade do final da rodada de shows, que terminou no dia 1º de agosto, em Los Angeles, tornava mais forte o sentimento de vazio, justificado por todas as entrevistas em que Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart afirmaram que essa seria a “última grande turnê” do Rush.
Diferentes motivos levaram a essa decisão, o mais óbvio, e talvez o que origine todos os outros, é a idade em que os integrantes da banda estão. O baterista Neil Peart vai fazer 64 anos em setembro, o guitarrista Alex Lifeson tem 61 anos e Geddy Lee recentemente completou 62 anos.
Quem conhece a intensidade de um show do Rush sabe que não é possível que eles cheguem à longevidade de um Rolling Stones. São músicos extremamente técnicos e executam, noite após noite, durante três horas, épicos difíceis de tocar até para um garoto. E, durante essas execuções, não trafegam por atalhos, não dão um jeitinho aqui e outro ali para facilitar seu trabalho. Pelo contrário: ao vivo, as músicas são acrescidas de solos de bateria, algumas vezes de baixo e de um ou outro improviso de deixar qualquer um de queixo caído.
E é de queixo caído que o mundo vem ficando há mais de 40 anos, a cada lançamento de disco e a cada série de shows do Rush, em casas lotadas de espectadores incrédulos. Eu peguei carona nessa jornada em 1986, quando tinha 15 anos e pela primeira vez ouvi uma coletânea do Rush em fita cassete, com músicas do primeiro disco ao vivo, All The World’s a Stage e mais algumas de discos como 2112 (1976), Permanent Waves (1980) e Moving Pictures (1981).
As sessões que eu e alguns amigos fazíamos para assistir ao vídeo Exit... Stage Left também fizeram parte da minha primeira de minha doutrinação. A história é a mesma da maioria dos fãs do Rush. Não conseguia acreditar que podia existir uma banda com tanta musicalidade e técnica ao mesmo tempo. E que tinha um baterista que, além de ser monstro em seu instrumento, de tocar de forma diferente, ao mesmo tempo com técnica de jazzista e pegada dos roqueiros mais nervosos, era capaz de escrever letras diferentes de todas as que eu já tinha escutado no rock.
A voz de Geddy Lee, que tanto estranhamento causa em tanta gente, pelo seu timbre muito agudo, entrou em meus ouvidos e foi diretamente para minhas veias, passando a correr lá dentro com meu sangue, tal foi a paixão que tomou conta de mim quando a ouvi.
E, por cima daquela cozinha furiosa, formada por uma bateria que não dava um segundo de trégua e por um baixo que pulsava furioso e voava livre como a imaginação do músico primoroso que o tocava, a guitarra de Alex Lifeson soava como um manto feito de diversos tipos de materiais, indo da distorção mais suja ao dedilhado mais limpo, completando a alquimia sonora de um trio que mais soava como uma orquestra.
Com 15 anos, em 1986, época em que não havia acesso a todos os discos que queríamos ouvir no Brasil, comecei a garimpar e logo completei minha coleção do Rush. Naquela época, quando eu guardava dinheiro para comprar discos, adquirir as bolachas do Rush que eu ainda não tinha tornou-se prioridade número um. Para isso, eu pegava um ônibus com um amigo em Araraquara e descia em Ribeirão Preto, onde havia uma loja com mais opções de rock. Em uma oportunidade, voltei de lá com quatro discos do Rush, de uma só vez. E assim fui comprando até que, em 1987, comprei pela primeira vez um disco novo do Rush: Hold Your Fire.
Chegar em casa e colocar um disco novo do Rush na aparelhagem de som, ao mesmo tempo em que lia as letras no encarte, com um dicionário inglês-português ao meu lado, foi um ritual que se repetiu até 2012, quando comprei o álbum mais recente, Clockwork Angels. Foram 25 anos de ansiedade lendo notícias sobre quando entrariam em estúdio, depois sobre a sessão de gravação de cada disco, depois pescando uma notícia aqui e outra ali sobre a data de lançamento e finalmente comprando o disco.
Isso serviu para todos os discos ao vivo e todas as fitas de vídeo e, posteriormente, DVDs lançados. Nessas duas décadas e meia, acompanhei a banda por meio de revistas especializadas e depois pela internet, quando esta se popularizou. Aprendi muito bem o inglês traduzindo as letras, na época em que não havia as facilidades tecnológicas de hoje. Eu tinha um caderno de letras do Rush traduzidas por mim, desde o primeiro disco até o Roll the Bones. Ainda tenho esse caderno em algum lugar. As traduções, sempre com o dicionário ao lado, começavam assim que eu começava a ouvir cada novo disco.
Em 1989 eu fiquei sócio de um fã-clube inglês do Rush e passei a receber os fanzines em casa. Acompanhei as notícias sobre a turnê do disco Presto e sobre um grupo de fãs ingleses que viajaria aos Estados Unidos para ver alguns shows do Rush e ficaria hospedado na casa de amigos da banda Dream Theater. “Depois do ensaio, fomos todos ver o show do Rush”, diz um dos relatos, que lembrei anos depois, quando eles ficaram famosos. Na época, eram apenas fãs do Rush que tinha uma banda.
Com o passar dos anos, a vontade de ver um show do Rush ao vivo foi crescendo e, em 1992, escrevi uma carta para o escritório da Anthem Entertainment, o quartel-general da banda em Toronto, no Canadá, pedindo para que considerassem uma vinda ao Brasil, porque tinham muitos fãs aqui. Como resposta, recebi um “Tour Book” maravilhoso da turnê do disco Roll the Bones (1992). Mas nada de shows no Brasil ainda.
Foi mais ou menos naquela época também que comecei a ler entrevistas de Neil Peart dizendo que estava cansado de fazer turnês, que gostava de ficar em casa e que a rotina de viajar e se hospedar de hotel em hotel, longe da família, estava cada vez mais estressante. Mas ele tinha pouco mais de 40 anos e sempre foi rapidamente convencido pelos companheiros a seguir adiante. Até 1997, quando Selena, filha única de Peart, morreu aos 19 anos de acidente de carro e, um ano depois, após um câncer fulminante, sua esposa Jacqueline também morreu. A tragédia interrompeu as atividades do Rush até 2001, quando Peart decidiu que não queria jogar fora tudo que havia conquistado na música, e voltou a ensaiar com seus companheiros, o que resultou no disco Vapor Trails (2002).
Acompanhei tudo isso “de perto”, sentado em meu computador lendo todas as notícias na internet, seguindo todas as discussões em fóruns especializados na banda e comprando todas as publicações sobre música com alguma matéria do trio. E mal acreditei quando fiquei sabendo que finalmente, em 2002, o Rush, aquela banda que despertou meu amor pela sua música em 1987, viria fazer shows no Brasil.
Assisti a dois shows do Rush em 2002, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, este último gravado e lançado no DVD Rush in Rio, que traz também um documentário sobre a viagem ao País. Em 2010, assisti outros dois shows, também um em São Paulo e outro no Rio, da turnê Time Machine, em que tocaram o disco Moving Pictures na íntegra.
Fiquei torcendo para que voltassem nos anos seguintes, mas só pude acompanhar trechos e relatos de shows pela internet, inclusive alguns dessa última turnê, que terminou no dia 1º de agosto em Los Angeles, com um repertório espetacular e performances impecáveis. O show de Los Angeles foi prestigiado pelos bateristas Doane Perry (Jethro Tull), Stewart Copeland (The Police), Taylor Hawkins (Foo Fighters), Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) e Danny Carey (Tool), todos querendo ver mais uma vez o professor Neil Peart.
Após o fim da turnê, e mesmo enquanto ainda estavam na estrada, as declarações dos integrantes da banda têm sido meio que conflitantes. O guitarrista Alex Lifeson diz que sofre há anos de artrite nas mãos, o que exige ainda mais atenção ao que está fazendo durante os shows e Neil Peart sofre de tendinite nos dois ombros, o que o faz sofrer com dores desde o início dos ensaios até o último show da temporada. Além disso, reconstruiu sua vida pessoal casando-se novamente e hoje tem uma filha de cinco anos, o que o faz sentir ainda mais o tempo longe de casa. O baterista chegou a dizer recentemente que, pelo menos em parte, concordou em fazer as duas últimas turnês por um sentimento de gratidão e de dever para com os dois amigos, pelo tempo em que ficaram esperando sua recuperação após a tragédia que atingiu sua vida.
Já Geddy Lee diz que sente o peso dos anos como todo mundo de sua idade, mas que tem muita saúde e adora viajar e tocar. Comprou recentemente um arsenal de novos baixos e reformou seu estúdio caseiro, louco de vontade de voltar a compor. Mesmo o guitarrista Alex Lifeson já disse que seus problemas de saúde não impedem que dê um pulinho na casa de Lee para comporem juntos, pois ele tem “toneladas” de riffs guardados.
O fato é que o Rush não existe sem um dos integrantes e todos têm perspectivas diferentes do passar dos anos. E o tempo não para, apesar dos apelos da banda na música Time Stand Still, do disco Hold Your Fire, mais uma letra grandiosa de Peart. Os três sempre terão muita música dentro de suas cabeças, mas encarar a estrada, pelo menos para alguns deles, se tornou uma tarefa cada vez mais penosa.
O Rush é uma banda que, durante sua carreira, venceu todas as barreiras, inclusive do preconceito de parte importante da imprensa musical, que não entendia o tipo de música que faziam e transformava essa ignorância em críticas ácidas e maldosas sobre seus discos. Eles são uma banda que construiu sua base de fãs com muito trabalho, caindo na estrada e tocando, não se entregando nunca a modismos passageiros ou a conselhos de produtores e diretores de gravadora, ao mesmo tempo em que absorviam influências de novos estilos musicais ao longo das décadas, sempre mantendo intacta sua assinatura.
Eu, como fã, não tenho do que reclamar. Eles fizeram todos os discos que eu queria ouvir, continuaram tocando cada vez melhor e colocaram cada música obscura que os fãs pediram em seus repertórios de shows. Vieram ao Brasil, gravaram um DVD ao vivo no País e fizeram juras de amor ao público, do qual faço parte. Entraram até mesmo para o ultra exclusivo e comercial Rock and Roll Hall of Fame, com direito a discurso irônico de Alex Lifeson, após a banda ser apresentada pelos fãs Dave Ghrol e Taylor Hawkins, do Foo Fighters, e com direito a uma performance no palco para exorcizar todos os anos em que foram esnobados pelos clubinhos de “entendidos de rock”.
Li entrevistas de Geddy Lee e Alex Lifeson em que falam em fazer temporadas esporádicas de shows no Madison Square Garden, em Nova Iorque, coisa de dez noites seguidas, para que todos os fãs tenham oportunidade de viajar até lá para vê-los ao vivo mais uma vez, sem que os integrantes da banda e sua equipe tenham que passar por longas viagens e períodos fora de casa. E eles dizem ainda que certamente seguirão lançando discos.
O Rush tem direito de fazer o que quiser. Os fãs, como eu, podem até soltar uma hora esse choro engasgado na garganta, pela sensação de que a saga dos três reis magos está chegando ao final. Podemos espernear e exigir mais shows no Brasil, na Europa, seja onde for. Mas, no final das contas, não temos esse direito. Porque, no fim das contas, o mais importante é que a música com a qual eles nos presentearam vai durar para sempre. 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Wheels

Se eu dissesse que sou fanático pelo Foo Fighters, estaria mentindo. Mas a considero a última grande banda realmente legal. Quando foi lançado o disco There is Nothing Left to Lose, eu o ouvi repetidas vezes durante um ano. Achei, e ainda acho, um trabalho primoroso. Aí baixei um monte de músicas e fiz uma coletânea monstro, depois comprei o Foo Fighters, o The Color and the Shape, o One by One e o In Your Honor. Mas nunca mais ouvi nenhum deles tanto assim.
O Foo Fighters logo já ganhou minha simpatia pelo fato de ter o cara que era baterista do Nirvana e saiu da parte de trás do palco para compor, tocar e cantar em sua própria banda, conseguindo fazer história de novo. Merece respeito. E tem os vídeos engraçados, o fato de Dave Grohl e Taylor Hawkins serem fãs do Rush (dessa sou fã também), etc...
Enfim, um dia eles lançaram uma coletânea com a faixa inédita, Wheels, que na época até foi considerada fraca por um resenhista que escreve em algum site especializado em música. O fato é que alguns fãs podem até achar que estou louco, mas, pra mim, essa é uma das melhores músicas da banda.
"And everyone I've loved before
Flashed before my eyes
And nothing mattered anymore
I looked into the sky
Well I wanted something better man
I wished for something new
And I wanted something beautiful
And wish for something true
Been looking for a reason man
Something to lose"


Bowie

David Bowie flertou com diversos estilos de música ao longo de sua carreira, incluindo Soul Music, Disco Music e Música Eletrônica. Em 1988, aos 41 anos, ele decidiu que queria formar uma banda de rock e montou a Thin Machine, que durou até 1992. Músico fantástico, artista completo e referência fundamental na história da música contemporânea. Não existem adjetivos suficientes para Bowie.



sexta-feira, 24 de julho de 2015

Uns e outros

A facilidade de se fazer amizades pode ser, ao mesmo tempo, qualidade e defeito. É qualidade na medida em que dá oportunidade de se (re)conhecer rapidamente almas afins, espíritos companheiros, inclusive alguns que caminharão conosco durante toda nossa jornada. E é defeito quando se descobre que alguns encontros faziam parte de um jogo de ilusão, um esquema de máscaras, uma montagem de cena, que cai ao primeiro sopro. Mas, com o tempo, aprendemos a valorizar os dois tipos de experiência. As doces nos fazem sentir a viagem mais leve e as amargas foram colocadas à nossa frente para nos fazer enxergar ainda com mais ternura aquilo que é real. A uns e a outros, a minha gratidão.

domingo, 5 de julho de 2015

Sonho x Realidade no mundo da música pop

“As pessoas afetivamente mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop; e não sei se foi a música pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo as canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes”.
A frase do livro Alta Fidelidade, do escritor inglês Nick Hornby, lançado em 1995 e adaptado para o cinema cinco anos depois, joga um pouco de luz em uma zona obscura, assim como é obscura a vida do personagem principal, Rob, que é dono de uma loja de discos e gosta de passar o tempo fazendo listas. São listas de músicas, de empregos dos sonhos e dos “foras” mais dolorosos que recebeu em sua vida.
Quando se dispõe a enumerar as cinco mulheres que mais fizeram com que seu coração doesse após a separação, sempre deixa de fora Laura, querendo provar a si mesmo que ela não foi uma das paixões mais importantes de sua vida.
No entanto, a incoerência é que Laura sempre acaba se mostrando protagonista das histórias de Rob, enquanto ele tenta provar aos leitores e a si mesmo que sua vida está bem mais feliz agora, longe da namorada que o abandonou por um vizinho do andar de cima do apartamento onde moravam.
Dessa forma, o livro gira em torno da dificuldade de Rob em encarar que Laura era a oportunidade que ele tinha de começar a viver uma vida adulta, em oposição à sua rotina de lidar com os adolescentes que frequentam sua loja, incluindo seus dois empregados, com quem conversa sobre música o tempo inteiro.
Aos 30 e poucos anos, triste, falido, sem namoradas e rodeado de músicas que remetem à vida a dois que mantinha com Laura, o protagonista do livro começa a se sentir saudosista em relação a uma vida que considerava o oposto daquilo que sempre teve como o ápice da liberdade, já que ser dono de uma loja de discos era a quinta opção em sua lista de empregos dos sonhos.
Ao longo do livro, as reflexões de Rob sobre suas namoradas vão fazendo com que ele perceba que a vida de solteiro que tanto tenta se convencer de que é a melhor que poderia viver não passa de uma fantasia. E que o convívio com sua ex-namorada Laura, na verdade, foi o que colocou um sorriso em seu rosto durante cinco anos de convivência.
Eventualmente, Rob e Laura acabam voltando e a vida passa a se materializar para ele, como se tudo o que sempre sonhou não fizesse o menor sentido longe da sua mulher. As músicas, a tristeza que permeia grande parte da cultura pop e a vida sem limites e sem amarras que Rob sempre sonhou passa, então, a fazer parte do passado. Da época em que ele era apenas um ensaio, um rascunho. Uma sombra do homem feliz que se tornaria depois.
Ao final, Rob torna-se consciente de que não é preciso viver a infelicidade para apreciar toda a obra deixada por artistas que sofreram. Eles não sofreram para que seus admiradores sofressem da mesma maneira e sim percebessem que viver a vida em lágrimas não vale a pena.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Da vaidade ao pó

Com o passar dos anos, na mesma proporção em que nossos corpos vão perdendo o viço da juventude, a cabeça vai trabalhando no mesmo sentido, e vamos deixando para trás as vaidades tolas. A roupa cara, o carro do ano, as atitudes exibicionistas e os lampejos de egocentrismo vão ficando pelo caminho, como se fossem malas atiradas ao chão. Pouco a pouco, nos livramos da bagagem pesada demais para suportar, que nos atrapalha a caminhada. Vai ficando só o que é realmente importante. Até que sobre apenas a essência. No final, todo o resto vira, literalmente, pó.

sábado, 20 de junho de 2015

Balão

Liberdade não é balão solto no ar, perdido, correndo risco de estourar. Liberdade é balão que dança ao vento, mas tem pra onde voltar. É se mover pelo mundo inteiro e saber que há porto onde atracar. E que nem tempo e nem espaço o irão tocar. Porque o vento que leva também o trará de volta.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Vivendo na rede

A internet em geral, e as redes sociais em particular, vêm se tornando ferramenta cada vez mais comum para as pessoas exporem suas angústias e suas alegrias. É a tese do filósofo MacLuhan, segundo a qual "o meio é a mensagem", em sua forma mais viva. A facilidade de se expressar de maneira instantânea frequentemente faz com que as pessoas se coloquem nuas diante de milhares de estranhos, devido à sua ansiedade de se comunicar, colocar para fora aquilo que estava gritando dentro delas, e que acham que o mundo também deveria ouvir. 
Não é necessário mais dirigir quilômetros, levar uma carta ao correio ou dar um telefonema para expor ideias. Uma mensagem bem colocada no Facebook repercute mais do que um outdoor exposto durante 15 dias num ponto mal escolhido ou um artigo publicado em jornal de pequena circulação. 
Essa facilidade de se externar ideias mostra o lado bom e o ruim do ser humano, refletindo exatamente o que acontece na vida real. Tanto aqui como lá, podemos encontrar frivolidade, maldade e preconceito, assim como sensibilidade, solidariedade e poesia. Todo o espectro de cores com as quais fomos desenhados está em um e no outro espaço. Apenas ficou mais fácil demonstrar o que somos, seja para o bem ou para o mal. 
Mesmo os que sentem necessidade de vender aquilo que não são, também o fazem aqui fora. Em alguns casos, a rede pode até mesmo ajudar a desvendar algumas farsas, revelando muito sobre seus autores.
Tem muita gente na internet mostrando sua face mais sórdida, mas, isso eu vejo de longe, pois a maioria não está na minha "lista de amigos", seja aqui dentro ou lá fora. Do meu ponto de vista, enxergo essencialmente muitas pessoas procurando recomeçar e ansiando por um futuro melhor, ainda que entre um bocado de lágrimas e uma ou outra onda de desânimo. Em outras palavras, gente que está vivendo.

Sobre (im)perfeição

Um dia acabamos aceitando que não vai existir hora nenhuma em que não estaremos cometendo algum tipo de falha, seja em qual for a área de nossa vida. Ninguém vai estar ao mesmo tempo completamente satisfeito com sua vida profissional, sentimental, intelectual, etc, etc, etc, o que é bom, porque a insatisfação nos mantêm caminhando. 
É a lei da natureza: Se concentro minhas energias nesse setor aqui, perco um pouco naquele ali e assim por diante. Alguma coisa sempre escapa quando temos pratos demais rodando em nossas varetas de malabarista. Não podemos controlar tudo. Acharia muito estranho se alguém dissesse que está completamente feliz em todas as áreas de sua vida e que não mudaria absolutamente nada em lugar nenhum.
Quando nos resignamos com essa condição de entes imperfeitos e nos perdoamos por isso, podemos parar de esperar que todos os planetas estejam alinhados e que cada pedacinho de nossa vida esteja funcionando na mais completa ordem para que, aí sim, possamos finalmente ser felizes. 
Passaremos a acolher pequenos momentos de felicidade sem fazer cara de quem recebeu uma esmola, só porque a maravilha que imaginávamos que a vida deveria ser não vai acontecer. Nos cobraremos menos e perceberemos que nossa caminhada se faz assim, um dia de cada vez, sem planos mirabolantes, ou pelo menos sem que tudo pare se eles não derem certo. E com uma ou outra besteira sendo cometida por essa gente defeituosa que somos.

Pertencimento

Há mais ou menos 20 anos, um amigo sempre vinha com conversa fiada de que queria morrer, ia se matar, etc... Do alto de minha "sabedoria" de vinte e poucos anos, um dia lhe disse que não poderia se matar, porque sua vida não pertencia somente a ele. Foi o melhor que pude fazer. Falei que a maior parte dele pertence às pessoas que o amam e que ficariam arrasadas se fizesse aquilo. E, por isso, não tinha direito de tirar a própria vida. Tanto tempo depois, vejo que o raciocínio não deixa de fazer sentido. Se alguém põe um revólver na sua cabeça, por exemplo, você logo diz ao bandido que tem uma filha, uma mulher, uma mãe, um amigo, um cachorro ou sei lá mais quem que precisa de você. É por isso que as pessoas querem ficar vivas, umas pelas outras. Afinal, quem não tem ninguém vai ficar fazendo o que aqui?

Idade

Não importa qual seja a sua idade, nunca diga que está velho demais para qualquer coisa. Dez anos depois, você sempre se arrepende.

Amizades

Seja você artista, político, jornalista, musicista, maquinista, diarista ou o diabo que te carregue. Durante sua vida, você terá uma ou outra pessoa digna de chamar de amiga. Se não me engano, o recorde mundial em todos os tempos foi de oito ou nove durante uma existência. Portanto, não se engane: Você - apenas mais um na multidão, assim como eu - nunca terá mais do que três ou quatro amigos.

Escolha

Mais cedo ou mais tarde tudo na vida, inclusive ela própria, cumpre seu ciclo e deixa de existir. Desde o brinquedo que acabou de sair da caixa brilhando, cheio de promessas de diversão, mas um dia perde o viço e é deixado num canto, até um relacionamento que parecia eterno e termina em desapontamento e mágoas ou simplesmente se esvai lentamente. Tudo uma hora morre. Quando se viveu o suficiente para ter essa clareza, restam dois caminhos a escolher: Passar os dias constantemente amargurado, sempre antecipando a perda daquilo que se tem ou valorizar ainda mais o presente, para que no amanhã não sobre nenhuma sensação de que tudo poderia ter sido melhor aproveitado.

Perdas e Danos

A vida é feita basicamente disso: As perdas que sofremos ao longo do caminho e a maneira como gerenciamos os danos que elas nos causarão dali em diante.

Ainda

Ainda há tempo pra tudo. A hora de desejar só termina com o último suspiro. Ainda há segredos a serem descobertos. A novidade só cessa quando fechamos os olhos pela última vez. Ainda há tempo.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Saindo de campo

E todos os jogadores deixaram o gramado, um a um, conscientes de que acertaram algumas jogadas e deram também uma ou outra canelada. Certos de que a partida foi disputada com honestidade, palmo a palmo, ainda que lesões tenham ocorrido de lado a lado. No entanto, nada proposital. Faz parte do jogo. Nada que vá atrapalhar o desempenho dos atletas em futuras jornadas. Agora, é colocar bastante gelo nos hematomas, pensar em todas as falhas de posicionamento e execução e, de cabeça erguida, pensar na próxima rodada.

A palavra

A palavra tem força. Ela sai do coração, varrendo artérias, vencendo obstáculos, destruindo inibições, contradizendo preconceitos, catalisando sentimentos, jorrando conceitos, antedizendo ações, edificando pontes e formalizando intenções. Nós somos a palavra e a palavra somos nós.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Estreias

Nada é tão prazeroso na vida quanto fazer algo ou sentir uma experiência pela primeira vez. Mas, e quando você ainda tem "primeiras vezes" aos 43 anos? Não é uma idade em que já deveríamos ter feito e sentido tudo? Ou as estreias são eternas?

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Crepúsculos

Um dia. E outro. E depois mais outro. Vamos tropeçando nos dias. Sendo soterrados por eles. Alguns machucam. Outros são mais leves. Dias hostis e dias amigos vão se misturando, nos preenchendo, nos transformando naquilo que somos. Um dia achamos que vamos explodir, que os dias não cabem mais em nós. Ficamos com medo e achamos que não suportaremos mais nenhum, não queremos mais viver na expectativa de experimentar os dias pesados que virão. Mas aí lembramos dos dias leves e, repentinamente, ficamos receptivos de novo. Queremos mais e mais dias e achamos que a quantidade de dias que teremos, no final das contas, ainda será pouca para saciar nossa vontade de tê-los todos. Em alguns dias, somos amanhecer. Em outros, entardecemos.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Copo d'água

Todo mundo morre com pendências. Viver é fazer planos, nem que seja dar uma volta no quarteirão ou ir à cozinha tomar um copo d'água. Todos que morrem deixam pra trás o nascimento de um neto, a conquista de seu time ou um gole d'água. Depois da morte, todas as não conquistas têm igual valor. Todos os planos estarão igualmente desfeitos. Todas as pendências serão eternas. Há que se degustar cada gota dessa água, antes que ela seque.

sexta-feira, 27 de março de 2015

A lição do tempo

O tempo nos ensina a amar. O tempo ou a insuficiência dele. Quando começamos a perceber que não somos imortais como pensávamos ser anos atrás, passamos a dar menos importância ao que não é amor. Um presentinho bobo que sua mãe lhe traz da rua hoje significa imensamente mais do que há duas décadas. Naquela época, riríamos e o jogaríamos de lado. Mas hoje ela tem 80 anos. Então, seguramos o presente e o guardamos em local seguro, como se fosse uma boia que nos salvará da dor inevitável da perda, o símbolo da eternidade que desejamos e nunca teremos. Conforme vão passando os anos, o tempo vai ensinando-nos a dar o valor devido à família, aos amigos e aos amores. A quem amamos e a quem nos ama. Ele nos ensina que o único motivo pelo qual estamos aqui é para amar. Porque amanhã ou depois, quando estivermos mortos, nenhuma vaidade, nenhum orgulho, nada do que não seja amor nos definirá. Só o amor nos guiará em direção à eternidade.

Diluição

Em alguns dias podem me ver triste. Mas alguns dias diluídos na grande alquimia da vida apenas quebram a monotonia de um quadro que é tudo, menos monocromático. E que, na conclusão da obra, será tudo, menos triste.

Perfeição

Ser irremediavelmente perfeccionista quando se é imperfeito e se vive em um mundo de imperfeições é a fonte de milhares de ansiedades, angústias e atos conscientes ou inconscientes de autoflagelo, em maior ou menor grau. A busca do equilíbrio exato entre aceitar-se errado e seguir tentando ser correto também traz sofrimento. É por isso que precisamos fugir. Música, literatura, cinema, esportes, trabalho, drogas, religião, moda, estudos, violência, viagens, caridade ou sexo. Qualquer maneira de nos afastarmos de nós mesmos, um pouco que seja, alivia a tensão por sermos como somos.