Tem o Fulano que perdeu a
paixão de sua vida para encontrar o amor. Tem o Sicrano que perdeu todos os
cabelos e só depois disso conseguiu encontrar a autoestima. E tem o Beltrano
que perdeu uma perna para depois acabar virando atleta. A vida engana.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
sábado, 12 de dezembro de 2015
Transformação
O valentão que deixou três desacordados no
bar dez anos atrás ouve todos os impropérios e apenas sorri com o canto da
boca, enquanto aperta mais forte seu filho contra o peito. A mocinha que sempre
se entregou às paixões com sede de moribundo no deserto, hoje escuta os mais
inventivos elogios e seu coração não acelera o passo como naqueles tempos. A
senhorinha, que na juventude só vestia roupas das grifes mais caras, não se preocupa mais
com aparências, porque sabe que o tempo deve ser ocupado com o que realmente importa. A vida nos quebra em mil pedaços e depois
junta tudo de novo. No final do processo, saímos transformados em outra pessoa.
sábado, 28 de novembro de 2015
Verdade colorida
Toda história tem três lados: o meu, o seu e a verdade.
Cada versão de um fato é contada de acordo com a vivência, o perfil psicológico
e os valores do narrador. Geralmente, essas versões dos que protagonizaram a
história é a que mais interessa. É mais apimentada, cheia de reviravoltas,
nuances cativantes e aspectos nebulosos. A verdade, por si mesma, é monótona e
pálida. Ela sempre precisa de nossa ajuda para ganhar um colorido todo
especial.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
Tudo ótimo
Quando virou a esquina, ainda próximo à sua casa,
encontrou um conhecido, que ao lhe avistar abriu um sorriso e o cumprimentou: “olá,
tudo bem?”.
Antes de responder, pensou consigo mesmo que não, não
estava bem. Não havia conseguido dormir direito aquela noite, por causa de
pensamentos obsessivos sobre tudo que lhe causava medo e angústia nos últimos
tempos.
Refletindo melhor, percebeu que não estava bem desde a
morte de seu pai e lá se iam quase 18 anos. Não falava muito sobre o assunto,
não chorava e nem mesmo tinha sempre consciência do impacto que essa perda causou em sua vida. Mas ela, a falta, estava sempre ali, sempre presente.
Também não estava bem em sua vida profissional, que havia
empacado, justo agora que estava na casa dos 40 anos e precisava de mais
dinheiro para satisfazer algumas necessidades e tornar realidade um ou outro plano.
Sentia-se traído por estar desperdiçando tempo e talento em atividades que já
não lhe traziam prazer.
O prazer, aliás, vinha em conta-gotas e de forma torta,
em risadas histéricas na madrugada, quando estava bêbado, ou comentários cada
vez mais ácidos sobre qualquer pessoa ou fato que o cercasse.
Não se sentia compreendido, amado ou acolhido. E não se
sentia capaz de acolher ou fazer felizes os amigos, os familiares, quem quer
que fosse. Se a felicidade é feita de momentos, a impressão era que sua cota de
sensações boas havia esgotado e, dali em diante, tudo seria apenas apatia.
Por algum motivo que não entendia bem, sentia-se sufocado
e sufocador, vítima e algoz, perseguido e perseguidor. Nada parecia ser capaz
de tirar esse gosto amargo de sua boca. Sabia que, se nada excepcional
ocorresse, havia ainda muita vida pela frente. Mas não conseguia ter certeza se
isso era totalmente bom.
“Tudo ótimo”,
respondeu, retribuindo o sorriso.sexta-feira, 13 de novembro de 2015
Rasantes
Deus me livre de viver no
piloto automático. Quero fazer acrobacias e dar rasante em cima do quintal, pra
ver as roupas voando do varal.
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
Caminhada
Não há atalho na vida. Você só percorre
o caminho proporcional ao que precisa aprender. Sejam quais forem suas lições
mais urgentes, o leque é quase infinito: amor, humildade, tolerância,
perseverança, obstinação, resiliência e muito mais. Não existe tempo perdido.
Existem longas caminhadas e são essas que levam para mais longe.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Permanência
Tenho 44 anos. Já superei em onze anos a idade de Cristo e em
dezessete anos a idade de Kurt Cobain. Ainda estou vivo, apesar de ter me
sentido crucificado por uma dúzia de vezes e mastigado e cuspido como o caroço
de uma cereja outras tantas. Já emprestei o ombro pra gente que se valeu desse
conforto para chorar e uma semana depois me esfaqueou bem no meio das costas.
Já me alimentei da noite e bebi do dia por tantas e tantas vezes, até achar que
estava cansado, só pra me levantar na manhã seguinte e fazer tudo de novo. Já
entendi que nada permanece, a não ser o presente segundo, que durará enquanto
houver vida, e esta é tão passageira. Mas, de todos os entendimentos e
sentimentos, o maior de todos é a gratidão pelos amigos que passaram pela minha
vida e, principalmente, pelos que permaneceram. Cada um sabe exatamente seu
papel nessa história, pois nunca fui e nunca serei bom em esconder sentimentos.
Carpideiras
No final, sobrarão somente
os amigos. Ou as carpideiras, que não deixam de ser amigas, desde que façam
direito o trabalho pelo qual foram pagas.
Seis semanas
Fui pai por seis semanas. Na verdade, ele nem nasceu, ficou esse tempo na barriga da mãe, apenas uma sementinha com um coraçãozinho minúsculo, batendo bem forte. Mas me senti pai nesse período. Toda minha gratidão por isso. Tudo na vida tem a hora e o período de tempo
certo para acontecer. Ou para não acontecer. Sinto-me muito feliz. Sigo o fluxo
e não questiono mais nada, apesar de seguir tentando derrubar as grades da
gaiola que nos prende nesse roteiro pré-determinado.
Raio
Tive privilégios demais na
vida. Quando ando na rua em dias chuvosos, acho que um raio vai cair na minha
cabeça. Fico pensando no quanto uma pessoa pode receber de dádivas até que sua
cota acabe. Às vezes acho que minha parte já acabou faz tempo e, a qualquer
momento, alguém vai me descobrir ainda perambulando aqui embaixo e acabar
com tudo de repente.
Ferramenta
A internet não inventou a
mentira, a ignorância ou a maldade. Elas já estavam dentro das pessoas, apenas
esperando que fosse criada uma ferramenta que propagasse tudo isso da maneira
mais eficiente, e consequentemente mais covarde, possível.
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
Picadeiro
Dar mil piruetas,
continuar em pé e seguir em frente, como se nada tivesse acontecido. A vida é
mesmo um circo.
Os donos do mundo
Não se engane. Os idiotas,
desonestos, maldosos e hipócritas são os donos do mundo. Desfilam soberanos,
sob aplausos fervorosos. Enquanto isso, o resto de nós luta para vencer uma ou
outra batalha dessa guerra já perdida.
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Rush: o presente que vai durar para sempre
Acompanhei
nos últimos meses as notícias sobre a mais recente turnê do trio canadense Rush
na internet com uma mistura de choro engasgado na garganta e alegria.
A
cada cidade em que tocavam nos Estados Unidos e no Canadá, únicos países onde
eles tocaram dessa vez, os relatos sobre as apresentações me deixavam feliz e
orgulhoso por saber que minha banda de rock preferida seguia destruindo sobre
os palcos.
Mas,
ao mesmo tempo, a proximidade do final da rodada de shows, que terminou no dia
1º de agosto, em Los Angeles, tornava mais forte o sentimento de vazio,
justificado por todas as entrevistas em que Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil
Peart afirmaram que essa seria a “última grande turnê” do Rush.
Diferentes
motivos levaram a essa decisão, o mais óbvio, e talvez o que origine todos os
outros, é a idade em que os integrantes da banda estão. O baterista Neil Peart
vai fazer 64 anos em setembro, o guitarrista Alex Lifeson tem 61 anos e Geddy
Lee recentemente completou 62 anos.
Quem
conhece a intensidade de um show do Rush sabe que não é possível que eles
cheguem à longevidade de um Rolling Stones. São músicos extremamente técnicos e
executam, noite após noite, durante três horas, épicos difíceis de tocar até
para um garoto. E, durante essas execuções, não trafegam por atalhos, não dão
um jeitinho aqui e outro ali para facilitar seu trabalho. Pelo contrário: ao
vivo, as músicas são acrescidas de solos de bateria, algumas vezes de baixo e
de um ou outro improviso de deixar qualquer um de queixo caído.
E
é de queixo caído que o mundo vem ficando há mais de 40 anos, a cada lançamento
de disco e a cada série de shows do Rush, em casas lotadas de espectadores
incrédulos. Eu peguei carona nessa jornada em 1986, quando tinha 15 anos e pela
primeira vez ouvi uma coletânea do Rush em fita cassete, com músicas do
primeiro disco ao vivo, All The World’s a Stage e mais algumas de discos como
2112 (1976), Permanent Waves (1980) e Moving Pictures (1981).
As
sessões que eu e alguns amigos fazíamos para assistir ao vídeo Exit... Stage
Left também fizeram parte da minha primeira de minha doutrinação. A história é
a mesma da maioria dos fãs do Rush. Não conseguia acreditar que podia existir
uma banda com tanta musicalidade e técnica ao mesmo tempo. E que tinha um
baterista que, além de ser monstro em seu instrumento, de tocar de forma
diferente, ao mesmo tempo com técnica de jazzista e pegada dos roqueiros mais
nervosos, era capaz de escrever letras diferentes de todas as que eu já tinha
escutado no rock.
A
voz de Geddy Lee, que tanto estranhamento causa em tanta gente, pelo seu timbre
muito agudo, entrou em meus ouvidos e foi diretamente para minhas veias,
passando a correr lá dentro com meu sangue, tal foi a paixão que tomou conta de
mim quando a ouvi.
E,
por cima daquela cozinha furiosa, formada por uma bateria que não dava um
segundo de trégua e por um baixo que pulsava furioso e voava livre como a
imaginação do músico primoroso que o tocava, a guitarra de Alex Lifeson soava
como um manto feito de diversos tipos de materiais, indo da distorção mais suja
ao dedilhado mais limpo, completando a alquimia sonora de um trio que mais soava
como uma orquestra.
Com
15 anos, em 1986, época em que não havia acesso a todos os discos que queríamos
ouvir no Brasil, comecei a garimpar e logo completei minha coleção do Rush.
Naquela época, quando eu guardava dinheiro para comprar discos, adquirir as
bolachas do Rush que eu ainda não tinha tornou-se prioridade número um. Para
isso, eu pegava um ônibus com um amigo em Araraquara e descia em Ribeirão
Preto, onde havia uma loja com mais opções de rock. Em uma oportunidade, voltei
de lá com quatro discos do Rush, de uma só vez. E assim fui comprando até que,
em 1987, comprei pela primeira vez um disco novo do Rush: Hold Your Fire.
Chegar
em casa e colocar um disco novo do Rush na aparelhagem de som, ao mesmo tempo
em que lia as letras no encarte, com um dicionário inglês-português ao meu
lado, foi um ritual que se repetiu até 2012, quando comprei o álbum mais
recente, Clockwork Angels. Foram 25 anos de ansiedade lendo notícias sobre quando
entrariam em estúdio, depois sobre a sessão de gravação de cada disco, depois
pescando uma notícia aqui e outra ali sobre a data de lançamento e finalmente
comprando o disco.
Isso
serviu para todos os discos ao vivo e todas as fitas de vídeo e,
posteriormente, DVDs lançados. Nessas duas décadas e meia, acompanhei a banda
por meio de revistas especializadas e depois pela internet, quando esta se
popularizou. Aprendi muito bem o inglês traduzindo as letras, na época em que
não havia as facilidades tecnológicas de hoje. Eu tinha um caderno de letras do
Rush traduzidas por mim, desde o primeiro disco até o Roll the Bones. Ainda
tenho esse caderno em algum lugar. As traduções, sempre com o dicionário ao
lado, começavam assim que eu começava a ouvir cada novo disco.
Em
1989 eu fiquei sócio de um fã-clube inglês do Rush e passei a receber os
fanzines em casa. Acompanhei as notícias sobre a turnê do disco Presto e sobre um
grupo de fãs ingleses que viajaria aos Estados Unidos para ver alguns shows do
Rush e ficaria hospedado na casa de amigos da banda Dream Theater. “Depois do
ensaio, fomos todos ver o show do Rush”, diz um dos relatos, que lembrei anos
depois, quando eles ficaram famosos. Na época, eram apenas fãs do Rush que
tinha uma banda.
Com
o passar dos anos, a vontade de ver um show do Rush ao vivo foi crescendo e, em
1992, escrevi uma carta para o escritório da Anthem Entertainment, o quartel-general
da banda em Toronto, no Canadá, pedindo para que considerassem uma vinda ao
Brasil, porque tinham muitos fãs aqui. Como resposta, recebi um “Tour Book”
maravilhoso da turnê do disco Roll the Bones (1992). Mas nada de shows no
Brasil ainda.
Foi
mais ou menos naquela época também que comecei a ler entrevistas de Neil Peart
dizendo que estava cansado de fazer turnês, que gostava de ficar em casa e que
a rotina de viajar e se hospedar de hotel em hotel, longe da família, estava
cada vez mais estressante. Mas ele tinha pouco mais de 40 anos e sempre foi
rapidamente convencido pelos companheiros a seguir adiante. Até 1997, quando
Selena, filha única de Peart, morreu aos 19 anos de acidente de carro e, um ano
depois, após um câncer fulminante, sua esposa Jacqueline também morreu. A
tragédia interrompeu as atividades do Rush até 2001, quando Peart decidiu que
não queria jogar fora tudo que havia conquistado na música, e voltou a ensaiar
com seus companheiros, o que resultou no disco Vapor Trails (2002).
Acompanhei
tudo isso “de perto”, sentado em meu computador lendo todas as notícias na
internet, seguindo todas as discussões em fóruns especializados na banda e
comprando todas as publicações sobre música com alguma matéria do trio. E mal
acreditei quando fiquei sabendo que finalmente, em 2002, o Rush, aquela banda
que despertou meu amor pela sua música em 1987, viria fazer shows no Brasil.
Assisti
a dois shows do Rush em 2002, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, este
último gravado e lançado no DVD Rush in Rio, que traz também um documentário
sobre a viagem ao País. Em 2010, assisti outros dois shows, também um em São
Paulo e outro no Rio, da turnê Time Machine, em que tocaram o disco Moving
Pictures na íntegra.
Fiquei
torcendo para que voltassem nos anos seguintes, mas só pude acompanhar trechos
e relatos de shows pela internet, inclusive alguns dessa última turnê, que
terminou no dia 1º de agosto em Los Angeles, com um repertório espetacular e
performances impecáveis. O show de Los Angeles foi prestigiado pelos bateristas
Doane Perry (Jethro Tull), Stewart Copeland (The Police), Taylor Hawkins (Foo
Fighters), Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) e Danny Carey (Tool), todos
querendo ver mais uma vez o professor Neil Peart.
Após
o fim da turnê, e mesmo enquanto ainda estavam na estrada, as declarações dos
integrantes da banda têm sido meio que conflitantes. O guitarrista Alex Lifeson
diz que sofre há anos de artrite nas mãos, o que exige ainda mais atenção ao
que está fazendo durante os shows e Neil Peart sofre de tendinite nos dois
ombros, o que o faz sofrer com dores desde o início dos ensaios até o último
show da temporada. Além disso, reconstruiu sua vida pessoal casando-se
novamente e hoje tem uma filha de cinco anos, o que o faz sentir ainda mais o
tempo longe de casa. O baterista chegou a dizer recentemente que, pelo menos em
parte, concordou em fazer as duas últimas turnês por um sentimento de gratidão
e de dever para com os dois amigos, pelo tempo em que ficaram esperando sua
recuperação após a tragédia que atingiu sua vida.
Já
Geddy Lee diz que sente o peso dos anos como todo mundo de sua idade, mas que
tem muita saúde e adora viajar e tocar. Comprou recentemente um arsenal de
novos baixos e reformou seu estúdio caseiro, louco de vontade de voltar a
compor. Mesmo o guitarrista Alex Lifeson já disse que seus problemas de saúde
não impedem que dê um pulinho na casa de Lee para comporem juntos, pois ele tem
“toneladas” de riffs guardados.
O
fato é que o Rush não existe sem um dos integrantes e todos têm perspectivas
diferentes do passar dos anos. E o tempo não para, apesar dos apelos da banda na
música Time Stand Still, do disco Hold Your Fire, mais uma letra grandiosa de
Peart. Os três sempre terão muita música dentro de suas cabeças, mas encarar a
estrada, pelo menos para alguns deles, se tornou uma tarefa cada vez mais
penosa.
O
Rush é uma banda que, durante sua carreira, venceu todas as barreiras, inclusive
do preconceito de parte importante da imprensa musical, que não entendia o tipo
de música que faziam e transformava essa ignorância em críticas ácidas e
maldosas sobre seus discos. Eles são uma banda que construiu sua base de fãs com
muito trabalho, caindo na estrada e tocando, não se entregando nunca a modismos
passageiros ou a conselhos de produtores e diretores de gravadora, ao mesmo
tempo em que absorviam influências de novos estilos musicais ao longo das
décadas, sempre mantendo intacta sua assinatura.
Eu,
como fã, não tenho do que reclamar. Eles fizeram todos os discos que eu queria
ouvir, continuaram tocando cada vez melhor e colocaram cada música obscura que
os fãs pediram em seus repertórios de shows. Vieram ao Brasil, gravaram um DVD
ao vivo no País e fizeram juras de amor ao público, do qual faço parte.
Entraram até mesmo para o ultra exclusivo e comercial Rock and Roll Hall of
Fame, com direito a discurso irônico de Alex Lifeson, após a banda ser apresentada
pelos fãs Dave Ghrol e Taylor Hawkins, do Foo Fighters, e com direito a uma
performance no palco para exorcizar todos os anos em que foram esnobados pelos
clubinhos de “entendidos de rock”.
Li
entrevistas de Geddy Lee e Alex Lifeson em que falam em fazer temporadas
esporádicas de shows no Madison Square Garden, em Nova Iorque, coisa de dez
noites seguidas, para que todos os fãs tenham oportunidade de viajar até lá para
vê-los ao vivo mais uma vez, sem que os integrantes da banda e sua equipe tenham
que passar por longas viagens e períodos fora de casa. E eles dizem ainda que
certamente seguirão lançando discos.
O
Rush tem direito de fazer o que quiser. Os fãs, como eu, podem até soltar uma
hora esse choro engasgado na garganta, pela sensação de que a saga dos três
reis magos está chegando ao final. Podemos espernear e exigir mais shows no
Brasil, na Europa, seja onde for. Mas, no final das contas, não temos esse
direito. Porque, no fim das contas, o mais importante é que a música com a qual
eles nos presentearam vai durar para sempre.
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
Wheels
Se eu dissesse que sou fanático pelo Foo Fighters, estaria mentindo. Mas
a considero a última grande banda realmente legal. Quando foi lançado o disco
There is Nothing Left to Lose, eu o ouvi repetidas vezes durante um ano. Achei,
e ainda acho, um trabalho primoroso. Aí baixei um monte de músicas e fiz uma
coletânea monstro, depois comprei o Foo Fighters, o The Color and the Shape, o
One by One e o In Your Honor. Mas nunca mais ouvi nenhum deles tanto assim.
O Foo Fighters logo já ganhou minha simpatia pelo fato de ter o cara que era baterista do Nirvana e saiu da parte de trás do palco para compor, tocar e cantar em sua própria banda, conseguindo fazer história de novo. Merece respeito. E tem os vídeos engraçados, o fato de Dave Grohl e Taylor Hawkins serem fãs do Rush (dessa sou fã também), etc...
Enfim, um dia eles lançaram uma coletânea com a faixa inédita, Wheels, que na época até foi considerada fraca por um resenhista que escreve em algum site especializado em música. O fato é que alguns fãs podem até achar que estou louco, mas, pra mim, essa é uma das melhores músicas da banda.
O Foo Fighters logo já ganhou minha simpatia pelo fato de ter o cara que era baterista do Nirvana e saiu da parte de trás do palco para compor, tocar e cantar em sua própria banda, conseguindo fazer história de novo. Merece respeito. E tem os vídeos engraçados, o fato de Dave Grohl e Taylor Hawkins serem fãs do Rush (dessa sou fã também), etc...
Enfim, um dia eles lançaram uma coletânea com a faixa inédita, Wheels, que na época até foi considerada fraca por um resenhista que escreve em algum site especializado em música. O fato é que alguns fãs podem até achar que estou louco, mas, pra mim, essa é uma das melhores músicas da banda.
"And everyone I've loved before
Flashed before my eyes
And nothing mattered anymore
I looked into the sky
Flashed before my eyes
And nothing mattered anymore
I looked into the sky
Well I wanted something better man
I wished for something new
And I wanted something beautiful
And wish for something true
Been looking for a reason man
Something to lose"
I wished for something new
And I wanted something beautiful
And wish for something true
Been looking for a reason man
Something to lose"
Bowie
David Bowie flertou com
diversos estilos de música ao longo de sua carreira, incluindo Soul Music,
Disco Music e Música Eletrônica. Em 1988, aos 41 anos, ele decidiu que queria
formar uma banda de rock e montou a Thin Machine, que durou até 1992. Músico
fantástico, artista completo e referência fundamental na história da música
contemporânea. Não existem adjetivos suficientes para Bowie.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Uns e outros
A facilidade de se fazer amizades pode ser, ao mesmo tempo,
qualidade e defeito. É qualidade na medida em que dá oportunidade de se
(re)conhecer rapidamente almas afins, espíritos companheiros, inclusive alguns
que caminharão conosco durante toda nossa jornada. E é defeito quando se
descobre que alguns encontros faziam parte de um jogo de ilusão, um esquema de
máscaras, uma montagem de cena, que cai ao primeiro sopro. Mas, com o tempo,
aprendemos a valorizar os dois tipos de experiência. As doces nos fazem sentir
a viagem mais leve e as amargas foram colocadas à nossa frente para nos fazer
enxergar ainda com mais ternura aquilo que é real. A uns e a outros, a minha
gratidão.
domingo, 5 de julho de 2015
Sonho x Realidade no mundo da música pop
“As pessoas afetivamente
mais infelizes que conheço são as que mais gostam de música pop; e não sei se
foi a música pop que causou tal infelicidade, mas sei que elas vêm ouvindo as
canções tristes há mais tempo do que vêm vivendo suas vidas infelizes”.
A frase do livro Alta
Fidelidade, do escritor inglês Nick Hornby, lançado em 1995 e adaptado para o
cinema cinco anos depois, joga um pouco de luz em uma zona obscura, assim como é obscura a vida
do personagem principal, Rob, que é dono de uma loja de discos e gosta de
passar o tempo fazendo listas. São listas de músicas, de empregos dos sonhos e
dos “foras” mais dolorosos que recebeu em sua vida.
Quando se dispõe a enumerar
as cinco mulheres que mais fizeram com que seu coração doesse após a separação,
sempre deixa de fora Laura, querendo provar a si mesmo que ela não foi uma das
paixões mais importantes de sua vida.
No entanto, a incoerência é
que Laura sempre acaba se mostrando protagonista das histórias de Rob, enquanto
ele tenta provar aos leitores e a si mesmo que sua vida está bem mais feliz
agora, longe da namorada que o abandonou por um vizinho do andar de cima do
apartamento onde moravam.
Dessa forma, o livro gira em
torno da dificuldade de Rob em encarar que Laura era a oportunidade que ele
tinha de começar a viver uma vida adulta, em oposição à sua rotina de lidar com
os adolescentes que frequentam sua loja, incluindo seus dois empregados, com
quem conversa sobre música o tempo inteiro.
Aos 30 e poucos anos,
triste, falido, sem namoradas e rodeado de músicas que remetem à vida a dois
que mantinha com Laura, o protagonista do livro começa a se sentir saudosista
em relação a uma vida que considerava o oposto daquilo que sempre teve como o
ápice da liberdade, já que ser dono de uma loja de discos era a quinta opção em
sua lista de empregos dos sonhos.
Ao longo do livro, as reflexões de Rob sobre
suas namoradas vão fazendo com que ele perceba que a vida de solteiro que tanto
tenta se convencer de que é a melhor que poderia viver não passa de uma
fantasia. E que o convívio com sua ex-namorada Laura, na verdade, foi o que
colocou um sorriso em seu rosto durante cinco anos de convivência.
Eventualmente, Rob e Laura acabam voltando e
a vida passa a se materializar para ele, como se tudo o que sempre sonhou não
fizesse o menor sentido longe da sua mulher. As músicas, a tristeza que permeia
grande parte da cultura pop e a vida sem limites e sem amarras que Rob sempre
sonhou passa, então, a fazer parte do passado. Da época em que ele era apenas
um ensaio, um rascunho. Uma sombra do homem feliz que se tornaria depois.
Ao final, Rob torna-se consciente de que não
é preciso viver a infelicidade para apreciar toda a obra deixada por artistas
que sofreram. Eles não sofreram para que seus admiradores sofressem da mesma
maneira e sim percebessem que viver a vida em lágrimas não vale a pena.
quinta-feira, 2 de julho de 2015
Da vaidade ao pó
Com o passar dos anos, na mesma proporção em
que nossos corpos vão perdendo o viço da juventude, a cabeça vai trabalhando no
mesmo sentido, e vamos deixando para trás as vaidades tolas. A roupa cara, o carro do
ano, as atitudes exibicionistas e os lampejos de egocentrismo vão ficando pelo
caminho, como se fossem malas atiradas ao chão. Pouco a pouco, nos livramos da
bagagem pesada demais para suportar, que nos atrapalha a caminhada. Vai
ficando só o que é realmente importante. Até que sobre apenas a essência. No
final, todo o resto vira, literalmente, pó.
sábado, 20 de junho de 2015
Balão
Liberdade não é balão solto no ar, perdido, correndo risco de estourar. Liberdade é balão que dança ao vento, mas tem pra onde voltar. É se mover pelo mundo inteiro e saber que há porto onde atracar. E que nem tempo e nem espaço o irão tocar. Porque o vento que leva também o trará de volta.
sexta-feira, 19 de junho de 2015
Vivendo na rede
A internet em geral, e as
redes sociais em particular, vêm se tornando ferramenta cada vez mais comum
para as pessoas exporem suas angústias e suas alegrias. É a tese do filósofo
MacLuhan, segundo a qual "o meio é a mensagem", em sua forma mais
viva. A facilidade de se expressar de maneira instantânea frequentemente faz
com que as pessoas se coloquem nuas diante de milhares de estranhos, devido à
sua ansiedade de se comunicar, colocar para fora aquilo que estava gritando
dentro delas, e que acham que o mundo também deveria ouvir.
Não é necessário mais dirigir quilômetros, levar uma carta ao correio ou dar um telefonema para expor ideias. Uma mensagem bem colocada no Facebook repercute mais do que um outdoor exposto durante 15 dias num ponto mal escolhido ou um artigo publicado em jornal de pequena circulação.
Essa facilidade de se externar ideias mostra o lado bom e o ruim do ser humano, refletindo exatamente o que acontece na vida real. Tanto aqui como lá, podemos encontrar frivolidade, maldade e preconceito, assim como sensibilidade, solidariedade e poesia. Todo o espectro de cores com as quais fomos desenhados está em um e no outro espaço. Apenas ficou mais fácil demonstrar o que somos, seja para o bem ou para o mal.
Mesmo os que sentem necessidade de vender aquilo que não são, também o fazem aqui fora. Em alguns casos, a rede pode até mesmo ajudar a desvendar algumas farsas, revelando muito sobre seus autores.
Tem muita gente na internet mostrando sua face mais sórdida, mas, isso eu vejo de longe, pois a maioria não está na minha "lista de amigos", seja aqui dentro ou lá fora. Do meu ponto de vista, enxergo essencialmente muitas pessoas procurando recomeçar e ansiando por um futuro melhor, ainda que entre um bocado de lágrimas e uma ou outra onda de desânimo. Em outras palavras, gente que está vivendo.
Não é necessário mais dirigir quilômetros, levar uma carta ao correio ou dar um telefonema para expor ideias. Uma mensagem bem colocada no Facebook repercute mais do que um outdoor exposto durante 15 dias num ponto mal escolhido ou um artigo publicado em jornal de pequena circulação.
Essa facilidade de se externar ideias mostra o lado bom e o ruim do ser humano, refletindo exatamente o que acontece na vida real. Tanto aqui como lá, podemos encontrar frivolidade, maldade e preconceito, assim como sensibilidade, solidariedade e poesia. Todo o espectro de cores com as quais fomos desenhados está em um e no outro espaço. Apenas ficou mais fácil demonstrar o que somos, seja para o bem ou para o mal.
Mesmo os que sentem necessidade de vender aquilo que não são, também o fazem aqui fora. Em alguns casos, a rede pode até mesmo ajudar a desvendar algumas farsas, revelando muito sobre seus autores.
Tem muita gente na internet mostrando sua face mais sórdida, mas, isso eu vejo de longe, pois a maioria não está na minha "lista de amigos", seja aqui dentro ou lá fora. Do meu ponto de vista, enxergo essencialmente muitas pessoas procurando recomeçar e ansiando por um futuro melhor, ainda que entre um bocado de lágrimas e uma ou outra onda de desânimo. Em outras palavras, gente que está vivendo.
Sobre (im)perfeição
Um
dia acabamos aceitando que não vai existir hora nenhuma em que não estaremos
cometendo algum tipo de falha, seja em qual for a área de nossa vida. Ninguém
vai estar ao mesmo tempo completamente satisfeito com sua vida profissional,
sentimental, intelectual, etc, etc, etc, o que é bom, porque a insatisfação nos
mantêm caminhando.
É a lei da natureza: Se concentro minhas
energias nesse setor aqui, perco um pouco naquele ali e assim por diante.
Alguma coisa sempre
escapa quando temos pratos demais rodando em nossas varetas de malabarista. Não
podemos controlar tudo. Acharia muito estranho se alguém dissesse que está
completamente feliz em todas as áreas de sua vida e que não mudaria
absolutamente nada em lugar nenhum.
Quando nos resignamos com essa condição de entes imperfeitos e nos perdoamos por isso, podemos parar de esperar que todos os planetas estejam alinhados e que cada pedacinho de nossa vida esteja funcionando na mais completa ordem para que, aí sim, possamos finalmente ser felizes.
Passaremos a acolher pequenos momentos de felicidade sem fazer cara de quem recebeu uma esmola, só porque a maravilha que imaginávamos que a vida deveria ser não vai acontecer. Nos cobraremos menos e perceberemos que nossa caminhada se faz assim, um dia de cada vez, sem planos mirabolantes, ou pelo menos sem que tudo pare se eles não derem certo. E com uma ou outra besteira sendo cometida por essa gente defeituosa que somos.
Quando nos resignamos com essa condição de entes imperfeitos e nos perdoamos por isso, podemos parar de esperar que todos os planetas estejam alinhados e que cada pedacinho de nossa vida esteja funcionando na mais completa ordem para que, aí sim, possamos finalmente ser felizes.
Passaremos a acolher pequenos momentos de felicidade sem fazer cara de quem recebeu uma esmola, só porque a maravilha que imaginávamos que a vida deveria ser não vai acontecer. Nos cobraremos menos e perceberemos que nossa caminhada se faz assim, um dia de cada vez, sem planos mirabolantes, ou pelo menos sem que tudo pare se eles não derem certo. E com uma ou outra besteira sendo cometida por essa gente defeituosa que somos.
Pertencimento
Há mais ou menos 20 anos,
um amigo sempre vinha com conversa fiada de que queria morrer, ia se matar,
etc... Do alto de minha "sabedoria" de vinte e poucos anos, um dia
lhe disse que não poderia se matar, porque sua vida não pertencia somente a
ele. Foi o melhor que pude fazer. Falei que a maior parte dele pertence às
pessoas que o amam e que ficariam arrasadas se fizesse aquilo. E, por isso, não
tinha direito de tirar a própria vida. Tanto tempo depois, vejo que o
raciocínio não deixa de fazer sentido. Se alguém põe um revólver na sua cabeça,
por exemplo, você logo diz ao bandido que tem uma filha, uma mulher, uma mãe,
um amigo, um cachorro ou sei lá mais quem que precisa de você. É por isso que
as pessoas querem ficar vivas, umas pelas outras. Afinal, quem não tem ninguém
vai ficar fazendo o que aqui?
Idade
Não importa qual seja a
sua idade, nunca diga que está velho demais para qualquer coisa. Dez anos
depois, você sempre se arrepende.
Amizades
Seja você artista, político, jornalista,
musicista, maquinista, diarista ou o diabo que te carregue. Durante sua vida,
você terá uma ou outra pessoa digna de chamar de amiga. Se não me engano, o
recorde mundial em todos os tempos foi de oito ou nove durante uma existência.
Portanto, não se engane: Você - apenas mais um na multidão, assim como eu -
nunca terá mais do que três ou quatro amigos.
Escolha
Mais cedo ou mais tarde tudo na vida, inclusive
ela própria, cumpre seu ciclo e deixa de existir. Desde o brinquedo que acabou
de sair da caixa brilhando, cheio de promessas de diversão, mas um dia perde o
viço e é deixado num canto, até um relacionamento que parecia eterno e termina
em desapontamento e mágoas ou simplesmente se esvai lentamente. Tudo uma hora
morre. Quando se viveu o suficiente para ter essa clareza, restam dois caminhos
a escolher: Passar os dias constantemente amargurado, sempre antecipando a
perda daquilo que se tem ou valorizar ainda mais o presente, para que no amanhã
não sobre nenhuma sensação de que tudo poderia ter sido melhor aproveitado.
Perdas e Danos
A vida é feita basicamente disso: As perdas que
sofremos ao longo do caminho e a maneira como gerenciamos os danos que elas nos
causarão dali em diante.
Ainda
Ainda há tempo pra tudo. A
hora de desejar só termina com o último suspiro. Ainda há segredos a serem
descobertos. A novidade só cessa quando fechamos os olhos pela última vez.
Ainda há tempo.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Saindo de campo
E todos os jogadores
deixaram o gramado, um a um, conscientes de que acertaram algumas jogadas e
deram também uma ou outra canelada. Certos de que a partida foi disputada com
honestidade, palmo a palmo, ainda que lesões tenham ocorrido de lado a lado. No
entanto, nada proposital. Faz parte do jogo. Nada que vá atrapalhar o
desempenho dos atletas em futuras jornadas. Agora, é colocar bastante gelo nos
hematomas, pensar em todas as falhas de posicionamento e execução e, de cabeça
erguida, pensar na próxima rodada.
A palavra
A palavra tem força. Ela sai do coração, varrendo artérias, vencendo obstáculos, destruindo inibições, contradizendo preconceitos, catalisando sentimentos, jorrando conceitos, antedizendo ações, edificando pontes e formalizando intenções. Nós somos a palavra e a palavra somos nós.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
Estreias
Nada é tão prazeroso na vida quanto fazer algo ou sentir uma experiência pela primeira vez. Mas, e quando você ainda tem "primeiras vezes" aos 43 anos? Não é uma idade em que já deveríamos ter feito e sentido tudo? Ou as estreias são eternas?
quarta-feira, 13 de maio de 2015
Crepúsculos
Um dia. E outro. E depois mais outro. Vamos tropeçando nos dias. Sendo soterrados por eles. Alguns machucam. Outros são mais leves. Dias hostis e dias amigos vão se misturando, nos preenchendo, nos transformando naquilo que somos. Um dia achamos que vamos explodir, que os dias não cabem mais em nós. Ficamos com medo e achamos que não suportaremos mais nenhum, não queremos mais viver na expectativa de experimentar os dias pesados que virão. Mas aí lembramos dos dias leves e, repentinamente, ficamos receptivos de novo. Queremos mais e mais dias e achamos que a quantidade de dias que teremos, no final das contas, ainda será pouca para saciar nossa vontade de tê-los todos. Em alguns dias, somos amanhecer. Em outros, entardecemos.
segunda-feira, 27 de abril de 2015
Copo d'água
Todo mundo morre com
pendências. Viver é fazer planos, nem que seja dar uma volta no quarteirão ou
ir à cozinha tomar um copo d'água. Todos que morrem deixam pra trás o
nascimento de um neto, a conquista de seu time ou um gole d'água. Depois da
morte, todas as não conquistas têm igual valor. Todos os planos estarão
igualmente desfeitos. Todas as pendências serão eternas. Há que se degustar
cada gota dessa água, antes que ela seque.
sexta-feira, 27 de março de 2015
A lição do tempo
O tempo nos ensina a amar. O tempo ou a
insuficiência dele. Quando começamos a perceber que não somos imortais como pensávamos
ser anos atrás, passamos a dar menos importância ao que não é amor. Um
presentinho bobo que sua mãe lhe traz da rua hoje significa imensamente mais do
que há duas décadas. Naquela época, riríamos e o jogaríamos de lado. Mas hoje
ela tem 80 anos. Então, seguramos o presente e o guardamos em local seguro,
como se fosse uma boia que nos salvará da dor inevitável da perda, o símbolo da
eternidade que desejamos e nunca teremos. Conforme vão passando os anos, o
tempo vai ensinando-nos a dar o valor devido à família, aos amigos e aos amores.
A quem amamos e a quem nos ama. Ele nos ensina que o único motivo pelo qual
estamos aqui é para amar. Porque amanhã ou depois, quando estivermos mortos, nenhuma
vaidade, nenhum orgulho, nada do que não seja amor nos definirá. Só o amor nos
guiará em direção à eternidade.
Diluição
Em alguns dias
podem me ver triste. Mas alguns dias diluídos na grande alquimia da vida apenas
quebram a monotonia de um quadro que é tudo, menos monocromático. E que, na
conclusão da obra, será tudo, menos triste.
Perfeição
Ser
irremediavelmente perfeccionista quando se é imperfeito e se vive em um mundo
de imperfeições é a fonte de milhares de ansiedades, angústias e atos
conscientes ou inconscientes de autoflagelo, em maior ou menor grau. A busca do
equilíbrio exato entre aceitar-se errado e seguir tentando ser correto também
traz sofrimento. É por isso que precisamos fugir. Música, literatura, cinema,
esportes, trabalho, drogas, religião, moda, estudos, violência, viagens,
caridade ou sexo. Qualquer maneira de nos afastarmos de nós
mesmos, um pouco que seja, alivia a tensão por sermos como somos.
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