sábado, 5 de abril de 2014

Todo cuidado é pouco


É bom não ter rabo preso com ninguém. Assim como não tinha o jornalista Vladimir Herzog, apesar de ter sido assassinado pelos coronéis da Ditadura, sob alegação de ser líder subversivo, simplesmente por ter amigos no Partido Comunista. No entanto, ele era um crítico incisivo do Partidão e tinha muitas discussões com os amigos, por ser radicalmente contra a luta armada, por exemplo. Era diretor da TV Cultura, dava aulas na USP, era casado, tinha dois filhos e não devia nada a ninguém. Tanto que se apresentou de livre e espontânea vontade para dar "esclarecimentos" aos seus algozes. Mas foi torturado até a morte, por causa de seus amigos.
Ao ler o livro Vlado, Retrato da Morte de um Homem e de uma Época, organizado por Paulo Markun, uma frase me chamou a atenção. Descrevendo Herzog, Markum diz: "Vlado não escolhia seus amigos pelo partido ao qual pertenciam".
E, justamente por não escolher amigos usando critérios políticos, foi covardemente assassinado. Não se envergonhava de ter amigos que pensavam de maneira diversa da sua ou da que os coronéis achavam correto. Eu penso da mesma forma. Meus critérios para escolher amigos não têm nada a ver com política. E minha atuação profissional não tem nada a ver com meus amigos. Quem pensa dessa forma, está compartilhando do mesmíssimo tipo de preconceito que tinham os assassinos de Vlado. Cuidemo-nos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário