quarta-feira, 2 de abril de 2014

Stones em crise

No livro Sexo, Drogas e Rolling Stones, os autores José Emilio Rondeau e Nélio Rodrigues descrevem a maior crise dos Stones, ocorrida em 1978, e que simboliza tudo o que a banda tem de maldita e genial. 
Nessa época, os Stones estavam num impasse entre seguir adiante ou terminar, devido aos desafios impostos pelo punk rock e pela disco music, que surgiam na época e ameaçavam tornar a banda obsoleta para sempre. E também devido ao vício do casal Keith Richards e Anita Pallenberg em heroína.
Com sua vida resumida à busca pela próxima picada, Keith colocou a banda numa "sinuca de bico" em sua passagem por Toronto, no Canadá, onde a polícia montada fez uma batida em seu quarto de hotel e encontrou um saquinho com 28 gramas de heroína pura e mais seis gramas de cocaína, além de uma quantidade enorme de haxixe.
A banda estava no país para gravar um disco ao vivo. Na tarde que precedeu a gravação, Keith se apresentou ao tribunal e se declarou culpado, enquanto Bill Wyman e Ron Wood corriam para comprar heroína, já que o estoque de Keith havia sido apreendido e ele não conseguiria fazer o show sem a droga, devido aos vômitos, convulsões e dores generalizadas decorrentes da abstinência.
Resolvido, pelo menos momentaneamente, o impasse em relação a Keith, o melhor seria reservado para o show daquela noite, na casa El Mocambo, de apenas 300 lugares. Na primeira fila do show, em meio à seletíssima platéia, estava a esposa do primeiro-ministro canadense, Margareth Trudeau. Apesar de ter chegado ao show na limusine de Mick Jagger, o que se descobriu mais tarde é que a mulher do primeiro-ministro do Canadá estava tendo um caso, que seria brevíssimo mas bastante intenso, com o guitarrista Ron Wood. Foi o que bastou para a imprensa inglesa, sempre atenta para farejar sangue, estampar em suas primeiras páginas manchetes como "Mulher do Premiê envolvida em escândalo com os Stones" e "A primeira-dama que fez a cabeça com os Stones".
Escândalos à parte, a demonstração de genialidade viria meses mais tarde, quando a banda lançaria o disco Some Girls, gravado em meio a toda essa turbulência. Um clássico absoluto instantâneo, que trazia a música Miss You, versão stoniana para a dance music que dominava o mundo, e diversas faixas cruas e pesadas, mostrando aos garotos punks quem ainda mandava no rock n' roll da década de 70.
Para não perder o costume, a faixa-título do disco despertaria o furor das feministas do mundo todo e principalmente do reverendo norte-americano Jesse Jackson, com sua letra "caricaturalmente misógina", como descreve o jornalista José Emílio Rondeau. Basicamente falando sobre as preferências de cada tipo de mulher, Jagger e Richards cantam em suas versos que as francesas só querem Cartier, as italianas adoram carros, as inglesas reclamam demais e as negras gostam de ser "fodidas a noite inteira". It's only Rock and Roll, baby. But I like it.




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